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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

06
Jul06

A POSTA CONFUSA

shark
ora deixa ca ver.jpg

Há conflitos interiores muito penosos de gerir. Tanto piores quanto mais contraditória for a essência dos dois extremos em disputa e mais dramáticas se revelarem as perdas associadas a qualquer das decisões finais possíveis.
É que existem conflitos assim, sem uma saída airosa. Uma derrota garantida e a incerteza imediata quanto à escolha acertada do mal menor. Facas de dois gumes e coisas assim.

Como termos que optar entre o apelo do coração e a razão da cabeça, quando esta possui alguma. Acontece mais em vidas intensas e quase sempre lhe está associada uma decisão “impossível” de tomar. Ficamos rasgados por dentro pelas duas metades equivalentes de nós a puxarem as pontas opostas de uma corda. O que devemos contra o que queremos, para melhor apanharem a ideia.
Pode assumir proporções devastadoras, quando nos deixamos enfraquecer por essa guerra sem quartel que se trava sem controlo algum. Eu contra mim, um absurdo cristalino.

Mas é mesmo assim que me sinto nessas condições, encurralado. Sou filho legítimo da emoção e bastardo da racionalidade que me acautela, que me impede sempre de dar o passo longo demais e que pode virar-se contra mim. As duas realidades que me atormentam quando se enfrentam na sequência de um daqueles dilemas em que parecemos um saco de esponja com um gato assanhado no seu interior. As unhas que nos retalham fornecem o conjunto das dores que se apoderam de nós nessas alturas.
Há quem perca as estribeiras no limite máximo da pressão.

É que por vezes, as próprias perdas inevitáveis constituem a única hipótese de salvarmos algo de precioso para nós. Perdemos até o que olhamos como um pedaço da nossa essência, o preço exagerado de algumas formas de abdicação. Para acudir a outra perda que sentimos ou julgamos ainda mais valiosa para experimentarmos a (difícil) felicidade que a vida nos dá a provar.
Às vezes são os outros que criam o problema, outras vezes somos nós. Incapazes de conciliar o impulso palerma com o discurso racional. E as combinações possíveis entre esses quatro quadrantes do nosso reduzido espaço de manobra.

Filha da mãe de provação, quando a sucessão de acontecimentos parece conjugar-se de forma perfeita para refinar o padecimento, para afiar as garras dos miaus…
E depois há os umbigos exteriores, se for o caso, que nos avaliam pelo modo como reagimos ao longo dessas tomadas de decisão. Aumenta a confusão associada e fica quase caótico o campo de batalha onde se desenrola cada “guerra civil” em nós.
Fazemos merda, claro está.

E depois reciclamos os cacos e construímos à pressa um mecanismo de defesa. A sua fraqueza está nas infiltrações de tristeza no muro patético da nossa debilidade interior mal disfarçada, o tal saco rasgado que nunca conseguimos coser e nos deixa à mercê das ondas de choque criadas. As réplicas inesperadas e algum arrependimento, quando calha, pois cegamos perante a exibição necessária do nosso poder, da firmeza das nossas convicções.

Somos umas criaturinhas mesmo parvas.
Falo por mim, claro está.
06
Jul06

GENTE QUE BLOGA - LEONEL VICENTE

shark
Se mantenho o ritmo de só preencher o “Gente que Bloga” às sextas, nunca mais tenho os meus linques aqui no charco na forma que escolhi para os assinalar.
Assim sendo, vou acelerar um bocado a coisa e aumento para duas vezes por semana esta divulgação das blogueiras, dos blogueiros e dos espaços que mais me impressionam de entre a blogosfera a que acedo.
tomar.jpgTomar (Foto de autor desconhecido, recebida por email)
Hoje, para alternar, decidi escolher um gajo. E estou certo de que bastam algumas linhas de apresentação para toda a gente saber de quem se trata.
Está nisto há mais de três anos, o que só por si confere um estatuto especial a qualquer pessoa que bloga. Ainda por cima, ao longo desse período tem sido irrepreensível em matéria de contacto. Afável, cordial e dedicado, possui a aura inconfundível das pessoas de bem.

