Há muito tempo que não pousava a vista num jornal desportivo.
De resto, o meu divórcio com os jornais desportivos começou quando topei a panelinha de silêncios comprometedores que denuncia uma relação pouco saudável entre os jornalistas e o lado sórdido dos bastidores do futebol.
Ainda assim, retive alguns tópicos que no meu entender prenunciam o fim do fenómeno futebolístico em Portugal tal como o conhecemos até agora.
O Miguel Sousa Tavares, insigne adepto do FCP, deixou cair o dragão-mor. Sugere até o pedido de demissão de Pinto da Costa.
Coerente e louvável.
Um juiz daqueles que tiveram a desdita de se deixarem atrair para um mundo que sistematicamente os conspurca revelou, na sequência do episódio Carolina, que uma jornalista serviu de pombo-correio para uma ameaça velada por parte de um árbitro internacional ainda no activo.
De acordo com o juiz, cujo nome me escapa, estaria em causa um tratamento semelhante ao aplicado a um autarca de Gondomar que fala demais.
O silêncio é de ouro no decrépito planeta do futebol de tasca.
Ainda nA Bola encontrei um trabalho meritório do Delgado (um dos futebolistas menos matarruanos que passaram pelos relvados portugueses nas duas últimas décadas) acerca da agonia aritmética dos nossos estádios.
Diz ele que nem chegou a trinta mil o número de espectadores que assistiram ao vivo a um total de oito partidas da última jornada da Liga. E mais: o jogo mais presenciado do campeonato nacional teve pouco maior assistência do que o menos frequentado do campeonato escocês.
Levantam-se diversas questões de imediato, nomeadamente de onde virá agora aquilo com que se compram os (caríssimos) melões que o futebol movimenta.
Se não é das receitas de bilheteira, só pode vir da alienação do património dos clubes e da publicidade (televisiva).
Junte-se estes dois ingredientes e some-se o impacto devastador de um estádio vazio no empenho dos protagonistas e temos a receita ideal para equiparar num futuro próximo o futebol português ao voleibol de praia.
E tanto estádio xpto que o Europeu nos ofereceu
Mas o tema futebol também atraiu a minha atenção quando, durante a minha hora de almoço, reparei que o noticiário da RTP (o alegado serviço público de televisão) estava a dar muito mais tempo de antena ao desporto rei do que se justificaria numa quarta-feira sem competições intercalares (demasiado distante dos jogos já disputados e dos ainda por disputar).
Tentei perceber que tipo de assunto encheria o chouriço na dinâmica pimba que os telejornais vêm assumindo (fait divers, futebol e, a fechar, a inevitável passagem de modelos ocorrida algures excepção feita aos primeiros dias de cada ano onde levamos sempre com imagens do fogo de artifício de Sydney e de Tóquio).
E percebi. Fiquei a saber que Portugal é um país tão desinteressante do ponto de vista da cobertura noticiosa que a RTP teve que nos informar que o Aloísio, um futebolista brasileiro que representou o Futebol Clube do Porto há não sei quantos anos atrás, é o novo treinador do Vila Meã.
Do Vila Meã, imagine-se. Ora, se o Aloísio já arrumou as botas há tempo suficiente para ser tão relevante como o Seninho ou o Teófilo Cubillas não é ele o enfoque da notícia.
Por outro lado, o Vila Meã, certamente um clube cheio de mérito mas pertencente aos escalões secundários do futebol luso, não constitui nestes dias um foco de atenção da audiência televisiva (mesmo a que liga alguma importância ao futebol). Também não é por aí que se mobiliza uma equipa de reportagem
Então o assunto só pode ser o FCP, o clube que o tal Aloísio representou ao longo de umas épocas do passado (que em matéria de futebol só assume relevância para nós benfiquistas, os outros podem concentrar-se nas suas glórias do presente e nas expectativas do futuro).
Alguém adivinha porque é que tudo o que possa ser relacionado com o Porto, mesmo o novo treinador do Vila Meã, constitui nesta altura uma prioridade para os tontinhos que desenham a agenda dos telejornais? Aposto que Ela, Carolina sabe