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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

28
Mai07

A POSTA NO KETCHUP

shark
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Blog com Tomates parece-me uma designação que não encaixa mal, aplicada ao charco. Isto se tivermos em conta a definição de quem engendrou o conceito, a Brit Com, da seguinte forma:
Considero um blog com tomates aquele que luta pelos direitos fundamentais do ser humano.

E a Emiéle achou que o Charquinho enfiava bem a carapuça e agora, dentro do espírito da coisa, compete-me nomear os cinco espaços que considero enquadrarem-se melhor nesta definição.
E a tarefa é mais fácil desta vez, pois a nomeação depreende um critério que não depende da ligação afectiva a quem bloga mas sim à análise das características do seu trabalho.
Isto soa-me muito mais razoável e oportuno do que os costumeiros pretextos para lincar a malta amiga, mesmo que seja fácil adivinhar esse pendor na maioria das nomeações.

Seja como for, e porque a iniciativa me merece o reconhecimento da diferença acima (a isto somando o facto de a nomeação do charco ter origem na que considero um dos símbolos mais representativos da blogosfera portuguesa, nomeadamente no sector feminino da coisa), vou alterar o meu hábito neste domínio e dar sequência à corrente que tem crescido de forma exponencial.
Nomeio e explico porquê, como segue:

Bitaites – Quando decidem falar contra o que está mal fazem-no de forma acutilante, inteligente e sem meias-tintas. E esse estilo soa-me eficaz na defesa de quaisquer direitos.

Troll Urbano – Basta a presença da minha ex-colega afixadeira Isabel Faria (parabéns pelo 32º aniversário!) para garantir que os direitos, liberdades e garantias constituem uma prioridade de qualquer blogue. Mas o resto da equipa também possui tradição nessa matéria.

Faz de Conta – A Jotapê já foi nomeada por alguém, mas eu insisto nessa tecla. Porque não tem papas na língua no momento de arriar a giga e o seu espaço reflecte uma preocupação com os temas enquadráveis no âmbito da definição que justifica este prémio.

Ponto sem Nó – É fácil desmentir quem pense que esta nomeação se fundamenta apenas na minha ligação próxima à Mar. Basta convidar esse alguém a dar uma vista de olhos ao Ponto e não será difícil encontrar as palavras (e os “tomates”) que justificam as ideias que a nomeação em causa representa. E este gesto, por inerência.

Pópulo – Não sei se isto viola as regras da coisa e se sim, paciência. Mas nunca hesitaria em apontar o blogue da Emiéle como um dos exemplos indispensáveis do que considero um verdadeiro Blog com Tomates.
Mais do que um exemplo constitui para mim uma referência.

E ficam assim entregues as "estatuetas" (talvez uma réplica dourada dos caixotes de madeira onde expõem a mercadoria nas mercearias), esperando o je que o Charquinho continue a simbolizar os elevados valores que esta distinção premeia, blá blá blá, e agradeço ao realizador, ao produtor, à vizinha de cima, blá blá blá...
27
Mai07

OLHOS FECHADOS

shark
Sentiu-o pela primeira vez numa festa e perdeu de todo a vontade de festejar.
Decidiu ignorar esse sinal, relegando-o para o dormitório dos sobressaltos sem explicação onde repousam essas preocupações fugazes e por isso mesmo encaradas como secundárias.
Viveu uma vida normal, apesar da sua sensibilidade anómala, exagerada, até ao dia em que o voltou a sentir.
Na sala de espera de um hospital onde deixaria internada em definitivo a sua capacidade de estar próximo de outras pessoas.
Era um indivíduo discreto, embora de trato agradável e sem problemas de integração. A única excepção ocorria quando se manifestava a sua natureza susceptível, sobretudo quando se via exposto a cargas emocionais mais intensas.
Lidava mal com o excesso de emoções e por isso refugiava as suas numa postura de aparência distante e reservada que o poupavam à partilha das emoções dos outros e às partidas que a sua pudesse pregar-lhe.

Receava sentir por julgar que isso poderia levá-lo à loucura um dia, tamanha a repercussão dos sentimentos dos outros, apenas os piores, na estrutura frágil que albergava os seus que o pressionavam sem cessar.
Como vozes interiores, mas caladas. Mais como olhares expressivos demais que lhe diziam tudo o que jamais quereria saber e o agrediam de cada vez que se abriam como janelas sobre a alma de alguém.

E ele fugia aos poucos dos muitos que o perturbavam nessa perspectiva, buscava os indiferentes, os ausentes ou os mais frios que conseguia encontrar.
Foi conseguindo viver assim, numa luta contra o tempo que restava no pensamento que sentia fraquejar. Um sacrifício pensar, os seus olhos teimosos que enchiam de imagens a mente que as convertia depois em dolorosas sensações que o dilaceravam, emoções que ultrapassavam o limite da resistência à dor que tanto nascia de um grande amor como de uma tragédia passada.

