Foto: SharkHoje é dia de gastar umas coroas em flores para mostrar aos defuntos e aos vizinhos que não nos esquecemos de quem já partiu. Mas esse não é o meu filme. Gosto de flores mas se estivesse morto preferiria assistir do céu (era a primeira bola a sair do saco, eu sei que vou apanhar o elevador que desce...) a um dia feliz para os que entretanto cá ficam.
Ou seja, gosto de entender este dia como um excelente pretexto para me aproximar dos vivos sem que os mortos passem à condição de esquecidos na opção de dispensar o meu contributo para um dia feliz para as floristas deste país tão tradicional nas coisas pacóvias.
E por isso vou fazer-me ao caminho e reunir-me ao clã apenas na fase pós-cemitério e partilhar as conversas acerca dos mortos quando eram tão vivos como gosto de os lembrar, mais uns petiscos e uns copitos que tanto ajudam a avivar memórias e a ressuscitar sorrisos que o tempo deixou de nos oferecer de forma física.
Vou recordar alguns que já não posso abraçar, sem dúvida.
Mas vou acima de tudo sentir o calor daqueles em cujo olhar colho todos os ramos de flores necessários para ornamentar as campas e os jazigos que me servem apenas de ponto de referência para a imagem que a saudade acarinha.
E nessa, os meus mortos são felizes e neste dia reunem-se em família para nos observarem confortavelmente instalados nos seus maravilhosos jardins celestiais.