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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

31
Ago07

DO NOT DISTURB

shark
Cada um de nós possui pelo menos um episódio, uma emoção ou outro aspecto qualquer que nos embaraça perante os outros ou apenas perante nós próprios (por violar de alguma forma a nossa escala interna de valores ou o grau de exigência que nos impomos, de forma leviana e arrogante, em determinadas matérias).
No entanto, isso não nos impede de nos revelarmos (sim, arrisco a generalização) inflexíveis, intolerantes ou mesmo hostis quando os outros nos desiludem de alguma forma.

É tudo a ajudar ao desastre, inclusivamente a relativa superficialidade das relações que mantemos a medo por temermos precisamente as manifestações dessas fraquezas que a todos caracterizam. Isso mais a falta de sinceridade implícita na fuga à exposição demasiada que, quando estão em causa os aspectos que tomam(os) por negativos, é sempre garantida.
Vistas as coisas sob este prisma trata-se de uma realidade cruel. Um pouco como sermos todos deficientes motores e não perdermos uma oportunidade de achincalhar quem possua uma cadeira de rodas ou não consiga dar um passo sem enfrentar um tropeção.
Um pouco como a crueldade espontânea das crianças, incapazes de discernirem o impacto das suas atoardas nas outras a quem descobrem ou inventam um calcanhar de Aquiles qualquer.

Cada um de nós possui um mecanismo de reacção a esse binómio vítima/carrasco que enfrentamos ao longo da vida porque a vida parece ter sido desenhada mesmo assim. Ou seja, possuímos diferentes motivações (ou nenhuma que não a palermice instantânea) para agredirmos os outros explorando as suas debilidades apanhadas em flagrante, como estamos dotados de diferentes poderes de encaixe quando nos vemos apanhados no lado mais perturbador desta equação.

E sentimos como uma injustiça, esse apontar do dedo a que ninguém parece poupar-nos. E não tenho dúvidas que a essa insistência corresponde um imediato apelo de retribuição, de “legítima defesa” vingativa que afinal não passa de uma forma instintiva de equilibrarmos a parada (que boa parte das vezes só se desequilibra de forma artificial, precisamente porque não existem santos e todos temos consciência, mesmo quando o negamos, das nossas imperfeições).
E sei, por ser demasiado evidente, que boa parte da infelicidade crónica que parece ensombrar o quotidiano da maioria de nós deriva precisamente do conflito desnecessário, da quezília gratuita, do desabafo que no fundo reflecte uma forma de dor que se instala quando nos vemos arrastados para essa troca de piropos imbecil.

Não há cobardes como não existem heróis no que diz respeito à inevitável violação de muitos preceitos ancestrais que nos castram, de muitas imposições que nos contrariam e de um ror de pressupostos quem em nada reflectem a verdadeira natureza da nossa frágil e, em muitos aspectos, estapafúrdia condição.
Coisas que afinal em nada contribuem para algum de nós poder dar-se ao luxo de ser feliz sem evitar o cunho de excêntrico, maluco ou marginal. No mínimo somos tidos como inadaptados a essas regras de conduta falsas moralistas que nos traem quando impõe algo que não devíamos ser forçados pela vida (pelos outros) a engolir.

Há dias em que oscilo entre a vontade de chocar (de acordar, soa melhor) as pessoas com o excesso de zelo na minha rebeldia perante algumas convenções ou, em alternativa, a necessidade de gritar ou demonstrar a falta de pachorra de aturar o (que às vezes parece o) mundo inteiro na sua flagrante estupidez colectiva que, reconheça ou não, me inclui na sua exibição diária.
Precisamente pelo mesmo motivo que imputo aos outros o desconforto que me provocam com as suas denúncias da minha imperfeição e acabo cedo ou tarde no mesmo lado dessa vala onde vamos entrincheirando a simplicidade, a espontaneidade, a liberdade pura que deveria imperar em cada (raro) impulso nosso para a interacção.

Há cada vez menos dias em que anseio pelo toque de uma campainha, de um telemóvel ou qualquer outro sinal da existência dos outros e da minha presença nas suas intenções de partilha.

E há cada vez mais dias em que apenas me apetece fazer de conta que não estou.
31
Ago07

SUPPER'S READY

shark
last meal.jpg
O copo sobre a mesa, vazio.Ao lado o guardanapo inútil, sem qualquer canto de boca para servir.
Os talheres, reluzentes, ladeavam imóveis como sentinelas o prato cujo conteúdo arrefecia à mercê da brisa gelada de uma noite invernosa.
A janela aberta para entrar o som mais esperado, sempre adiado pelo logro da expectativa que adicionava mais um pedaço de certeza a uma provável desilusão.
As velas compridas acabadas de acender.

O copo sobre a mesa, cheio de ar.
Mesmo ao lado o pano trabalhado nas bordas pelo escopro talentoso em que se transformava a agulha de uma avó, desnecessário, ostensivo, patético perante a cadeira vazia onde alguém tardava a sentar.
Os talheres, indecentes, prata de lei cuidada tão desperdiçada assim. A falta de uso repetida em cada uma das ocasiões previstas, especiais, perfilados, alinhados, na perfeição simétrica à altura de um prato integrante do serviço impressionante que em tempos fizera parte de um ambicioso enxoval.
A janela aberta para entrar a esperança cada vez menos arejada no peito anfitrião. A dificuldade na respiração, entrecortada pelo crescendo de um soluçar reprimido perante o avanço implacável dos ponteiros sobre o momento da desistência que se repetia e depois desistia de si própria a cada som que a noite gelada inventava para enganar.
As velas que brincavam às sombras chinesas nos extremos da mesa quando balbuciavam, desequilibradas pela brisa, os seus últimos suspiros de luz.

Tempo demais.

O copo sobre a mesa, vazio outra vez. Tombado sobre um guardanapo inútil, bordado pelas mãos infatigáveis de uma anciã muito chorada no dia em que o mundo a perdeu. Amparado pelo garfo na queda, inevitável o desalinhamento com a borda do prato partido em dois.
A janela fechada na cara do frio, a sensação de vazio preenchida aos poucos pela raiva alimentada em tantas noites iguais.
As velas, o seu coto, apagadas pelo sopro quente e irado de uma alma em ebulição, transtornada, a garrafa despejada vezes sem conta naquele copo absurdo até explodir na parede quando a sua utilidade se extinguiu.

E a faca de trinchar, feita de prata, tão afiada?

Entretanto desapareceu...
30
Ago07

A POSTA SÓ PARA ALGUNS

shark
Para quem costuma contactar-me pelo email do Yahoo informo que essa caixa está desactivada, não a consulto e devem sempre dirigir o correio electrónico para o email associado a este blogue (sharkinho at gmail.com) que passa a ser o único que utilizarei.

Depois não digam que não foram avisados/as... :-)

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