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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

14
Jul06

A POSTA QUE NÃO CAIU EM SACO ROTO

shark
serenidade.jpgFoto: Shark
Buscar a perfeição nos outros é tão absurdo como a procurarmos em nós. Perfeitos são os momentos em que se conjugam factores que nos permitem descobrir o melhor de que somos capazes, pelo que isso implica de sintonia com quem nos reflecte essa virtude ou o feliz acerto com aquilo que definimos como ideal.
Os tais momentos mágicos em que nos transcendemos, derrotamos as limitações que nos impedem de ir mais além e proporcionamos a alguém uma irrefutável evidência da nossa estima e da nossa capacidade de interferir de forma positiva no outro lado da questão.

E as questões são pessoas e os dilemas que a interacção nos coloca. As diferenças, os espartilhos, as divergências ou as simples más interpretações. Um ror de preocupações e de empecilhos que nos afastam do essencial. E o essencial é amar as coisas boas que a vida tem para nos oferecer e lutar contra aquilo que nos inferioriza na difícil perseguição da paz interior individual.
Não é fácil esse caminho e multiplicam-se os cruzamentos e entroncamentos nas estradas que percorremos de acordo com o nosso mapa pessoal e intransmissível. Às vezes não coincide com o do companheiro de viagem e desviamo-nos do traçado original e nem sempre retomamos o carreiro num ponto de intersecção. E acontece a separação.

É aqui que entra a fé tal como a advogo e sei sentir. A fé num rasgo de génio que abre caminho pelo muro de betão que erguemos em nosso redor, como uma redoma opaca, para nos protegermos contra os fantasmas de papel que a nossa consciência produz ou a nossa sensibilidade identifica como potenciais agressores. As falsas questões, os tais dilemas, que se desmistificam com gestos tão simples que nos deixam embasbacados perante a evidência de como é fácil acertar a passada e reencontrar um rumo paralelo, um destino partilhado nos termos que a vida nos impõe. E as tais barreiras dentro de nós, pontuais ou definitivas, ruído de fundo, nevoeiro, que nos privam da estrela polar salvadora.

É esse o tipo de desnorte que não se combate sem as armas que só o amor (sob qualquer das suas formas) nos faculta. O amor instintivo é mais poderoso no nosso sentido de orientação do que qualquer tipo de sinalização luminosa ou outra, pois brilha com a nossa própria luz mais a da(s) pessoa(s) que nos querem bem. E verga os obstáculos com a força desse querer, desenha na terra, na água ou mesmo no céu os trilhos adequados para a inevitável reunificação, com regras mais claras e muita garra para prevalecer, sem a opção desistir. A fé no amor, na amizade, a persistência, aquela irreverência que nos catapulta por instinto para os gestos que definem o que somos, o que queremos e até onde estamos dispostos a ir para conservar intactas as mais valiosas premissas. E estas são o sustentáculo definitivo de qualquer tipo de ligação.
Resistência.

Pouco importam no balanço os números a vermelho que nos afastam da tal perfeição que idealizamos quando aquilo que pretendemos é apenas a alegria da partilha dos momentos melhores e uma mão disponível para nos arrastar pelo meio dos temporais. Tudo o resto é moldado pelos termos em que o caminho a meias se palmilha e pelas contingências da vida de cada um.
Tão simples, afinal.

E pode durar uma vida inteira, acreditas?

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