Foto: SharkMuitos blogues que em 2005 se revelaram viveiros de conversa em animadas caixas de comentários lembram-me agora bares quase desertos numa praia encerrada ao público por causa da matéria coliforme em excesso.Quer dizer, os bares até continuam abertos (a maioria) e a fornecer os comidos e os bebidos virtuais que as palavras e as imagens simbolizam. Porém, é óbvio que a conversa de merda em que se incorreu com demasiada insistência, numa fase em que o clima entre bloggers acinzentou e as picardias saíam em barda como imperiais para as mesas, com a ajuda dos cravas de estacionamento anónimos que apanhavam a boleia de qualquer discussão para deixarem a sua impune poia cáustica, esse ambiente pesado e pouco higiénico que tombou sobre muita blogosfera acabou por inquinar as águas com as respectivas descargas.
E os banhistas visitantes, muitos deles industriais desta restauração virtual de esplanada, passaram a curtir a praia à distância, a partir da falésia.
Muitos dos que, como eu, geriram essa época dos ovos de ouro em que a interactividade prometia ser a alma da coisa como se nunca mais pudesse haver cadeiras vazias ou mesmo menor movimento nas caixas, podem agora olhar de esguelha e com consciência pesada os farrapos da bandeira azul dependurados sobre a inútil bóia de salvação.
O ambiente fétido que esteve até na origem do encerramento (ou aparente mudança ou aparente regresso seguidos de encerramento na mesma) de alguns estabelecimentos de renome, lixo acumulado nas postas e nas respostas, na atitude, consequente saturação, deu-nos cabo deste Verão.
O saneamento básico melhorou, mas a malta habituou-se aos poucos a trazer o farnel de casa. A reengenharia inadiável, que isto não vive do ar (sem pessoas que vejam), pode até passar por nos assumirmos
entertainers e alguns até já se desfazem em palhaçadas para atrair os arrivistas com olfacto menos sensível.
Mas mesmo que se continuem a facturar uns chás, cafés e laranjadas à conta de quem arrisca um mergulho de teste nas águas ainda meio turvas para poder assistir de perto ou mesmo participar no espectáculo, temos que admitir a falta que os aplausos fazem no final de cada performance.
Afinal, agora a alma do negócio é sermos mesmo artistas e executarmos o nosso número, seja qual for, de forma ecologicamente irrepreensível e o mais possível profissional.
Mas claro que este paleio não se aplica a qualquer um de vós que blogam por e para si próprios e não ligam nada a estas questões comerciais e absolutamente secundárias do maior ou menor volume de atenções captadas.
Estou a falar com os meus botões neste palco-esplanada, completamente sozinho no meio do areal