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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

01
Ago06

A POSTA NA PRIVACIDADE VIRTUAL

shark
Não sendo anónimo, já por diversas vezes aqui publiquei o meu rosto e o meu nome (alguém por mim publicou o resto que falta para todos saberem quem sou se o quiserem), fico sempre espantado quando alguém que não conheço me contacta por email. Mulheres, sobretudo, pelo estigma associado a uma cultura absurda de culpabilização da gaja que toma iniciativas.
Essa culpa assenta na interpretação doutrinada de que quando uma mulher toma a iniciativa é seguramente uma puta.

Muita gente pensa dessa forma e assume tal interpretação, o que pode suscitar faltas de respeito ou abusos de confiança. Ou ainda pior, se tivermos em conta que normalmente desconhecemos de todo o fulano do outro lado da linha.

Por isso me surpreende esse gesto quando se verifica. Pela coragem ou pela certeza que deve exigir a quem na prática abre uma nova via, privada, para a comunicação com alguém.
Desconheço o impulso que leva algumas pessoas a abrirem essa porta a estranhos, embora seja óbvio que essa porta pode fechar-se em qualquer altura (normalmente não é isso que se verifica). Sobretudo quando nem sabem ao que se expõem, pois é fácil pintarmo-nos por escrito de todas as cores na paleta.

O que está em causa é o tal estigma da iniciativa, um horror muito macho a essas coisas que constituem um privilégio de gajo e que, se calhar, até está na origem das tais interpretações erradas: “Olha, a gaja mandou-me um email. De certeza que anda à procura de qualquer coisa”. E afins.

Eu admiro a coragem de quem mete para trás das costas os medos e as falsas questões e assume um comportamento que qualquer pessoa de ambos os sexos deve por princípio ser livre de escolher. Porque reconheço o dilema subjacente, ainda que o objectivo desse contacto “arrojado” seja apelativo o bastante para vencer a renitência. Até pode ser apenas um assunto banal, uma questão menor que se pretende esclarecida fora dos olhos de outras pessoas.
Em privado, longe dos olhares que não se querem demasiado a par daquilo que temos em vista.

Isto pode soar imbecil, pois é voz corrente que já ninguém liga a estas tretas. Mas eu continuo a constatar os tais desvios que conduzem às interpretações levianas e preocupa-me que as reacções menos correctas a esses contactos possam constituir um factor de desmotivação para quem os arrisca.

Por outro lado, muitos romances secretos têm início assim, escondidas as palavras de outros olhares que não os dos interessados.

E isso por si só já basta para justificar essa aposta.
01
Ago06

AGARRADA PELAS ANCAS

shark
ceu espelhado.jpgFoto: Shark
Olhar a vida que se escapa à socapa por entre os dedos, como areia na ampulheta que nos engana com a ilusão de podermos medir o tempo que nos resta pelo tempo que se escoou.Olhar aquilo que passou e sentir que agora é sempre o momento melhor porque se antecipa o sabor do que podemos viver amanhã.

A esperança a encher-nos o peito como ar fresco do final da madrugada. A dúvida dissipada como a neblina instalada por instantes sobre o espelho de água que tão bem reflecte o céu. Um sopro de calor que as afasta com a certeza de que vale a pena lutar pelo que importa conservar, no contexto da felicidade tal como se apresenta ao nosso olhar sobre a vida que não queremos de partida.

A nossa e a dos outros, apenas uns poucos, preciosa. Quem connosco partilha as coisas de que uma vida se faz, lágrimas e sorrisos importantes, pessoas deslumbrantes porque nos arrastam seus ao longo de um caminho que exigimos comum.

Os filhos que fazemos e assim lhes oferecemos o milagre de uma vida para olhar. O amor que dedicamos, tão intenso, e aquilo que recebemos de volta como um sonho que a realidade corporiza. A tangibilidade da nossa presença nos olhos de quem observa a vida num lado de lá que é dentro de nós afinal.
A simbiose total, de vez em quando. Ou o amargo sabor de uma penosa separação. Acontecimentos que nos fazem a história contada em momentos de introspecção partilhada com a confiança que queremos depositar em alguém.

Muitos filhos da mãe, como chacais, envergam os seus punhais, traiçoeiros, e cravam-nos nas costas da alma as exclamações de medo e as reticências que nos intimidam como um gigantesco ponto de interrogação. Quantos mais se cruzarão, insuspeitos, pelo raio de visão de que dispomos sobre a vida que o acaso nos determina e apenas influenciamos nas decisões menores?

A vida com diferentes sabores, amargo e doce, salgado e picante, de todas as cores, amigo ou amante, segmento ou parcela, compete-nos vivê-la como se esta existência tão valiosa estivesse prestes a chegar ao fim.
Faz todo o sentido quando a pensamos assim, efémera, porque nos alerta para a emergência de aproveitar todo o tempo para amar.
Outras pessoas e a nossa essência também.

A vida que se tem, para olhar, usar e abusar antes que escape sorrateira. A folha derradeira no calendário que outras mãos irão rasgar um dia. O tempo parado porque fica esgotado na percepção de que podemos usufruir.

Admito partir mas exijo-me agarrado a este lado com a tenacidade desta indómita vontade de absorver aquilo que me oferecer o destino que alguém traçou (ou não) para mim.

Quero-me assim, incondicional.
Nesta vida que sinto e aprecio como uma mulher especial.

Com as duas mãos.

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