Sou pessimista. Ou pelo menos desconfiado o bastante para nunca ter nada como adquirido, mesmo depois de ter esse nada diante do nariz. Por isso mesmo, é raro criar expectativas e quando as crio dou-me mal. O mesmo se passa com os planos para o futuro que acaba por acontecer sempre como o passado e o presente impõem.
Atrevo-me a sonhar, faz parte de mim, mas nunca fora do plano da pura fantasia. E até posso lutar pela concretização desse sonho, mas só acredito quando o vejo acontecer e não acordo com um beliscão certificador. Gosto de sonhar acordado e isso obriga-me a confrontar-me a toda a hora com a realidade como ela é, sem grande margem de manobra para ilusões. As que perseguimos, imensas, e as que vivemos, escassas, quase nos passam despercebidas no meio da confusão quotidiana.
Tenho os pés assentes no chão em matéria do que acredito plausível, mesmo quando arrisco um devaneio qualquer. Nunca dou como certa a minha reacção e o mesmo critério se aplica às das outras pessoas (que nunca cessam de me surpreender).
Só tenho a morte por garantida e uma mão cheia de recordações que ela cuidará de apagar.
Tudo o resto é apenas pó que algum vento irá soprar um dia.