Foto: SharkBuscar a perfeição nos outros é tão absurdo como a procurarmos em nós. Perfeitos são os momentos em que se conjugam factores que nos permitem descobrir o melhor de que somos capazes, pelo que isso implica de sintonia com quem nos reflecte essa virtude ou o feliz acerto com aquilo que definimos como ideal.
Os tais momentos mágicos em que nos transcendemos, derrotamos as limitações que nos impedem de ir mais além e proporcionamos a alguém uma irrefutável evidência da nossa estima e da nossa capacidade de interferir de forma positiva no outro lado da questão.
E as questões são pessoas e os dilemas que a interacção nos coloca. As diferenças, os espartilhos, as divergências ou as simples más interpretações. Um ror de preocupações e de empecilhos que nos afastam do essencial. E o essencial é amar as coisas boas que a vida tem para nos oferecer e lutar contra aquilo que nos inferioriza na difícil perseguição da paz interior individual.
Não é fácil esse caminho e multiplicam-se os cruzamentos e entroncamentos nas estradas que percorremos de acordo com o nosso mapa pessoal e intransmissível. Às vezes não coincide com o do companheiro de viagem e desviamo-nos do traçado original e nem sempre retomamos o carreiro num ponto de intersecção. E acontece a separação.
É aqui que entra a fé tal como a advogo e sei sentir. A fé num rasgo de génio que abre caminho pelo muro de betão que erguemos em nosso redor, como uma redoma opaca, para nos protegermos contra os fantasmas de papel que a nossa consciência produz ou a nossa sensibilidade identifica como potenciais agressores. As falsas questões, os tais dilemas, que se desmistificam com gestos tão simples que nos deixam embasbacados perante a evidência de como é fácil acertar a passada e reencontrar um rumo paralelo, um destino partilhado nos termos que a vida nos impõe. E as tais barreiras dentro de nós, pontuais ou definitivas, ruído de fundo, nevoeiro, que nos privam da estrela polar salvadora.
É esse o tipo de desnorte que não se combate sem as armas que só o amor (sob qualquer das suas formas) nos faculta. O amor instintivo é mais poderoso no nosso sentido de orientação do que qualquer tipo de sinalização luminosa ou outra, pois brilha com a nossa própria luz mais a da(s) pessoa(s) que nos querem bem. E verga os obstáculos com a força desse querer, desenha na terra, na água ou mesmo no céu os trilhos adequados para a inevitável reunificação, com regras mais claras e muita garra para prevalecer, sem a opção desistir. A fé no amor, na amizade, a persistência, aquela irreverência que nos catapulta por instinto para os gestos que definem o que somos, o que queremos e até onde estamos dispostos a ir para conservar intactas as mais valiosas premissas. E estas são o sustentáculo definitivo de qualquer tipo de ligação.
Resistência.
Pouco importam no balanço os números a vermelho que nos afastam da tal perfeição que idealizamos quando aquilo que pretendemos é apenas a alegria da partilha dos momentos melhores e uma mão disponível para nos arrastar pelo meio dos temporais. Tudo o resto é moldado pelos termos em que o caminho a meias se palmilha e pelas contingências da vida de cada um.
Tão simples, afinal.
E pode durar uma vida inteira, acreditas?