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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

25
Dez07

AMOR IMPOSSÍVEL

shark
Na Única, a revista do Expresso, encontrei uma história de amor daquelas dignas de filme. Uma história à americana, intensa e trágica, como os génios de Hollywood sempre dominaram e souberam espalhar pelo mundo como se vê.
Um dos protagonistas da história é precisamente um Tenente-Coronel do exército dos EUA, destacado no Iraque como tantos outros arrastados para um conflito com contornos ainda mais aterradores dos que desenham os veteranos da Coreia ou do Vietname.

Mas mesmo na guerra o amor consegue, como aquelas plantas que brotam por entre uma simples frincha no cimento ou no alcatrão, singrar. E calhou apaixonar o garboso oficial por uma médica iraquiana, uma mulher encantadora mas inevitavelmente suspeita numa zona do planeta onde até as sombras provocam temor.
Venceram esse medo com a ajuda da paixão e enfrentaram também a barreira colossal da religião que os colocava nos antípodas um do outro, naquela terra de cruzadas onde germina em lume brando um novo choque de civilizações.
O Tenente-Coronel ocidental aprendeu a amar o Islão, converteu-se sem abdicar de um outro amor, à pátria que serviu enquanto militar até ao dia do final da sua comissão.
Regressou à América casado com uma vida nova, bem diferente da que se esperaria em condições normais.

Nos primeiros dois parágrafos tento reflectir a conjugação que prendeu a minha atenção aquela história em particular. Por um lado, a dimensão grandiosa de qualquer amor tido por impossível mas que insiste em prevalecer. Pelo outro, os bizarros desígnios com que o destino molda os caminhos que cada um de nós percorre numa existência.
É impressionante constatar a escassez, a quase irrelevância da nossa capacidade de intervenção naquilo que o acaso produz.
E entro agora no terceiro elemento que me conduziu a leitura daquele texto desapaixonado, pragmático, até ao fim como espero ter conseguido fazer contigo que me lês nesta altura.

Depois de alguns anos de vida a dois, com as inerentes dificuldades que uma relação nascida daquela forma pressupõe e implica com toda a certeza, concluíram que o Iraque, berço daquele amor complicado, precisava cada vez mais de ajuda na sua recuperação como país.
Os relatos que lhes chegavam eram como gritos que incomodavam ao ponto de entenderem que a nova fé do militar de carreira, a sua posição privilegiada enquanto intérprete dos dois mundos em conflito tornava-o fundamental, precioso, para fazer a ponte por onde se pudesse sonhar com a paz que tarda a acontecer.
E ele acabou por regressar, sem ela para a poupar aos perigos de uma hostilidade inevitável por parte dos seus, e abraçou essa missão que o amor lhe dizia indispensável.
E a lógica também.

Embora ela própria se desminta, mais à que atribuam a qualquer guerra, no epílogo da tragédia que esta posta partilha à luz da minha percepção.
Ele morreu numa explosão concebida pelos conterrâneos da sua amada, quando de uma parte de si próprio abdicava para conseguir oferecer-lhes a esperança que afinal o perdeu.
25
Dez07

A POSTA QUE NÃO É CONVOSCO

shark
Recuso-me a aceitar a vossa postura careta, a vossa conversa da treta acerca dos prazeres dos outros que rejeitam apenas porque nunca os conseguiram provar.
Rejeito eu, a hipótese de acatar alguma espécie de subserviência aos objectores de consciência dos amores proibidos, os que amam escondidos como se fosse vergonha uma pessoa sentir-se feliz.

Renego a posição dos que entendem o sexo como uma coisa pequena que reduzem à versão mais obscena para poderem mais facilmente pactuar com a respectiva ausência.
Oponho-me à sua abstinência quando aplicada à força a todos quantos possam servir de mau exemplo para uma conduta irrepreensível, a que no seu entender é uma coisa impossível de tolerar nos dias em que não conseguem desabafar a sua infelicidade intrínseca que tentam passar aos outros como uma doença contagiosa ou mesmo como uma maldição.
Contrario essa vossa versão mal fodida quando apenas empata a vida a todos quantos a queiram vencer e a vitória está afinal no prazer que dela se extrai. Cada um à sua maneira, percebam como é foleira essa vossa aversão a tudo quanto evoque a tesão perdida algures num beco sem saída dos que se lamentam mas nem por isso nos sustentam a paciência infinita requerida para vos aturar os queixumes sob a forma de repreensões aos outros, os que incomodam pela diferença, ou mesmo com uma atitude mais hostil.

