O Mundo está cada vez mais perigoso. Apesar de o espectro de um terceiro conflito mundial (e certamente nuclear) ter sido erradicado com o fim da guerra fria, a tensão entre Estados, ideologias e até religiões é crescente e o calibre dos líderes actuais não deixa margem de manobra para a fé no bom senso.
Basta imaginar uma Baía dos Porcos gerida por George Bush no lugar de John Kennedy. Ou um Chernobil controlado por Putin.
A ONU, desacreditada, de pouco vale em caso de ameaça séria à estabilidade mundial. O desequilíbrio latente de forças (ainda faltarão uns anos para que surja uma nova super-potência capaz de ombrear de igual para igual com o gigante americano) cria receios naturais que as recentes intervenções no Afeganistão e no Iraque consolidam e que a perspectiva dos que, como o professor Marques Bessa (docente no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas - ISCSP), defendem - só existe a política externa quando se possui o poderio militar para a impor justifica.
No meio deste cenário, nações como a Coreia do Norte podem constituir o rastilho para situações impensáveis à luz da aparente acalmia que se vive nos países ocidentais e que, por via dos interesses económicos e das alianças firmadas, inevitavelmente os arrastarão para o centro de qualquer conflito seja este convencional ou não (como os atentados terroristas em solo europeu bem o demonstram).
Mas mesmo a China, o eterno papão, poderá a qualquer momento anunciar ao mundo a sua tomada de posição mais temida, aplicando em Taiwan a receita tibetana.
E a Rússia de Putin, mantida a recato por via da paupérrima situação económica em que o país mergulhou, cedo ou tarde voltará a querer afirmar-se no contexto internacional. À bruta, como estas coisas costumam acontecer naquelas paragens.
Por outro lado, a clivagem cada vez mais acentuada entre hemisférios não dá mostras de tirar o sono aos mentores da nova ordem mundial mas revela-se cada vez mais trágica, cruel e potencialmente geradora de alguns dos episódios mais indignos que a Humanidade já conheceu.
O ataque às torres gémeas, o massacre de Beslan, a chacina do Ruanda e a agonia em Darfour são a ponta de um icebergue que ninguém saberá ou poderá controlar se alastrar como a negligência e a arrogância actuais permitem.
O clima está muito denso nos bastidores das Relações Internacionais e estupidamente elevado nos oceanos e nas calotas polares. O ambiente ainda é o parente pobre das preocupações modernas mas já revela (Nova Orleães constitui um sólido exemplo) o quanto os habitantes de qualquer nação da Terra estão à mercê de tragédias a que os Estados não estão preparados para dar resposta.
E por fim, neste rosário pessimista que o Mundo me inspira, existe a infelicidade latente na sociedade que estamos a construir. A que se vê nas ruas e se lê nos jornais, traduzida num aumento da criminalidade protagonizada por cidadãos pacatos que sem causa aparente atacam escolas e na realidade dos factos representada pelo número impressionante de um milhão de mortes anuais por suicídio.
A sensação de impotência perante todos estes factores é imensa e leva-me a temer um futuro pouco risonho se nada acontecer que altere de forma drástica a atitude global, mesmo que isso possa custar uma catástrofe económica cuja contenção é prioritária (obsessiva?) nas decisões de quem as pode tomar por nós.
E não vejo motivos para as acreditarmos acertadas.