A sua ou as de outras pessoas que o feriam com a tristeza reflectida num olhar. Cada vez pior, à medida que o tempo passava e o mundo se transformava num viveiro de infelicidades adubadas pelas mais absurdas motivações.
Envelhecia prematuro perante o horizonte tão escuro nos corações da maioria, a multidão que nesse dia o apanhou sem alternativa de fuga.
À espera da tão adiada consulta de urgência que aguardava na lista de espera de uma especialidade cada vez mais sobrecarregada pelos desequilíbrios em constante mutação nos sintomas como na bizarria das suas manifestações.

A ele tocava-lhe aquela, a sensibilidade às mensagens transmitidas pelos olhares das outras pessoas. Ensandecia, enquanto a sua visão percorria um a um os sentires dos pacientes que o rodeavam.
O rapaz que se revoltava por algo que não conseguira ainda obter, o velho zangado por algo que tinha obtido mas perdera depois.
E ao lado dos dois uma mulher desesperada com a morte traçada num diagnóstico confirmado pela segunda opinião. Um homem calado, na outra ponta da sala, de olhar perdido no vazio da solidão interior que o emudecia enquanto se evadia de uma culpa penitenciária para uma loucura que equivalia ao perdão divino, eterno, que apenas no céu poderia encontrar e já não conseguia esperar pelo momento de lhe encostar, a esse céu mesmo à mão, a arma de caça carregada com uma anestesia final.

Era com esse que mais se identificava, o que mais acentuava a sua preocupação com a estranha evolução do seu problema ainda por identificar pela ciência rudimentar que estudava a cabeça das pessoas.
Conversa de treta e uns comprimidos indutores da estupidificação, cobaias voluntárias em experiências aleatórias de cientistas condenados a pouco mais do que uma bola de cristal para acertarem nas suas previsões.

E ele sozinho no meio de tanta gente incapaz de calar sob as pálpebras a agressão latente da sua perturbação específica. Numa câmara de tortura individual, construída em segredo pelo cancro do medo nas traseiras das células mais sedentas de crescer porque o tamanho confere poder e a morte de um cobarde não angaria nos outros a vontade de o chorar no momento do fim.
E ele sozinho a senti-lo germinar a cada impacto de um olhar revelador.

Acabaria por fugir antes do seu nome soar nos altifalantes fanhosos.
Preferiu a deserção para o degredo da solidão onde poderia escolher a melhor forma de sucumbir à demência.

Preferiu a inconsciência à sanidade cruel e optou por vestir a pele de um eremita.
Ainda hoje habita num monte isolado, esse homem derrotado pela força temível de uma dor impossível de ignorar.

O brilho ausente no reflexo descrente do seu próprio olhar.
26
Mai07

MINAS E ARMADILHAS

shark
Se morrerem atropeladas meia dúzia de pessoas num dado ponto de qualquer estrada e num intervalo de tempo reduzido talvez nem seja necessária a pressão da opinião pública para que o poder intervenha, impondo as condições de segurança que o número anómalo de fatalidades prova não serem as ideais.
Quer isto dizer que as conclusões obtidas a partir de uma relação causa (falta de segurança)/efeito (estatística elementar) bastam para que toda a gente actue por ser evidente o nexo de causalidade para a excessiva fatalidade em comparação com a de outros locais.
Sem necessidade de estudos que o comprovem.

Já morreram cerca de noventa trabalhadores das explorações de urânio na zona de Nelas e entre os sobreviventes existem muitos que padecem de complicações do foro oncológico. É simples, trabalharam demasiado tempo em contacto com substâncias radioactivas e sofrem as terríveis consequências.
Não é preciso ser particularmente inteligente para somar dois e dois. A percentagem de pessoas afectadas por este tipo de problemas é tão mais reduzida noutros pontos do país e noutras actividades profissionais que é elementar a dedução acerca da origem desta mortalidade anómala na Urgeiriça.

Contudo, o Delegado de Saúde da zona dá a cara pelos “estudos” que não permitem provar a ligação entre o contacto com a radiação dos minérios e a proliferação de doenças cancerígenas na massa laboral das minas. E são esses estudos que negam às pessoas afectadas a natural compensação, o apoio que o assumir de responsabilidades implicaria para atenuar um castigo já de si injusto e quantas vezes fatal.

E onde quero eu chegar com isto tudo?

À manifestação da minha incapacidade para entender esta dualidade de critérios.
25
Mai07

MIRAGEM SUL

shark
areia.JPGFoto: Shark
Um Ministro muito brincalhão mas sem jeito nenhum para analogias disparou uma imbecilidade a propósito de uma zona do país, em mais um capítulo patético da defesa desesperada do aparentemente indefensável.Alguma oposição, também afamada pela produção de humoristas no poder, exigiu de imediato a demissão do fulano.
Outra oposição pretende um “pedido de desculpa” pela ofensa de chamar deserto a uma região que o Presidente da Câmara do Seixal afirma ter sido “prejudicada no seu bom nome” (?).

É a baixa política que se faz neste palco árido de ideias e tão ressequido pela falta de elevação.

O deserto não está na margem sul, mas em ambos os lados deste leito seco de um rio onde nós todos, os camelos que sustentam estes nómadas do tacho, cada vez menos acreditamos possível encontrar algo de jeito para beber.

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