Pela boca do maior equívoco da política nacional pós-25 de Abril fiquei a saber que o actual Presidente da República, Cavaco Silva, foi um dos responsáveis pela queda do Governo mais absurdo que Portugal conheceu. Isso deixa-me em conflito interno, pois nunca escondi a minha aversão à figura do Chefe de Estado que a Esquerda elegeu com a sua tolice multi-candidata.
Porém, seria ingrato da parte de qualquer cidadão português não reconhecer o mérito que assiste ao professor pela sua eventual intervenção no acelerar de uma decisão que Jorge Sampaio adiou em demasia.
Não consegui reunir a coragem e a paciência necessárias para acompanhar qualquer das entrevistas da desgarrada televisiva que o Presidente e o seu correligionário laranja dos dias polémicos em que o PSD governou a nação ontem protagonizaram. Mas retive essa ideia essencial.
E dou a mão à palmatória: merece ficar na História quem tenha contribuído para devolver ao país a confiança nas instituições democráticas que um vergonhoso vazio de poder, a deserção de Durão, tinha deixado à mercê de uma caricatura política cuja inépcia e falta de sentido de Estado quase destruíram a credibilidade dos portugueses nos Órgãos do Poder que tão vulneráveis se revelaram a estas contingências alheias ao que se entende, e cuja premência o queixinhas enfatizou pela negativa, por política séria.
Nesse sentido, o Presidente da República prestou-nos um serviço inestimável. Estancou a hemorragia daquele que constitui o mais flagrante exemplo da enorme fragilidade desta nossa (ainda) jovem e muito ingénua Democracia .