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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

29
Mar07

ZONA DESMILITARIZADA

shark
Vestir uma couraça que a dor não trespassa, impermeável à água e ao sal que a podem corromper. Lágrimas a verter da nascente que secou, imaginárias. Lágrimas das memórias de dias em que faria todo o sentido chorar.

Colete à prova de balas que podem ser palavras apontadas ao coração. Palavras como fechas, na ponta um espigão. Invulnerável à carta armadilhada em cada resposta desleixada, em cada repetição do atentado que deixa estropiado o pressuposto da confiança que oferece a segurança na qual deixamos de acreditar.

A resistência de uma armadura, o desconforto que perdura para lá da inevitável reconciliação. A benesse de um perdão que funciona como lenitivo, adiamento do sofrimento que cedo ou tarde acabará por sobrevir.
E tentamos reagir, fortificados na razão que nos assista, um bastião que resista ao colapso em câmara lenta da ponte levadiça que antes estendíamos sobre o fosso que pessoa alguma consegue transpor.

A força do amor (próprio), aliada ao instinto de sobrevivência emocional. A protecção total da sensibilidade atacada em cada resposta desleixada ou na evidência da nossa irrelevância nos contextos alheios.
A trincheira da salvação, escavada por cada batalha travada quantas vezes em vão. A última linha de defesa contra o assalto da incerteza, a linha que mantém a ligação pendurada por um fio, do outro lado o silêncio ou a reacção hostil.

A derrota necessária da utopia que se reergue mais tarde, reforçada pela lição estudada dos pontos mais frágeis da sua construção.
E adicionamos um canhão no veículo blindado, avançamos para qualquer lado com espírito ganhador.

As palavras de amor, munições devastadoras, palavras demolidoras que penetram as defesas mais sólidas e as melhores intenções.

Avançamos para a conquista da praça forte, desafiamos a sorte quando insistimos: “és tu!”
E depois confiamos a vitória à fragilidade de um corpo nu…
28
Mar07

ASSIM NÃO PINTO!

shark
Gostava de ver no episódio apenas o lado “tia” da coisa e relegar o assunto para o domínio do humor, “ah, porque nos tempos do PREC a malta do PC e do MRPP fartava-se de andar à porrada e ninguém morria nem desistia da militância” (o que, à época, era quase a mesma coisa).

Gostava, até porque aconteceu no seio de um partido que não aprecio de todo. Mas não posso.

Não posso, porque o abandono da militância e também do mandato de Vereadora na Câmara de Lisboa indicia uma reacção de absoluta descrença por parte de alguém que se deparou na política com algo que é mais vulgar acontecer no futebol.
Maria José Nogueira Pinto é uma das poucas mulheres que logram chegar a lugares cimeiros na hierarquia partidária. É uma das poucas pessoas capazes, à direita como à esquerda, de virar as costas a uma vida pacata (que a sua condição financeira e prestígio acumulado certamente permitiriam) e enveredar pela (agora literalmente) luta corpo a corpo com a tradicional falange masculina sempre tão hermética na sua composição, para participar de forma activa no processo democrático.

E agora fartou-se, como se fartariam outras/os no seu lugar perante os tristes factos que são do domínio público. E deixa um péssimo rasto em matéria de motivação para que outras pessoas capazes se queiram meter na mixórdia.

E deixa-me a estranha sensação de desconforto por de alguma forma temer que deste tipo de situações a Democracia saia sempre a perder.

Em mais do que um aspecto.
28
Mar07

A POSTA NAS COISAS PEQUENAS

shark
O respeito e a consideração costumam andar de mãos dadas no seu passeio pelas nossas interacções. O facto de respeitarmos alguém acarreta sempre alguma consideração por essa pessoa. E não é possível alegar consideração alguma quando o respeito está ausente deste binómio.

Quando involuntariamente magoamos ou insultamos alguém com as nossas intervenções, o respeito e a consideração recomendam-nos ambos um pedido de desculpa sincero e sem “contudos” (empurrando uma qualquer carga pejorativa para cima da pessoa em causa, para atenuar a nossa culpa “partilhando-a”).
Se a quota-parte do respeito é fácil de identificar, demonstramos que respeitamos pelo não renegar a nossa responsabilidade no sucedido como pela humildade (renegada pelos tais “contudos”) que tal gesto implica, já a consideração é mais difícil de ter em conta quando não existe ou é apenas teórica.
É que o alheamento à sensibilidade de alguém, devidamente manifestada ou mesmo apenas por nós interpretada a partir de alguns sinais, demonstra uma de duas coisas: a frieza necessária para ignorar o “problema dos outros”, o “estar-se nas tintas”; ou a futilidade da consideração de treta que se expõe nestas alturas (que vai dar exactamente ao mesmo).

