Fazer planos é algo que só conceberia na óptica dos assaltos a bancos. E mesmo aí, tenho a nítida impressão que me acharia estúpido por dedicar (boa) parte dos meus dias a estudar meticulosamente um passo a dar, no mínimo, uns dois anos depois.
Parte de vós que me lêem poderão agora interrogar-se como posso eu saber quanto tempo é o razoável para planear tal coisa e eu lamento deixá-los na expectativa.
O cerne da questão é mesmo a onda dos planos, assim tipo aqueles contos de fadas do o que vou ser quando for grande? e do se me saísse o totoloto fazia isto e aquilo. Porque o são, quase todos. Por inerência, na arrogância de nos presumirmos vivos e cheios de saúde daqui a não sei quantos dias ou semanas até. E por ingenuidade, pois nunca incluímos nos planos os factores variáveis, os imprevistos que nos apoquentam nos momentos menos adequados e nos alteram o esquema por muito bem pensado.
Claro que é importante como factor de orientação, pelo menos julgo que o será para os mais atinados de entre vós, mas não passa de um tiro no escuro. Tanto mais fora do alvo quanto maior for a complexidade da previsão. E a distância no tempo dos factos planeados.
Fazer um plano equivale a uma leitura míope da bola de cristal. Sem óculos. Uma pessoa senta-se diante de um bloco de apontamentos e diz para si própria: vejo no futuro um fim-de-semana sensacional com uma gaja interessante e boazona. Ou vice-versa, tanto faz.
E uma pessoa desata a verificar o saldo do crédito nos cartões, as reservas disponíveis num hotel (ou em alternativa as limpezas de última hora no apartamento do caos), a limpeza a seco do casaco mais baril, onde deixar o cão, meter gasolina no carro, encontrar um miminho quebra-gelo para encantar a dita gaja boazona (ou vice-versa outra vez, que os factos assentam na mesma).
Isso mais uma série de previsões, conjecturas e outras bruxarias bué optimistas mas condenadas ao fracasso potencial por causa dos tais filhos da mãe de contratempos que nos apanham mesmo com as calças pelos joelhos e sem hipótese de refazer o esboço tão em cima da hora. Cada plano uma bem possível desilusão, mesmo os de curto prazo.
É tão realista expor as debilidades de uma vida planeada em função de calendários fantasma, os tais dias encaixados numa lógica vidente e falível, como aceitar o planeamento pessoal enquanto indispensável para a tal orientação a que muitas pessoas se obrigam.
Eu confesso a minha inépcia como planeador. Prefiro ir fazendo a coisa em doses pequenas, o que farei daqui a uma horita ou duas. Adoro surpresas, situações espontâneas e acima de tudo coisas que de facto acontecem tal como (e quando) as queria e não porque é naquele dia que tem de ser. Estava marcado. Com antecedência. Logo para o dia em que não adivinhei a entorse marada, a enorme gripalhada ou a simples falta de tempo () que não planeia a hora de se esgotar.
Plano sim acima da esmagadora maioria das horas investidas em planeamento seja do que for.
Mesmo que às vezes dê com a cabeça no vidro do planador, quando aterro no solo firme das surpresas desagradáveis que uma vida sem planos nos pode oferecer.