Acho que já vos falei há tempos de um velho chihuahua abandonado (acho que é essa a raça desses minorcas pelados) que abancou num estaleiro de obras nas traseiras do edifício onde moro. É um daqueles cães irritantes, farta-se de latir mesmo que ninguém lhe dê importância. Incomoda um nadinha, pois o lugar dele é mesmo no canil de onde uma vizinha tóina o soltou, dando-lhe mais uma abébia para virar para a minha janela o seu ladrar histérico.
Eu gosto de cães. Mas também gosto de pessoas e não é por isso que tenho que as aturar a todas por igual. Aquele arraçado de pincher anão tem feitio zaragateiro, vira o dente a toda a gente que sente ter ficado com algo de seu (mesmo sem se meterem com ele, embirra). E tem pouco, de facto, pois é hostil mesmo a quem lhe sustenta os vícios de cão. Nem a tal vizinha escapou das suas dentadas manhosas e só por distracção poderá ter dado uma goela a um animal que tantas vezes lhe tirou a boa disposição com atitudes mesquinhas e uma barulheira distante mas perturbadora.
Agora estou de férias e não me incomoda a presença do canídeo a pilhas, mas aproxima-se o dia de regressar a casa e tenho que encontrar uma forma de aturar o béu-béu sem lhe enfiar a biqueirada que merecia mas já desisti de alimentar na minha ideia. Sou incapaz de maltratar os animais, ainda menos quando me metem dó. O desgraçado do vira lata passa os dias e as noites a rosnar a sua desdita, coitado, e poucos lhe ligam. Compreende-se a motivação do seu feitio mau e tortuoso, traiçoeiro, e da sua insistência em latir mais para as janelas do lado dos que, como eu e a tal vizinha distraída, lhe vão dando pretextos para fazer ouvir a sua vozinha de falsete.
O meu cão, impávido, faz de conta que nem o vê. Ignora-o, como eu devia, e não lhe alimenta a vontade de ladrar.
A jovem austríaca que se tornou célebre a nível mundial, pelo motivo que se sabe, não queria ser incomodada. E com toda a razão, pois já teria bastado o incómodo que um psicopata qualquer causou à rapariga e aos seus. Contudo, depois desse divulgado fenómeno de rejeição à insistência da Imprensa, acabou por aceder a uma entrevista televisiva (da qual resultarão dividendos pela retransmissão no resto do mundo) e agora deixou-se fotografar para uma revista, pressupõe-se que a pagantes.
Pelo transtorno que oito anos de vida (toda a adolescência) passados num buraco na casa de um estranho lhe causaram, é natural que a moça até justifique os lucros que a sua triste mediatização possa render. Porém, é inegável que os dramas modernos possuem uma variação bizarra de final feliz.
Foram amplamente noticiados & viveram F£IZ$ para sempre