A agressividade latente nessa reacção urticária, beatas e beatos palermas, é coisa que reflecte apenas o desconforto que vos invade sob a influência nefasta da frustração. E deviam canalizá-la para a força na luta contra tudo aquilo que vos azeda por dentro em vez de a dirigirem para os rostos sorridentes que contrapõem as vossas carrancas cinzentas que nos infestam com castrações medievais.

Porque no fundo é a liberdade que vos incomoda, a de quem não se priva de uma boa estrada em vez de estagnar num cruzamento a hesitar, sem saber por onde seguir durante tanto tempo que se desenvolvem raízes que os agarram ao chão no ponto de intersecção entre a vontade que reprimem e a cobardia que camuflam com falsos pruridos de merda.
Com maledicência e desdém sobre o melhor que a vida tem e eles não agarram, pudibundos, enquanto definham, moribundos, à mercê das suas opções desastradas que repetem sem cessar até nenhuma outra restar que não a dos fenómenos de rejeição contra cada puta das que mostram o peito e não se dão ao respeito, vão para a cama com qualquer um mesmo que não seja nenhum porque andam assim pela rua e eles, porcalhões, perseguem-nas como cães e tudo isto faz muita confusão na cabeça da pessoa que ouviu falar do orgasmo como um pecado capital e nunca ousaria experimentar.

E eu desprezo-os e a elas também sempre que o discurso recai naquilo que as outras e os outros são capazes de fazer na tal demanda pelo prazer que só se pode considerar vergonhosa, sendo essa a única saída airosa para disfarçar a inveja recalcada.
E eu não mantenho a boca calada perante esse dedo apontado, esse dedo quantas vezes utilizado para libertar um pouco da tensão acumulada, à socapa de quem ressona a seu lado na cama, dessa postura falsa puritana que esconde muitas vezes o deboche descontrolado e por norma enviesado pelos medos e pelas distorções que só as mentes enclausuradas conseguem produzir.

Não consigo esconder a minha aversão a essa estúpida tentação para a crítica feroz aos que se libertam de alguma forma desses grilhões inibidores das paixões como dos amores e avançam pela existência sem ligarem pevas às pessoas tão parvas que nem reconhecem o absurdo inato à sua mesquinhez, à sua mania de imporem aos de fora os limites que sonham em segredo violar um dia mas esse dia tarda sempre a chegar e chega, na maioria dos casos, tarde demais para compensar a alegria que morreu numa qualquer noite fria e solitária na companhia de alguém que os ignora.

E vou seguir pela minha estrada fora sem admitir interferências ou qualquer tipo de ingerências no que concerne ao meu direito individual de me assumir irracional quando as emoções prevalecem, ou de preferir o recato prudente que sinta mais conveniente em determinada altura sem que isso sirva de pretexto para os considerandos seja de quem for.

Porque acredito que o amor, sob qualquer das suas manifestações, sejam elas para toda a vida ou fugazes paixões, não se presta ao juízo de quem pela forma de intervir, com tiradas anedóticas, prova não o possuir.

E porque estou farto de hipócritas.
24
Dez07

ENGOLIR A RAIVA ATÉ O CORAÇÃO ARRANHAR O PEITO POR DENTRO

shark
Perante o jovem vizinho bêbedo que nos confronta de forma agressiva depois de espancar a companheira que grita o medo desesperada enquanto pede a toda a gente para não chamarem a polícia.

As veias a latejarem na cabeça enquanto se constata, mais de dois metros de grade metálica de permeio, a impossibilidade física de agarrar o bruto pela nuca e aviar-lhe uma cabeçada e se vislumbra na atitude calma a única solução possível para o problema.

A incógnita da reacção na próxima coincidência à entrada ou à saída do elevador.
24
Dez07

A MULTIPLICAÇÃO DOS SILÊNCIOS

shark
No Gmail existe uma espécie de msn de bolso no qual se inclui um dispositivo que permite saber se um dos nossos contactos está acessível em cada instante. Há meses que não encontro nem um símbolo verde nesse grupo, mesmo quando poucos segundos depois de enviar um email a algum/a essa pessoa se revela, coincidência, online nessa altura.
No Hi5 o fenómeno é ainda mais bizarro. Já fui "convidado" para ser amigo de várias pessoas e aceitei uns quantos convites. Até à data nem uma palavra rendeu esse conjunto de amizades virtuais, mudas talvez por inerência.
E ainda existe o próprio MSN, onde sou em quem oculta aos outros o sinal da minha presença.

Ainda restam as caixas de comentários, nas quais parece instalar-se a moda de não responder de todo ou de responder apenas a quem apeteça.
E o email, esse antigo meio de comunicação cada vez mais reduzido a um veículo de retransmissão de paródias ou de apelos claramente fictícios?

Nunca na história da humanidade deve ter existido uma panóplia tão vasta de persianas corridas.

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