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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

06
Out06

RACIOCINIOS DESNECESSARIOS 2

shark
Escrever o amor de uma forma “universal” é quase um santo Graal para quem investe na emoção e inclui as palavras nessa definição do que de mais profundo conseguimos sentir.
E isso aplica-se tanto ao amor sereno que adormece nos braços de alguém depois de um momento irrepetível como ao amor explosivo, arrebatado, que se contorce de ira às mãos do ciúme ou conduz um amante às raias da loucura.

Por muito que esse arquétipo ornamente alguns devaneios literários e fantasias de casal, nem o próprio amor possui uma alma gémea. Não existem dois amores iguais, duas formas semelhantes de sentir e de exprimir uma paixão e as suas grandezas e misérias.
Cada pessoa valoriza o amor numa escala que é a sua e opta por um caminho para o usufruir que jogue certo com a sua sensibilidade e o seu grau de carência. Por isso chamam egoísta ao amor, por prevalecer sempre a “nossa” percepção. A que muitas vezes nos tolda à diferença que caracteriza os/as destinatários/as desse ar sem o qual ninguém respira em condições.

O amor é fundamental, nem que baseado apenas numa reciprocidade ilusória ou mesmo num erro grosseiro de interpretação da nossa inteligência emocional.
Escrevemo-lo, os que conseguem, sempre de acordo com a intensidade que nos absorve enquanto o pensamos para o traduzir em palavras. Por vezes, tantas vezes, bem melhor do que o conseguimos por outra forma. Numa conversa telefónica. Na cama, até.
E sempre de uma forma subjectiva, seja no modo como descrevemos o nosso sentir ou como interpretamos o das outras pessoas.

Por isso vão sempre existir tentativas frustradas de “globalizar” em palavras o que nunca poderá definir-se de uma maneira que encaixe em todas as noções possíveis de entre as variáveis sem fim que cada ser humano em cada conjuntura produz.

A prová-lo, basta repararmos nos exemplos de sintonia perfeita nesse domínio entre uma multidão de dois.

É por isso que me senti tentado a repetir agora a última frase da posta anterior.
06
Out06

RACIOCÍNIOS DESNECESSÁRIOS

shark
Tomamos a maioria das decisões que influenciam o rumo das nossas vidas sem a noção do impacto das mesmas, de forma leviana. E o mesmo se aplica às decisões que deixamos por tomar, preguiçosos ou apenas inconscientes das repercussões que os adiamentos podem implicar.
Não pretendo com isto generalizar um padrão de comportamento, até porque todos nos esforçamos (uns mais do que os outros) para racionalizar de alguma forma as (poucas) escolhas que a vida nos concede.

No entanto, a maioria das histórias de existência que conheci no meu tempo de vida, a minha também, fazem-se de equívocos menores que assumem proporções colossais e de desmazelos aparentemente inconsequentes que se traduzem depois em perdas infelizes e desnecessárias.
Parece que não temos a percepção da realidade quando a projectamos no futuro, naquele instante em que tentamos sopesar os prós e os contras desta ou daquela atitude ou omissão. E depois é sempre tarde demais para arrepiar caminho.

Estranho é percebermos muitas vezes que nos deixamos levar por impulsos irracionais, o feitio e essas cenas, com a consciência de que não vamos no melhor sentido e avançamos mesmo assim. Depois logo se vê. E vê-se, à nossa custa e à custa de todos quantos sejam afectados pelas nossas decisões.
A nossa vida acaba assim por seguir rumos que muitas vezes não correspondem ao que desejamos, nem sempre por obra de um acaso infeliz mas pela nossa intervenção ou alheamento desastrados. A tal leviandade que nos trai.

Por isso é quase um milagre que algum ser humano consiga ser a todo o tempo verdadeiramente feliz.
05
Out06

A POSTA NO EXAME ORAL

shark
Meteu a ferramenta na boca dela e aguardou uma reacção. Ela assentiu com um piscar de olhos e ele deu início a um suave rodeio nas bordas daquele buraco que lhe competia tapar.
Sentia-a tensa, receosa, e tentou tranquilizá-la com o olhar enquanto prosseguia o movimento delicado. Entrava e saía daquela boca sem um pingo de emoção, alheio aos pequenos saltos que o corpo dela produzia quando ele avançava um pouco mais.

Esteve naquilo um bocado, até que decidiu ir mais fundo na questão. De imediato ela gemeu.
Perguntou-lhe se doeu e ela fez que sim com a cabeça.
Decidiu então abordar outro orifício, aproveitando o ensejo de a ter disponível para a função. Sabia-a medrosa, raramente a conseguia apanhar naqueles propósitos e empenhou-se em dar o seu melhor para aproveitar ao máximo a situação.

Ela gemia enquanto o seu corpo se contorcia, ele abrandava um pouco e depois recomeçava o acto. Cada vez mais apressado pela pressão do tempo que passava. A outra, que se seguiria, aguardava impaciente na sala contígua o momento de abrir a boca para o receber. E ele temia o adiamento, privava-o do sustento que obtinha daquela forma, insaciável no seu furor invasivo.

Alternou entre os buracos à disposição, consoante os sinais que ela lhe transmitia. Um gemido mais forte, uma mão que se erguia pedindo clemência, um pouco mais de paciência para com as suas hesitações. E ele concentrava noutra cavidade o seu talento reconhecido, a sua exímia destreza para cobrir com uma substância esbranquiçada qualquer espaço necessitado de um tratamento eficaz.

Meia hora mais tarde deu por terminado o serviço, satisfeito com o resultado obtido.
Olhou-a com um sorriso, deu-lhe os parabéns pelo comportamento exemplar.

E depois, olhando o relógio, apressou-a.

Mandou-a bochechar.

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tapa buracos.gif
05
Out06

PROVA DOS NOVE

shark
Se cortarmos um princípio rigorosamente ao meio justifica-se que obtenhamos dois fins absolutamente iguais.
Ou seja, a multiplicação dos fins obtida por meio da divisão dos princípios não adiciona necessariamente algo de novo no leque de opções.

E diminui sem dúvida a margem de acerto de qualquer previsão.

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