14
Nov06
LUA CHEIA
shark

Ouço o som com tanta nitidez como sinto na pele a passagem da corrente de ar que me agita o cabelo em pequenos frémitos de inclinação.
Apuro a audição, como um microfone sofisticado e sensível, criado de propósito para registar precisamente o propagar dessas ondas sonoras que sopram e me agitam o cabelo e algo mais.
Estendo a minha mão e tento agarrar a fonte do ruído, invisível, tento sentir o remoinho por entre os dedos da mão aberta e assim perceber a dinâmica do movimento que sei estar na origem desse som tão nítido na minha percepção do que sou neste instante do meu tempo. Pressão atmosférica desequilibrada, quente e frio, a falta do ar que subiu em espiral, a génese de um temporal que acabou por não acontecer agora porque afinal já aconteceu.
E o som anoiteceu comigo, despediu-se do sol e acolheu a face iluminada de uma lua cheia de vontade de fazer parte da magia universal. Sentir-se desejada, no olhar intenso de amantes e de poetas que a reflectem como um espelho colossal resultante da soma de milhões de pequenos olhares distantes de gente a sonhar, de gente a olhar distraída do som que prende agora a minha atenção e eu a pedir-lhe para jamais parar de soprar.
És tu a respirar.
E eu a ouvir esse vento numa falésia do teu peito, entretido a sentir-me feliz.