Nem sei se isto é uma característica da maioria mas gosto de acreditar que sim. Dou menos valor a uma vitória suada do que a uma conciliação bem sucedida. Daqui não se pode concluir que me agrada perder nem que seja a feijões. De todo. Mas aceito o empate como um resultado decente por comparação com uma vitória que presume sempre o meu génio mas igualmente implica o aproveitamento de uma falha ou fraqueza de alguém.
A conciliação é um resultado sempre positivo porque mesmo que ninguém ganhe ninguém sai perdedor. E ambas as partes do conflito de interesses podem gabar a sua mestria na difícil arte da diplomacia que, doa a quem doer, ainda é o que nos vai salvando os couratos no contexto de um mundo entregue a líderes marados e suas tendências belicistas. O mesmo se passa no microcosmos de cada um de nós. E se existissem conflitos insolúveis ainda andávamos à trolha com os espanhóis Quem vai à guerra dá e leva e nem sempre a balança pende para o lado que nos serviria melhor. Mesmo quando ganhamos (ou apenas saímos da refrega com alma para alimentar essa ilusão). O vencedor, se pessoa de bem, acaba por lamentar os estragos provocados no oponente destroçado e a este último só restam desculpas de circunstância (a honra, o brio, o orgulho, a vitória moral) para atenuar a conclusão óbvia de que mais valia ter procurado uma solução consensual.
Não há volta a dar, julgo eu, do ponto de vista lógico. E por isso mesmo, apesar de refilão e aparentemente agressivo, predomina sempre em mim a vontade de solucionar os problemas pela via do diálogo e da inteligência necessária (ou a possível) para encontrar um ponto satisfatório de impasse. Esse impasse é o momento crucial, no qual as pessoas podem avaliar ganhos e perdas e, quando a sensatez prevalece, dar o conflito por sanado. Sem que alguém necessite de sair do assunto com mazelas evitáveis e com o amargo sabor de uma perda qualquer que talvez pudesse ter sido evitada.
Isto não tem nada a ver com dar a outra face a quem nos esbofeteia. Ninguém conte com a minha costela apostólica romana para evitar o troco na hora. Mas depois, quando temos que decidir entre o empate negociado ou o murro bem dado que abre caminho para a zaragata sem controlo surge o tal impasse que faz toda a diferença. Ok, tu deste-me e eu dei-te a seguir. Agora vamos lá tentar perceber se ficamos quites assim ou se é preciso mais uns piparotes ou umas beijocas (isto em sentido figurado, claro) para arredondar as contas de forma mais justa.
Isto é uma versão caricatural, mas aplicada a casos sérios pode revelar-se decisiva para uma mudança de rumo benéfica para as partes envolvidas num diferendo qualquer. Só um burro não entende que algum benefício é melhor do que uma perda garantida e esta acontece sempre, mesmo ao vencedor. Porque resulta sempre má onda. Ou porque aquele que ganhou é um malandro porque abusou do poder e foi longe demais (coitado do que perdeu), ou porque o que perdeu ainda deu umas caneladas valentes e o outro pelo menos essas não as levava, ou apenas pelas repercussões externas que acabam por se virar quase sempre contra a imagem dos contendores (quem está fora nem sempre racha lenha...).
É uma porra, mas parece-me que é mesmo assim. E por isso cedo, mais do que julgam, ao apelo da concórdia e da resolução ponderada quando me vejo envolvido numa escaramuça. Ou pelo menos nunca coloco de lado essa hipótese remota de dar a volta a bem, mesmo que isso implique uma espécie de paz podre, fragilizada pela porrada que entretanto se desenvolveu ou até condicionada apenas a uma trégua temporária que permita respirar fundo e (porque não?) pensar.
É que em qualquer tipo de guerra ninguém tem tempo de assentar ideias enquanto zunem as balas e se faz sentir bem alto o fragor dos canhões.
Ver anónimos às turras uns com os outros numa caixa de comentários. Sobretudo quando as suas intervenções denunciam que sabem com quem estão a falar, deixando-os na triste figurinha de falsos mascarados (o que acrescenta o ridículo à cobardia implícita).