Se a estes aspectos somarmos a arrogância implícita na recusa a darmos o braço a torcer de uma das duas formas possíveis (reconhecendo o erro sem o minimizar e/ou acrescentar à outra parte mais um ónus qualquer ou, em alternativa, “dando-se às boas” para tentar reparar/compensar o mal feito), temos em mãos um problema quando fazemos parte de qualquer um dos ângulos desta embrulhada.

São pequenos nadas, estas coisas que podem passar-nos ao lado sem mossa mas podem igualmente originar uma interminável reacção (de choque) em cadeia que, em última instância, pode destruir qualquer tipo de relação.

Mas são os únicos indicadores fiáveis das realidades que sempre nos sentimos tentados a escamotear.
28
Mar07

LIFECRAZE

shark
Nesta altura, o Lifecraze vive o que será provavelmente o pior momento da sua história enquanto blogue colectivo. A perda trágica de um dos seus elementos (Youandme) constitui um golpe difícil de superar, pois nada tem de virtual.
Contudo, e precisamente porque entendo que a melhor forma de homenagear um blogueiro silenciado é dar-lhe as nossas melhores palavras, decorar o espaço da sua ausência com a nossa mais forte presença e continuar a vida tal como a deixou, entendi não adiar (antecipei) esta recomendação para que conheçam mais um espaço que linca o charco e conquistou a minha visita habitual.

Espero que no Lifecraze sintam esta posta como um abraço caloroso, tanto como um empurrão daqueles que se dão para embalar o inadiável regresso ao caminho que nos compete traçar.

Em especial nestas alturas.
27
Mar07

A POSTA AO ALMOÇO

shark
um tasco muito baril.JPGFoto: Shark
Almoço quase todos os dias num daqueles sítios que o progresso quase exterminou. Um espaço cheio de cromos, gente a sério que (alguns há vinte anos) abanca por ali.É uma sorte poder almoçar num espaço assim. Sem truques, sem tretas, sem outra coisa para oferecer que não o prazer de comer tão bem ou melhor do que em casa.

Queres mais batatas?E um gajo diz que sim se lhe faltam ou recusa na boa, tal como aceita sem protesto aquilo que o “patrão” entenda servir-lhe nesse dia.
Hoje há dieta!E lá aterra na mesa uma travessa king size com um generoso cozido à portuguesa.
Isto tá fraco. Levas com os nitrofuranos.E o frango na grelha é prato do dia porque na lota a Maria não tinha peixe como deve ser.

O bacalhau à segunda, pela praça fechada. E os vinhos escolhidos a dedo pelo anfitrião que gosta de impressionar. Os queijos de fabrico caseiro, a fruta de encher o olho, a arte na grelha com décadas de refinação.
O respeito quase septuagenário pela tradição, contra todos e contra tudo o que ameaça fechar-lhe a porta. As normas que lhe estrangulam o escasso futuro que ele se esmifra todo para prolongar.
Milho aos pombos é que não!
Um tasco clandestino, na verdade uma cantina. Sempre os mesmos de ontem nas poucas mesas ocupadas amanhã. Sempre o futebol, clientela masculina, mais os escândalos do dia que a televisão anuncia nos poucos momentos em que alguém lhe presta atenção.
Os miminhos do patrão e mais ainda de quem o ajuda, de borla.
Os dramas do dia-a-dia de pessoas como qualquer um de nós. Sem papas na língua que as zangas resolvem-se com dois dedos de conversação. Não há segredos na comunhão de um ritual que é confissão por inerência, no corte da casaca cheio de boas intenções aproveitando uma ausência pontual.

O café de encerramento, um lote especial. Dois dedos de conversa, a notícia que interessa acerca dos dias que a vila viveu, actualizada a informação e complementada a conclusão que se depreende das expressões ou dos tons.

A conta e até amanhã, se a norma e a normalização não empurrarem o patrão para um final abrupto da carreira na qual toda a sua vida investiu.

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