Foto: SharkÀs vezes parece que dá mais pica partilhar a nossa vida, as nossas impressões, com um grupo quase inteiramente anónimo que nos lê do que com pessoas que nos são próximas. É a sensação que isto de blogar nos dá, sobretudo quando comparamos o que damos de nós aos amigos e à família com o que preferimos divulgar por esta via.
Dei comigo a constatar que digo muito mais de mim nestas postas, a cada pessoa que me lê, do que pessoalmente, por email ou por telefone a quem considero amigo/a. E o fenómeno não é um exclusivo meu. Muita gente que bloga prefere investir o seu tempo num post do que a dizer o mesmo a alguém disposto a ouvir ou a ler as mesmas impressões em privado.
Julgo que é nestas alturas que entendemos o que valemos para os outros e o que os outros valem para nós. E por outros refiro-me às pessoas que temos como mais próximas, a quem não oferecemos tanto do que temos para dizer como a quem calha passar num blogue para nos ler.
Preferimos divulgar ao mundo em primeira mão tudo o que nos interessa, em detrimento das pessoas que deveriam estar destinadas a partilharem connosco essas palavras, esse pedaço do nosso tempo que optamos por esgotar diante de um teclado e de um monitor.
E é mesmo de uma escolha que se trata, pois enquanto blogamos não podemos comunicar de outra forma e damos connosco a fazer resumos apressados aos analógicos, para cumprir calendário, daquilo que depois explanamos à larga para inglês virtual ver. Dá que pensar em matéria do valor que as pessoas mais chegadas assumem na nossa consciência e na nossa vontade de darmos de nós. Porque damos mais aqui, a quem passa, a andarilhos que cruzam os nossos caminhos por coincidência e depois seguem à vida, não nos aturam as birras, as insolências, os desabafos e outras merdas que reservamos para o tempo que damos a quem nos quer bem.
O resto, preferimos blogar.
Para toda a gente nos partilhar.