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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

09
Out06

O MALEFÍCIO DA DÚVIDA

shark
A verdade está tombada de costas no lodaçal da sinceridade impossível. No atoleiro das coisas que contam mas não podem ser contadas. As coisas que não se podem dizer por causa de um medo qualquer. Dos outros ou de nós mesmos, incapazes de assumirmos a versão original sem cortes nem acrescentos.
Omitimos por obrigação, encostados à parede pelas repercussões possíveis. No muro das lamentações silenciadas, das histórias inventadas, dos pecados capitais a que as vidas normais obrigam.
Mentimos ao ataque ou à defesa, ocultamos a tristeza como uma vergonha terrível, pintamos a certeza como um antídoto para as nossas hesitações imperdoáveis.
Aldrabamos os outros para que acreditem em nós tal e qual nos podemos revelar.

A verdade é chocante para a maioria das pessoas. Preferiam nem saber. Reagem à bruta, acossadas pela inconveniência de um facto perturbador. Mesmo nas histórias de amor, livros abertos, contornam-se evidências com notas subtis de rodapé, a lápis de carvão para se poderem apagar depois (quando o tempo as reduzir a larachas pela inevitável relativização).
Mentiras piedosas, as rainhas do arsenal ao alcance do cidadão comum que anseia ser feliz. Hipocrisia, também, no limite difícil de traçar entre um tique social e uma simples imprecisão involuntária.

Jardins secretos que amedrontam, pontos fracos, os nossos, perante os outros que nunca admitem a rega clandestina dos seus. O medo da exposição daquilo que entendemos ser a nossa maior fraqueza. Vergonha ser frágil, pecado ser perdedor. A imagem que o outro aceita pois é raro quem respeita os que despem preconceitos, chamam-lhes excêntricos, os que colocam as suas misérias a nu. Os pobres coitados, pela vida derrotados apenas porque todos em seu redor se afirmam vencedores. Imaculados. Aldrabões.

A verdade é uma vara de dois bicos. Magoa-nos tanto escondida como na ressaca da sua revelação. A verdade é uma maldição numa sociedade de verniz. Silicone nas próprias existências que se fingem tão boas, intocáveis na sua perfeição esculpida a cinzel. Farsas impostas pela necessidade de integração ou apenas por se ambicionar uma vida melhor, nos moldes convencionados.
A mentira cultivada, indispensável, estratégica,como um manual de sobrevivência neste meio hostil.
Mais fácil ainda quando não se enfrenta um olhar.

E alguém inventou os blogues.

Há coisas fantásticas, não há?
09
Out06

A POSTA NO CARTÃO VERMELHO

shark
Um país inteiro a acontecer. Um mundo com quase duas centenas de nações!
E no noticiário da RTP, o canal do Estado, serviço público, espetam-me com o lançamento de um CD pimba de um ex-árbitro de futebol??? Entrevistam o homem, como se tivesse acontecido algo de relevante que envolvesse a criatura? Um CD para vender nas feiras e nos cafés?

Puta que os pariu, perdoem-me o vernáculo, mas sustentamos a corja e temos o direito de lhes exigir o respeito, no mínimo, pelo bom gosto e pelo bom senso.

Ou alguém quer convencer-me que o não-sei-quantos-Rodrigues, esse artista consagrado, é tema de notícia noutro suporte que não um tablóide ou um canal de tv (e K7) pirata?
09
Out06

CONFUSÃO DE NARIZES

shark
Alguém foi desagradável para mim num email que enviou em resposta a uma iniciativa minha que se destinava a manifestar apoio a essa pessoa. Publiquei aqui a minha manifestação de desagrado e, por coincidência, outro alguém sentiu como sendo a si dirigida essa manifestação e reagiu em conformidade.
Saí a perder em toda a linha e tive mais uma demonstração de como isto de ter um blogue não é isento de riscos e pode efectivamente perturbar o normal relacionamento entre as pessoas, mesmo que esteja na origem dessas ligações.

Por estas e por outras jogo muitas vezes à defesa e inibo-me de publicar o que me vai na alma, condicionado por não ser curial identificar com clareza os/as destinatários/as dos “recados” que me sinto no direito de enviar por esta via quando não me apetece recorrer a qualquer outra. Mas a esse sigilo pode corresponder um enfiar de carapuça por parte de alguém que não sendo visado/a nas minhas palavras interprete as mesmas à luz de factos produzidos no âmbito de uma relação (apenas) virtual e que, por isso mesmo, se presta a equívocos deploráveis e difíceis de esclarecer no calor de uma discussão por escrito.

Por estas e por outras invisto cada vez menos nos contactos virtuais e mais nos analógicos, aqueles que nos permitem exprimir olhos nos olhos aquilo que pretendemos mesmo dizer à pessoa em causa.

Cada vez acredito menos na viabilidade das relações que se cingem à troca de emails ou de comentários.
As emoções e as relações genuínas não dispensam o calor de uma voz ou a chispa num olhar.

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