Imagem daqui.Ando há uns dias para escrever acerca do assunto, pois fiquei feliz por saber um Prémio Nobel tão bem entregue.
Muhammad Yunis, economista originário do Bangladesh, recebeu a mais prestigiada distinção a nível mundial não na sua área mas na que distingue as pessoas de bem. Contudo, já tinha o seu lugar reservado na História por ter sido o pioneiro na aplicação prática do pressuposto de que não se combate a pobreza oferecendo o peixe mas sim a cana de pesca, confiando na capacidade das pessoas quando possuem apoio efectivo e realista para concretizar os seus projectos em vez de as estigmatizar com o rótulo de miseráveis sem recuperação possível.
A diferença entre praticar a caridade de fachada e estender uma mão solidária
Este homem notável, chocado com a realidade da miséria no seu país, utilizou os seus conhecimentos na área económica para criar uma realidade que soava como um contra-senso: enquanto os bancos tradicionais se digladiam na caça aos mais endinheirados, Yunis decidiu apostar no extremo oposto da equação e fundou um banco vocacionado para os extremamente pobres.
E acertou em cheio.
Existem diversos aspectos notáveis no trabalho deste ser humano excepcional, bem como alguns dados que o devem orgulhar porque estimulam novos investimentos nesta área e, sobretudo, nesta forma proactiva de agir contra a miséria.
Saliento um que, a meu ver, diz tudo o que há de importante a saber quanto aos resultados obtidos pelo projecto do novo e merecido Prémio Nobel da Paz: o volume de crédito malparado, apesar de ser acima de tudo a honra e a honestidade dos beneficiados a garantir a cobrança dos financiamentos, é bastante inferior aos dos bancos comuns.
Parece ficção, num mundo que parece mergulhado numa idade das trevas civilizacional e que se traduz no crescente desequilíbrio entre as condições de vida dos privilegiados do hemisfério norte e as dos seus "parentes pobres" das nações menos desenvolvidas, quiçá uma herança da intervenção colonialista dos europeus nessas zonas do planeta.
Dos números envolvidos no sucesso obtido pela ideia genial deste Senhor destaco que cerca de 60% das pessoas beneficiadas pelo Grameen Bank saíram do limiar da pobreza e já são mais de cem milhões os titulares de um micro-crédito.
Por isso mesmo, rendo aqui homenagem a este Homem que justifica a imortalidade nas memórias dos seus semelhantes.
Menos do que isso seria dar corpo a um expoente elevado da ingratidão mais leviana.