Pelo espelho retrovisor conseguia ver o passado que se afastava quanto mais carregava a fundo no pedal do acelerador. O motor que rugia e o homem que partia para longe em busca de uma solução para o problema que nunca conseguira identificar. Procurava a resposta para o que afinal nem sabia questionar. E acelerava, fugia de si próprio e dos outros que o faziam sentir-se a pior das criaturas, implacáveis perante as falhas imperdoáveis que o tornavam proscrito. Parecia que estava escrito no céu, em letras garrafais, esse libelo acusatório.
No cimo do promontório meditou a existência e ganhou a consciência da missão que lhe competia no futuro reservado às pessoas sem lugar marcado na plateia social. Nem mesmo o amor resistia aquela dor que sentia e espalhava em seu redor, revoltado.
Renegou-se apaixonado e assumiu-se solitário. E só nesse dia parou de inventar últimas pétalas que nunca disfarçavam a inevitável nudez do seu malmequer imaginário.