Foto/Imagem: SharkNum único noticiário dei conta de três indicadores óbvios da viragem portuguesa para uma forma de ser e de estar que me repugna.Factos aparentemente isolados e sem qualquer relação entre si constituem os sinais preocupantes da lenta agonia lusitana rumo à opção mais triste, a da má onda.
Este ponto de vista, vindo de um gajo que afirma amar a Pátria sem recear de todo o uso do termo e os rótulos associados a quem não alinha em perdas de identidade do seu país em abono de uma uniformização europeia (ou mesmo ocidental) que a longo prazo nos descaracterizam e podem acabar por destruir como Nação, pode soar estranhamente derrotista.
E a linguagem será excessiva, pelo menos à luz do retrato presente do nosso território e do povo que o ocupa, mas vou tentar justificar-vos a minha posição com base nos tais indicadores de que falei a abrir.
Quatro dos cinco maiores bancos portugueses entenderam aplicar multas a quem se atrase mais do que cinco dias a liquidar a prestação do seu crédito à habitação. Só o BES resistiu a esse apelo merdoso de enterrar ainda mais a imagem desta banca vampira e a situação angustiante de muitas famílias apanhadas pela crise que ninguém parece conseguir inverter.
O execrável Ministro da Saúde, símbolo perfeito da chusma careta que vai tomando conta de Portugal, provocou mais uma vítima da sua falta de sentido de humor.
Por causa de uma alusão a um facto verídico, criado por uma das várias intervenções infelizes desta criatura saída de um baú poeirento para infernizar as existências alheias.
Qualquer pretexto serve para punir pessoas e instilar a lei da rolha com base no medo que tanto agrada ao poder prepotente que só aos caretas serve e agrada.
O B.Leza encerra hoje as suas portas. Não por falta de clientes, não por falta de dinheiro para o manter em funcionamento, não porque alguém se tenha queixado de algum aspecto negativo associado à sua presença ali prás bandas do Conde Redondo.
O B.Leza, um ícone do lado mais divertido e saudável da noite lisboeta, vai fechar porque os proprietários do imóvel entenderam vendê-lo a quem o pudesse transformar num condomínio de luxo.
Estes três exemplos da caretização que se vai aos poucos instalando sisuda sobre os cantos das bocas de quem prefere sorrir são uma gota no oceano de opções bafientas que nos retiram aos poucos a alegria de viver.
É um exagero?
Quem tem a coragem de afirmar na minha cara que é justo permitir a um banco uma punição suplementar a quem se atrasa num pagamento por falta de condições para o efectuar? É preciso ter a noção do que isso implica de desumanidade, essa atitude implacável num país gabado pela sua moderação relativamente a outros expoentes deste capitalismo cada vez mais selvagem e desapiedado.
E eu não concordo com estas exibições foleiras que o poder financeiro protagoniza cada vez mais.
Da mesma forma rejeito em absoluto pessoas, mais ainda governantes, capazes de protagonizarem episódios como o que o Ministro Correia de Campos acumula na sua infeliz passagem pelo poder.
É um cara de pau, mesquinho, intolerante. É uma pessoa sem perfil para nos representar num executivo em condições e instila na governação uma suave fragrância da prepotência hostil que a Revolução alegadamente extinguiu.
E quanto à catedral lisboeta do ritmo africano, independentemente da legitimidade (ou até da necessidade) de quem permitiu esta substituição dos sons alegres de quem se divertia à grande pelo silêncio careta do dormitório de nível superior, o sinal transmitido é o do fim de quase tudo na capital do país que possa representar uma forma de prazer que incomoda a dinastia careta.
Recordo o Parque Meyer, a Feira Popular, a Praça Sony, só para citar alguns dos outros espaços extinguidos pela cobiça imobiliária e sua ligação próxima com o poder que cruza os braços perante esta acumulação de atentados à nossa alegria de viver.
Não reconheço nestes exemplos o país a que me orgulho de pertencer e que gostaria de ver evoluir no sentido do que entendo por agradável. Uma realidade colectiva não se constrói à custa da maioria, em função das necessidades e/ou caprichos dos que possuem nas mãos as rédeas de uma chefia qualquer.
Aflige-me mais do que qualquer indicador, esta inclinação progressiva para uma forma de fazer as coisas que privilegia os critérios financeiros ou políticos em detrimento das pessoas e da felicidade que se presume tratar-se do mais óbvio objectivo deste nosso espaço comum.
E vamos ver se o tempo me dará ou não a razão que prefiria não ter.