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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

24
Nov06

UMA MESQUITA NO CALDO

shark
tradicionais.jpgFoto: Shark

Sempre me causou alguma admiração a forma disciplinada como os quadros do PCP acatam qualquer decisão que o partido lhes impõe. E não falo de admiração propriamente dita, mas de espanto perante o espírito de sacrifício que tal implica e a capacidade de engolirem sapos como o recente episódio da Câmara de Setúbal tão bem ilustrou.

Esta rebeldia que Luísa Mesquita protagoniza, recusando aceitar o “convite” para abandonar o parlamento em nome da renovação, soa a traição aos princípios que o partido sempre defendeu (sem a sua contestação) e quem nele milita sabe de antemão ter que enfrentar.
Contudo, a reacção da deputada comunista agora caída em desgraça também deixa no ar a ideia de que o PCP nem sempre sabe reconhecer o mérito e a dedicação dos seus leais militantes.
Aos 54 anos de idade e depois de muitos anos de imersão na vida político-partidária, não é de presumir que uma antiga professora do ensino secundário possa retomar o ofício que abandonou sob a presunção de que nunca teria que enfrentar tal decisão por parte do partido a quem, diz ela, nunca negou seja o que for.

É um partido diferente dos outros e ninguém pode alegar o desconhecimento das regras do jogo. Décadas de clandestinidade forçaram a organização a constantes adaptações que acabaram por endurecer os processos internos que, afinal, têm mantido a coesão no interior do mais hermético e inflexível partido do panorama político nacional.
Eu, por exemplo, nunca conseguiria adaptar-me a um esquema assim.
Mas lá está: quem opta por integrar a estrutura sabe do que a casa gasta e só por ingenuidade se pode sentir à margem deste tipo de decisões.

Por isso estranho a atitude da política, tanto quanto entendo a revolta da mulher. Existem tiques de comportamento no PCP que colidem com a percepção que temos de um partido de esquerda, compreensíveis à luz da sua história mas impossíveis de encaixar no que se entende por uma relação saudável dos militantes com o seu partido. Os outros imploram a participação activa dos seus filiados (pelo menos que paguem a quotização, quase sempre simbólica), enquanto o PCP “recruta voluntários” com base naquilo que os comunistas interpretam como uma obrigação, servir a democracia por intermédio de quem, na sua ideia, mais a defende contra as ameaças do costume (aquilo que o povo baptizou de cassette).

Luísa Mesquita, agora numa posição insustentável no partido como na bancada parlamentar, terá dado um tiro no pé com este seu grito do ipiranga.
E com a sua iniciativa, longe de atear um rastilho semelhante ao que abriu caminho para as badaladas cisões de anos atrás, apenas dará razão à corrente mais ortodoxa do PCP e acabará inevitavelmente isolada na sua desdita que, bem vistas as coisas, só a surpreendeu se andou distraída quanto aos mecanismos de funcionamento da estrutura na qual depositou uma confiança digna de uma "passaroca".

E será essa, provavelmente, a única imagem que irá perdurar na sequência da bronca que em má hora terá abraçado neste caldo que entornou.

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