Existem fases da vida em que é difícil renegar o sobrenatural. Nesses períodos que desnorteiam, acumulam-se os episódios desagradáveis e os sinais que desmentem pressupostos ou alimentam suspeitas. Parece que tudo se conjuga para nos fazer sentir mal, bruxedo, e para nos demolir a resistência.
Parece que existem forças negativas a conjugarem-se para nos empurrarem para becos sem saída ou nos obrigarem a despertar para a necessidade de combater determinados problemas que nos afectam, aqueles sobre os quais ainda possuímos algum controlo e podemos eliminar do rol de preocupações.
São essas as opções que nos restam quando um gajo já nem sabe para onde se virar, a braços com tantas situações anómalas. Ou nos entregamos ao desespero, à desilusão, e baixamos os braços ou, a melhor alternativa, berramos por dentro
isto tem que acabar.
Eu sou mais propenso a escolher esta última. Se existirem de facto as tais forças negativas capazes de nos atormentarem com coisas que nos arrasam, temos que reunir as nossas, positivas ou não, e ripostar. E se tudo não passar de uma série de coincidências foleiras, pelo menos enquanto mobilizamos a força interior encontramos a esperança de quem sente de novo o chão debaixo dos pés ou algo a que nos agarrarmos para fugir à prostração.
Gosto de batalhar contra aquilo que me afecta, interno ou externo, e não me reconheço no abandono perante as fases menos boas que qualquer existência produz. Ciclos que nos obrigam a mostrar o que valemos, a (re)descobrir a tenacidade, a capacidade de dar a volta a tudo e mais alguma coisa. A agarrar pelos cabelos com determinação ou a deixar cair com bom senso.
Gosto de berrar a sós num local isolado, esmurrar os deuses se necessário, para exibir perante mim e as energias perniciosas a vontade de estrebuchar, de desatar à cabeçada nos males e nas aflições.
Depois arregaço as mangas e ataco cada um dos problemas com a frieza e a garra suficientes para resolver a maioria e enfrentar com dignidade e com coragem os que não dependem directamente da minha intervenção. Descarto tudo quanto não justifica a minha atenção, nesses momentos que tanto dependem da acuidade das nossas escolhas, da prioridade que urge definir com rigor.
Está tudo na nossa cabeça, afinal. A maior parte do que nos enfraquece e conduz a comportamentos e decisões absurdas, a humilhar-nos perante terceiros, a fomentar o desastre quando estamos na melhor altura para o evitar.
Ervas daninhas que devemos cortar sem demora, coisas e pessoas com quem não contamos de todo na luta por dias melhores ou só servem para nos minar a solidez.
Tocamos a reunir na praça forte da nossa fé em nós próprios e avançamos para cada dia como guerreiros, alheios às cobardias, às hipocrisias ou às insensibilidades alheias e consequentes deserções que se traduzem na prática em coisa nenhuma se quisermos mesmo avançar para qualquer batalha. A vitória é garantida quando somos capazes de ignorar tudo e seguir em frente com determinação. Mesmo que se percam alguns pilares pelo caminho, a estrutura permanece intacta e reconstrói as suas bases de sustentação.
Estou a braços com esse tipo de desafio. E sinto-me cada vez mais capaz de o enfrentar, imune às debilidades artificiais.