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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

13
Out06

AMOR PERFEITO

shark
amor perfeito.jpgFoto: Shark
Foram felizes até que aquilo aconteceu. Ela ficou em casa sozinha, demasiado tempo sozinha. Quando ele chegou nesse dia, o mal já tinha acontecido e pouco ou nada havia a fazer.
Levou-a para o hospital, tarde demais.
Ela entrou em coma e agora está agarrada a uma cama com pouco melhores perspectivas do que acordar no estado vegetal.
Tem pouco mais de trinta anos e foi vítima de um aneurisma no cérebro que entendeu manifestar a sua presença da forma pior, arrastando uma jovem mulher cheia de planos para o sono profundo e o seu amor para uma situação impossível de entender.

É uma daquelas histórias que preferimos ficção, mesmo quando não somos os protagonistas ou nem temos qualquer relação com as pessoas afectadas. Dá que pensar, quando nos revemos instintivamente numa desdita alheia que pelo seu cariz imprevisível adivinhamos passível de nos acontecer. Ou a quem dedicamos o nosso amor.

É demasiado doloroso para mim imaginar tal cenário, aplicado às pessoas que amo. Aplicado a mim, na condição de testemunha potencial de um drama assim.
Nem arrisco uma previsão do meu comportamento na pele de alguém tão surpreendido pela vida no que de mais requintadamente cruel encontra para nos confrontar. O choque da surpresa num dia que nasce igual ao de ontem e acreditamos semelhante ao de amanhã. Felizes os dois, os dias e as pessoas. E de repente uma cortina de fumo que cobre o horizonte azul (tido por) garantido que a paleta da vida pinta tragicamente cinzentão.

Ele, o homem apaixonado que a existência decidiu infernizar, tinha mais do que uma opção perante tal desafio.
Podia ter optado pelo suicídio, caso a esperança (que os médicos lhe tiraram após a segunda intervenção cirúrgica) estivesse comatosa como a consciência da sua amada naquele leito frio de hospital.
Podia também “desligar a máquina”, partir para outra, buscar a felicidade num mundo alternativo ao que a sorte lhe ofereceu.
Optou por acreditar, por se agarrar a esse amor que pretende eterno. Recusa a possibilidade de ela não regressar aos dias melhores, com o sorriso habitual.
Ninguém consegue demovê-lo dessa fé. Se calhar ninguém devia.

Inscreveu-se num curso de massagista, certo de que depois de tanto tempo de imobilização ela irá precisar desse tipo de cuidado. Decidido a esperar pelo mais ansiado despertar que algum dia pensou.
Tenho lágrimas nos olhos, piegas, por ter acabado de conhecer esse pormenor que referi.

Tenho lágrimas nos olhos de tristeza como de alegria por num relato de tragédia vislumbrar uma das mais lindas histórias de amor que conheci.
13
Out06

KNOCK ON WOOD

shark
friday 13.jpg
Nunca fui muito dado a superstições. Nem que seja por uma questão de coerência, pois não faria sentido um agnóstico acreditar nesse tipo de crendice sem outra forma de se sustentar que não a estatística.
Os azares acontecem, isso é um facto que ninguém contesta. E alguns surgem como uma consequência dos nossos actos ou omissões, um azar pré-fabricado que só tem essa designação por causa daquela tendência para descartarmos as nossas culpas.
Porém, esses “azares” também entram na estatística e alimentam os receios que estão na origem das precauções estapafúrdias que alguns entendem tomar nestes dias especiais.

Hoje é sexta-feira treze, um dia que a palermice humana convencionou mais azarado do que os outros. Escadas, ferraduras, gatos pretos, patas de coelho. Simbologia tão tola como outra qualquer, apenas porque alguém teve um dia mau e necessitou de encontrar uma explicação para tanto galo.

Claro que para muitos o que acabo de escrever é quase uma blasfémia, uma provocação descarada ao destino que me poderá castigar como um deus pagão sob a forma de um azar que até poderia acontecer noutro dia qualquer. Uma provocação a quem acredita nestas coisas, pois não há maior insulto para uma crença do que a respectiva ridicularização.

Eu não passo debaixo de escadas ou escadotes por uma questão elementar de bom senso, de resto o mesmo motivo que me leva a não acrescentar um acessório para cavalos aos molhos de chaves, moedas e outras cenas de metal que me atafulham as algibeiras. Não monto quadrúpedes, nem os temo em função da cor. Se os gatos são pretos, apenas concluo que de noite é mais difícil descortiná-los e é mais fácil ter o azar de lhes pisar a cauda sem querer.
E quanto às patas de coelho, só mesmo no tacho e ficamos conversados quanto aos símbolos que seleccionei para ilustrar o meu cepticismo radical.

Assim sendo, enfrentarei este dia como outro qualquer. Sempre à coca de chatices inesperadas que urge evitar, sobretudo provocadas pela minha desatenção.

Mas convicto de que no final do dia, e mesmo que as porras se manifestem em catadupas, não faltarão outras sextas-feiras treze para limpar a má imagem que este dia me possa trazer.

E claro que vos desejo um dia sortudo, nem que seja só para eu ter razão naquilo que afirmei.
13
Out06

O DONO DO JOGO

shark
gato escondido.jpg
Tijolo a tijolo, o indigente mental vai construindo uma reputação sobre as fundações daquilo que parece um palácio aos olhos de quem ocupa as barracas de madeira vizinhas. Promove-se enquanto constrói esquemas para que o promovam também.

E quem mais contribui são precisamente os seus detractores, levando a sério o cromo.
Provando afinal que fazem parte da mesma escola primária, básica, de meninas e meninos sem brinquedos que lhes ocupem o ócio e demasiado preguiçosos (ou mesmo incapazes) para aprenderem a brincar com outra coisa qualquer.

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