Como o prova esta "iniciação" do Daniel de Sá no mundo sem perdão para os que não entendem essa diferença tão subtil, a blogosfera não tem qualquer paralelo com uma mesa de café.De modo algum farei a apologia das emoções tratadas da forma que o Daniel escolheu, mas de igual modo não crucificaria a imagem de um estreante nestas andanças sem ter em conta a vulnerabilidade dessa condição. Até porque basta o futuro para desmentir ou confirmar quaisquer pressupostos que possam colar-se ao "avatar" da mais recente aquisição do Aspirina.
Se me sinto legitimado para abordar aqui a situação, à qual sou inteiramente alheio, é precisamente porque ela é objecto de uma exposição pública. E é aqui que reside a diferença que o Daniel, cuja intenção presumo ter sido a de partilhar com os amigos virtuais um momento marcante da sua existência (como o faria eventualmente sem a mesma carga pejorativa numa mesa de café onde o tom poderia fazer toda a diferença), não teve em conta quando definiu a construção final do seu post. Foi passaroco porque se deixou, como qualquer um nos primeiros tempos de contacto com esta realidade que nos embriaga as emoções e descarta a prudência, arrastar pela convicção de que jamais seria mal interpretada a sua (para si) óbvia bonomia.
E é por isso que me sinto no direito de botar discurso a propósito de um acontecimento a que sou inteiramente marginal mas que me envolve a partir do momento em que os meus olhos o alcançam de forma impune. O Daniel de Sá é uma pessoa e por isso incorre no risco de se expor nos impulsos imponderados ou nas boas intenções tão fáceis de deturpar no formato comum a quem bloga. E eu sei do que estou a falar, solidário com a sua decisão trapalhona apesar de lhe reconhecer as enfermidades que suscitaram reacções como as que agora ficam registadas na caixa e certamente representarão para o Daniel a sua mais dura lição acerca da especificidade (e da amplitude) extremada da plateia a cujo sufrágio nos submetemos de forma bem mais directa e implacável do que aquela com que podemos contar no âmbito de uma relação cara a cara. Sem rede para amparar a queda quando qualquer espécie de dúvida se instala.
E essa é a carga que agora assenta nos ombros do Daniel autor e, por tabela, do Daniel pessoa. Na blogosfera, tão capaz de se revelar brutalmente frontal como enjoativamente hipócrita, o benefício da dúvida é uma vara de dois bicos e facilmente resvala para o estigma da suspeita. Porque fica gravado, perpetuado enquanto argumento futuro para a punição eventualmente adiada até ao próximo momento menos feliz no qual servirá imediatamente como elemento de prova para o juízo pior.
E nisso, essa memória de elefante que não se compadece com a relativização que o tempo concede lá fora às nossas calinadas involuntárias, a blogosfera é muito diferente de uma mesa de café e não concede abébias a fraquezas ou a momentos maus.
É cruel e talvez doloroso para qualquer Daniel, enquanto pessoa.
Mas agora ele sabe que no futuro deve blogar acima de tudo outro Daniel, o autor.
E esse, tenho quase a certeza que não voltará a incorrer na mesma culpa que agora lhe terá acarretado pelo menos a perda de alguma forma de inocência.
O assunto evoluíu como é costume e manifestou-se assim.