O Sérgio chamou-me a atenção para uma realidade que me anda a escapar. E escapa-nos muita coisa no meio do critério subjectivo que nos vale para apreciarmos a mercadoria que expomos a uma freguesia exigente mas generosa (sim, pois qualquer comentador/a desta plataforma é um exemplo de persistência e de pachorra dignos de realçar).
Tenho andado mais denso do que nos primeiros dias do charco. São fases, julgo eu, que um gajo para aguentar a pedalada diária desta cena tem mesmo que variar no estilo e na forma. Senão enjoa, como acontece perante os blogues dos colegas que cristalizam num dado tema ou estilo e não descolam dali.
Dou pela falta dos assuntos aparentemente banais, coisas do dia-a-dia faladas na boa, que ninguém aborda precisamente porque a banalidade retira a um blogue todo o status e afasta-o da rota corriqueira dos aspirantes a intelectuais.
Eu não aspiro, até porque me sobram as lacunas ou escasseia a paciência, e por isso permito-me luxos como escrever acerca do que me passa pela vista e não acerca das ideias de gajos que já estão a fazer tijolo há séculos.
É uma opção tão razoável como realista, vinda de um gajo como eu.
(Nota: a partir daqui começa um lençol "daqueles". Depois não digam que não estão avisados/as...)Há muito tempo que não falo daqueles temas que podem interessar o cidadão comum. Como os aspectos ligados à nossa pila, esse objecto de culto de que muitos falam mas quase sempre numa óptica cheia de fantasia.
Eu gosto de olhar para a minha pila como olho para o resto de mim. Nas grandezas e nas misérias, como o arquivo do charco vos permite confirmar.
E não é porque ache a minha pila especial, melhor do que as outras. Ou mesmo incomum, apesar da acentuada inclinação esquerdista que lhe confere um estatuto minoritário.
Lembrei-me da pila quando absorvia das palavras do Sérgio aquilo que entendo como uma crítica construtiva daquelas que se levam a sério e se reflectem depois no trabalho a produzir. Claro que a associação de ideias entre a minha pila e o Sérgio não passa de uma coincidência, até porque das várias mazelas na minha reputação blogueira ainda não consta a suspeita de uma tendência latente para a homossexualidade que, de resto, ninguém duvide que assumiria de forma pública (pois só assim a coisa perde o cunho vergonhoso que lhe pintam moralistas da treta, machões de garganta e outros burgessos sem talento para pintar seja o que for).
Mas vamos então à minha abordagem de hoje em torno do meu falo. E sei do que falo, pois mantenho com ele uma relação de independência mas adornada com os devidos contornos emocionais que qualquer homem deve manter com essa porção fantástica da nossa anatomia.
Lembrei-me do dito precisamente quando me ocorreu que é óptimo para aligeirar a prosa.
É que não há como adensar um tema ligado ao pénis sem cair no ridículo.
E ocorreu-me também que para a geração anterior à minha, a pila era um tema tabu. Era como se não existissem pilas, pelo menos no discurso dos homens do tempo do meu pai.
Eu nunca vi a pila do meu pai. E embora duvide que essa possibilidade trouxesse algo de novo ou de interessante à minha perspectiva acerca da coisa (do coiso), não posso deixar de ter em conta a forma como para ele a pila era uma vergonha a esconder (e presumo que também a escondia de vez em quando em locais semelhantes aos que recolhem a minha preferência mas isso é outro assunto tabu, numa família como a nossa em que os machos se pautam pelo recolhimento do silêncio nessas matérias).
Eu não escondo a minha pila à minha filha, embora não a pavoneie pela casa nem faça questão de a evidenciar seja perante quem for. Sempre que por acaso o olhar curioso de criança se fixa no dito cujo, limito-me a desdramatizar perguntando-lhe porque não presta tanta atenção a um dos meus dedos mindinhos ou a outra parte do corpo.
Acredito que a desmistificação do tabu, a redução da pila ao seu devido lugar no conjunto de que um homem se faz, é meio caminho andado para lhe evitar paranóias futuras.
Confesso que apesar de não apontar um dedo acusador ao meu pai por me ter ocultado deliberadamente a visão, as coisas são como são, ou mesmo o diálogo acerca desse detalhe que partilhamos, teria preferido poder conversar com ele quando constatei a tal inclinação fálica de esquerdalha que me distinguia do resto da malta e me assustou como o caraças até ao dia em que o experimentei no campo de batalha e a coisa nem correu nada mal.
Porque essas cenas não se partilham com os amigos, certo e sabido que nos tornamos alvo da chacota por causa de uma mera borbulha ou de um simples sinal nessa idade de todas as descobertas.
E por isso optei, quando pela primeira vez a garota entrou pela casa de banho e me apanhou em pleno chichi, por dar a pala de indiferente, de lhe explicar nas calmas que se tratava da questão de pormenor mais óbvia que distinguia as meninas como ela e a mãe de meninos como eu e o meu cão. E em que medida isso explicava o facto de eu fazer chichi de pé (difícil foi contextualizar o alçar da pata que o meu fiel amigo herdou dos seus antepassados das alcateias ancestrais).
Foi a minha escolha. Sou e serei enquanto viver um pai de confiança para a minha menina, tal como me orgulho de ter sido até esta data um amante cuidadoso e, na medida do possível, respeitador. A minha pila não é uma pistola desengatilhada e não há margem para constrangimentos numa relação sem tretas como a tenho habituado a viver comigo e recuso-me a entender o meu estimado companheiro de luta como algo de embaraçoso e que urge esconder.
E isto não é paleio de naturista, repito. Não é minha tradição exibir a nudez (fora do âmbito privado que a torna essencial) e admito que nesse particular tenho a alma muito mais desnuda
O tema desta posta incide, portanto, numa faceta das várias que só quem tem pila pode verdadeiramente entender e com isso distingo claramente o meu blogue como do género masculino. Um blogue de gajo, como é costume rotular.
E eu adoro essa minha condição por uma data de razões, sendo que a primeira é a compatibilidade óbvia entre esse género que a combinação de cromossomas em boa hora ditou e a verdadeira loucura que sempre nutri pelo sexo oposto. Facilita bastante o meu culto dessa adoração que, entre outras coisas, me permitiu aprender a andar quando já toda a gente se preocupava com a minha locomoção tardia (fui atrás de duas vizinhas do lado, a correr, e nunca mais perdi esse apelo interior para as longas caminhadas por um bom motivo).
Agora sou obrigado a encerrar o lençol, até porque já percebi que nesta fase do texto já estou a falar para as paredes e mesmo os leitores mais esforçados saltitaram o olhar entre parágrafos e zarparam para outro linque qualquer.
Mas não quis deixar de corresponder ao alerta que o novel colega brazuca me deixou.
E sei que os mais antigos frequentadores desta casa já sabem do que ela gasta.
De vez em quando, estico-me. E o assunto pareceu-me elástico qb.