Como se previa, Hugo Chavez foi reeleito. E também seria fácil de antever a dor cotovelar da direita reaccionária (e saloia) que, como é tradição, excita o paleio ao ponto de evidenciar uma cultura democrática que oscila entre o bronco clássico e o pseudo-fascista refinado. Nem costumo enveredar pelo discurso mais radical, até porque pouco me ralo com as idiossincrasias alheias quando estas não passam de vozes incapazes de atingirem o céu. Porém, o exagero boçal em que a direita reaccionária (e saloia) incorre quando sofre um desgosto daqueles que os povos que votam (uma chatice, pois é) sabem proporcionar, nomeadamente a fantochada pictórica com associações de ideias próprias de uma visão política Neandertal, obriga-me a puxar pelos galões da esquerdalha e dar-lhes no toutiço sem misericórdia. Hugo Chavez foi reeleito. Ou seja, governou e a maioria do seu povo entendeu que governou bem. Obteve mais de sessenta por cento dos votos contados. Quer isto dizer que o candidato derrotado nem tem margem de manobra para contestar os resultados com base na habitual alegação de fraude na contagem. E foi sistematicamente atacado por uma Imprensa hostil, o que em qualquer ponto do mundo pode influenciar sobremaneira o pendor de uma eleição. O que implica duas coisas: a liberdade de expressão concedida à Comunicação Social venezuelana e a politização do eleitorado que não se deixou manobrar.
Por tudo isto, irrita-me a boçalidade má perdedora da direita reaccionária (e saloia) que vai longe demais nos seus considerandos e nas suas brincadeiras de mau gosto, trocadilhos parvalhões e afins, quando se refere a um processo democrático sem mácula que resistiu, entre outras pressões directas e indirectas, às manobras de bastidores que os sequazes de mister danger sempre orquestram e financiam. E também à influência interna de grupos tão poderosos (sobretudo numerosos) como a comunidade portuguesa radicada (instalada) naquele país.
Comparar Hugo Chavez a símbolos históricos da ditadura, pegando pelos papões de algo que não se verifica de todo (o homem foi eleito democraticamente e até a um golpe de estado resistiu, porra!) é típico das mentalidadezinhas medíocres que prefeririam uma América Latina dominada por canalhas tiranos como o fóssil decrépito que (ainda não foi desta) tarda em prestar contas com o Criador pelas três mil vidas que a sua falange assassina dizimou.
A direita reaccionária sonsa (e saloia) não sabe perder e possui uma visão muito periférica destas questões da democracia que tanto os incomoda porque raramente beneficia as suas concepções de como uma sociedade se deve gerir.
O fascismo encapotado, hipócrita, tem destas debilidades. Quando a coisa dá pró torto, as baratas tontas começam logo a destapar as suas essências camufladas e revelam a propensão para o disparate nos argumentos e para a desorientação nas atitudes que lhes desmascaram a postura impostora por detrás da bonomia de um discurso aparentemente equilibrado e cordial.
Apetece-me falar um pouco de futebol. Nem que seja apenas por ser gajo e, regra geral, nós gajos ligamos a esse incontornável fenómeno. Nem que seja só para chatear quem insiste em apontar esse magnífico desporto como uma espécie de palhaçada para entreter iletrados e outros burgessos, numa abordagem rasteira equivalente a avaliar o cinema com base nas opiniões de quem só viu o Cantiflas ou emitir opinião acerca do nível dos actores portugueses com base nos episódios da Floribella.
Eu aprecio futebol com a moderação de quem mantém uma prudente distância do folclore habitual que o rodeia. E dos estádios, que raramente frequento (há uns anos atrás ia à bola umas trinta vezes por ano). Sou benfiquista, contam-me, por influência do meu padrinho (grande impulsionador do antigo Lar do Benfica, onde até o Eusébio pernoitava). E joguei muito futebol, na rua, no liceu e como federado nos clubes do bairro e da freguesia (o ilustre "fófó").
Tudo isto para que não estranhem, não se perturbem ou se enojem pelo facto de esta ser uma posta dedicada ao futebol. E não será filha única.
É que hoje o Sporting sofreu uma das mais inesperadas e incompreensíveis derrotas da sua história como clube, sendo afastado das competições europeias da modalidade por uma equipa russa que já havia provado ser muito inferior à dos leoninos. E eu, mesmo lampião, não gosto mesmo nada de assistir a uma derrota dos vizinhos da segunda circular perante equipas estrangeiras. Não gosto e sofro quase tanto como se fosse o Glorioso a tombar dessa forma escusada. Isto não é hipocrisia, quem me conhece sabe que a primeira vez que chorei num jogo de futebol foi quando os lagartos foram eliminados no velho José de Alvalade pelo Barcelona (2-1).
O futebol não se resume aos Pintos da Costa, aos Majores Valentins, aos José Veigas e outros figurões do lado pimba da coisa. É um fenómeno à escala mundial, muito mais importante para a vida de milhões de cidadãos do que a maioria dos assuntos com que enchemos os nossos posts. Doa a quem doer. É uma delícia, quando os mais exímios praticantes logram um desempenho livre dos condicionalismos que a pressão da Imprensa, do dinheiro e dos vários poderes que atrofiam talentos e falseiam resultados exercem.
Mas não quero fugir ao tema principal. O Sporting perdeu porque mereceu perder e não devia. Mas eu sinto-me desolado por esse facto e insisto em deixar aqui a minha solidariedade para todos os leitores adeptos do antigo rival e agora companheiro de desdita.
Ah pois... É que amanhã não escrevo sobre o assunto quase de certeza...