(Imagem recebida pela net, sem autor identificado. Processem-me...)Encosta-te aos flancos que te exponham e procura o seu calor, como quem recorre a um cobertor que se esquece depois numa qualquer prateleira quando chega o Verão.Disfarça a solidão com consolos de emergência e desliga a consciência como se calafeta uma janela para impedir o frio de se esgueirar por entre as frinchas que não consegues tapar com os corpos temporários forjados na imaginação ou seduzidos pela ilusão da imagem que crias, holograma.
Finge-te amante enquanto recebes, distante, os beijos mascarados com promessas de paixão que retribuis por obrigação sem esconderes a repugnância quando te compete decidir o comportamento a assumir perante a evidência de outro prazer que não o teu.
Executa o programa instalado na memória, o que inventa cada história que precisas de contar. As atenções para desviar da tua gritante insensatez, a mentira ponderada de uma forma descuidada que convertes numa omissão que te garante um estranho perdão interior.
Finge que conheces o amor, recitando-o pelas palavras de outras pessoas. Cultiva uma aparência apaixonada que te torne desejada pelos mais inspirados trovadores, os mais incautos sonhadores que se deixam prender pela tua fé, ateia, desmascarada pela lucidez de quem lhe testa a robustez e descobre na palma da mão os restos da borracha de um balão rebentado, demasiado insuflado pelo sopro sibilino das palavras de vento que te inflacionam a cotação.
Encosta-te à sensação agradável de te sentires desejável aos olhos das braseiras secundárias que te amornam as relações imaginárias com soluções de recurso ao longo do percurso para a velhice que um dia te surpreenderá como um amargo de boca.
Será indisfarçável então a desconsolada solidão, a manta retalhada por cada história mal contada que no fundo a compõe e a vida a deixar-se de merdas confrontando-te com o reflexo num espelho de uma ampulheta quase tão vazia como a alma que entendeste abastardar.
O reflexo de um olhar fatigado pelo esforço redobrado que se exige a quem entende o coração como objecto de manipulação, o amor como um dejecto que descartas, insensível, num momento vulnerável de cada tocha que te alumia a espaços ao longo da caverna tão escura onde sopra sibilina a brisa gelada de cada palavra camuflada com o duplo sentido que tu sabes proibido nesse caminho leviano, seco e cru, onde afinal só existe espaço para um.
E esse serás sempre tu.