09
Jul06
VOLUNTÁRIOS AMADORES
shark
E de repente uma mudança radical no tom do teu olhar. Os olhos feitos bocas que me chamam como sirenes para a emergência de combater o fogo em ti. Deixas arder, aos poucos, até a temperatura subir ao ponto de ebulição.
Labaredas nos teus cabelos que brilham com a luz reflectida pela minha pele que já cobre a tua, pela urgência e pela minha carência do amor que tens para me dar nessas alturas.
Bombeiro me faço, sem a imagem brejeira, que a minha mangueira é um corpo inteiro ao teu dispor. Soldado da paz dentro de ti, fogo posto no desenho do rosto em forma de desejo a sorrir. A chama que chama por mim, apaga-me com o teu calor, assoberba-me de amor num instante incendiário. Consome-te, pirómano, no inferno em que me transformo para te atrair.
E eu vou, como um asteróide arrastado para a órbita do sol, cobrir-te de beijos, derreter os desejos, sem sombra para me proteger da tua luz que me ofusca. Dentro de ti, a combater o incêndio ateado pelas chispas que os nossos olhares disparam entre si, mais a corrente eléctrica da pele incandescente como um tição.
O poder de uma mão, passagem rente na pista de aterragem para o avião imaginário carregado de suor meu. Encharco-te de mim e tu absorves, sequiosa, como a floresta em aflição no meio de um braseiro descontrolado. Pelo vento que fazemos a dois, energia eólica, soprar arrepios pela boca e espalhá-los pelos corpos em pequenos pedaços de gelo partido. Um copo vazio da caipirinha anterior, a tentação dos dedos em buscar o contraste do frio que te arqueia. Pequenos pormenores, as diferenças que se fazem com o poder arbitrário da imaginação.
E de repente o teu olhar diferente, no rescaldo fumegante de um fogo controlado. O desejo convertido na expressão meiga de uma gratidão que não te aceito, pelo muito que me dás. Deves-me apenas uma próxima chamada, a meio da madrugada ou no pino de uma tarde de Verão. E eu devolvo-te o carinho, neste instante, porque me sinto o amante melhor do mundo e arredores na luz desses teus olhos reflectores que transmitem para o céu a emoção que o meu amor te despertou.
Um beijo que não tem fim. O resto de mim que não te entreguei na altura e que sela com lacre vermelho vivo, cor do desejo intenso, a jura repetida em silêncio enquanto fazemos amor.
A próxima vez, garantido, será sempre a melhor.