O meu dia, como os dias de cada um/a de vós, perfila no horizonte um conjunto de desafios. Começo por esclarecer que o conceito de desafio é descaradamente subjectivo, pois o acto de apanhar a roupa antes que chova pode constituir para mim uma dura provação e não passar de uma banalidade para quem, por exemplo, enfrenta o nascer do sol a bordo de uma traineira ou aos quadradinhos, no Linhó.
Isto a propósito de um desafio diário que enfrento e que consiste basicamente em encontrar algo decente para vos receber neste espaço da minha inteira responsabilidade.
Faz-me lembrar o Pires da drogaria da Gomes Pereira, que todos os dias carregava centenas de vassouras, piassabas, alguidares e o diabo a sete para fora do estabelecimento, sabendo de antemão que no final do horário de expediente teria que enfiar a mercadoria toda lá para dentro outra vez.
Era um ritual próprio do ramo, inerente à função. E o Pires aceitava aquilo como um facto da (sua) vida e fazia-o com um sorriso nos lábios, mesmo que os putos como eu estarrecessem perante a aparente inutilidade daquele esforço quotidiano de que o homem nunca abdicava.
Connosco, os que blogam, qualquer que seja a natureza do dia que nos espera há um compromisso que não falha. Algures, um gajo tem que se desunhar e postar para não desiludir o freguês (que é como quem diz o utente deste serviço privado que se publica).
Tudo isto adquire proporções ainda mais complexas quando nem sabemos se não deu uma macacoa à plataforma e ficamos com a posta pendurada à espera que o server resolva o seu error no seu internal seja o que for.
Claro que isto não passa de um assunto trivial, coitado do rapaz e das suas preocupações comezinhas, à luz do que enfrentam alguns concidadãos dos quais uma ínfima parcela investe neste charco uma porção sempre generosa do seu tempo escasso e da sua paciência limitada.
Contudo, quando um gajo pensa para que serve esta treta e porque nos dispomos a acartar palavras e/ou fotos para a entrada do tasco mesmo sabendo que no final do dia já são peças de arquivo a que ninguém liga nenhuma, acrescendo o facto de o Pires orientar a vidinha dessa forma enquanto o Shark a desorienta com mais esta ocupação, um gajo sente-se no direito de partilhar estes raciocínios com quem lhe atura a dimensão virtual da existência.
Coisa séria, portanto.
É por isso que na definição de critérios que orientam a actividade blogueira temos sempre em conta a opção aligeirada que consiste em fazer incidir, pelo menos de vez em quando, a nossa prosa em temas que só interessam ao umbigo que manda para lá deste Marão. É um recurso legítimo, como se o Pires acordasse com uma pontada nas costas e decidisse meter à porta apenas os objectos mais leves do seu hipermercado miniatura.
É por isso que concluo agora uma posta cuja leitura não enriquecerá de forma alguma quem se predispôs a ler o lençol até ao fim, pois não é de todo uma posta profunda, como se espera de um blogueiro tão culto (sim, o humor também faz parte da cena), nem empenhada e pujante (não, não estou a falar de sexo).
E por isso vos devo, levando a sério a missão que abraça quem se mete nestas coisas, um sincero pedido de desculpa. Com os votos de um dia excelente, com boas hipóteses à partida por se tratar da véspera de um dia dos que a malta gosta.
Dia de encher chouriço...