Tive o prazer de conviver pessoalmente em duas ocasiões com este “histórico” da blogosfera lusitana. Em ambas confirmei os pressupostos nas palavras reflectidos no olhar. Tem um olhar que diz tudo e uma calma e ponderação no discurso que jogam certo com a sua forma séria de blogar. Não alinha na blogosfera “pequenina”, a das intrigas e dos ataques e das questiúnculas pessoais. Tá noutra, sem excepções, e assume essa atitude sem pestanejar.

O Leonel Vicente é um nome incontornável da minha blogosfera e da dos outros também. O seu Memória Virtual constitui um arquivo de muito do que a nossa comunidade se faz, rigoroso, ponderado e com o rigor de quem gosta disto e tem por hábito levar a sério o que bloga. É isso que transpira do homem em causa e do espaço que o traduz.

Exprimo sem reservas a minha admiração por uma pessoa assim.
Vão lá ver do que estou a falar.
06
Jul06

AMIGOS DE PENICHE

shark
mesa vazia.jpgFoto: Shark
É algo que não muda com a alteração aos costumes que o progresso impõe. Uma amizade mostra o que vale nos maus momentos e não nos bons. Porque para curtir os dias porreiros a amizade de quem nos acompanha é dispensável. Quando a coisa dá para o torto, aí sim: os amigos estão lá e os conhecidos batem em retirada.

Conheço um tipo que atravessou pouco tempo atrás um daqueles períodos em que todos os amigos fazem falta. Do seu círculo habitual faziam parte várias pessoas, entre as quais um fulano que tudo indicava ser o mais próximo dele de entre aquele grupo de que faço parte por coincidência.
Todos notávamos as alterações no comportamento do rapaz, cada vez mais incapaz de manter o tom afável e bem disposto que lhe reconhecíamos, mas ninguém se sentia motivado ou legitimado para o questionar. Tirando o tal fulano, Sérgio (segundo creio), os restantes tinham o estatuto de acompanhantes de borga e pouco mais.

Após alguns episódios desagradáveis, o grupo foi-se desmembrando até restarmos quatro ou cinco. Eu seria talvez o gajo mais “de fora”, alinhava porque eles eram uma boa companhia para uma noite de copos pontual. E porque entendia o problema daquele tipo, saturado que parecia de aturar os outros e a si próprio, algo em que me revejo aqui e além.
O tal Sérgio também parecia entender, mas as suas reacções aos maus dias do outro eram cada vez mais extremadas e insensíveis. Claro que nós homens não podemos ter “mariquices” uns com os outros e raramente damos o braço a torcer com as nossas fraquezas, mas eu sentia que a ligação entre eles merecia algum empenho adicional.

Na última vez que saí com eles, éramos apenas um trio. Eu, o Sérgio e o mister X (que o meu escasso anonimato recomenda prudência).
Encontrámo-nos num café da zona do Parque das Nações e seria um serão como os do costume se não fossemos apenas três pessoas, o que me deu a entender que o X estava a ficar cada vez mais isolado. Valia-lhe, julgava eu, o consolo de contar comigo, na condição de ouvinte outsider, e com aquele amigo que o acompanhava desde há anos na rambóia.

Claro que no meio da conversa o X acabou por ter uma das suas intervenções exaltadas, a propósito já nem sei de quê. Eu abstive-me de reagir, embora me sentisse desconfortável pelo que me soou já a desespero, a um pedido de ajuda de um homem em franca degradação psicológica. A vida corria-lhe mal. E aguardei as palavras de apoio do outro, amigo do peito, que o escutava com ar enfadado de quem só estava ali pra ver a bola e tinha mais o que fazer do que aturar choramingões. Um duro, claro…

O X insistia, exaltado a propósito de nada. E o outro, cada vez mais distante, fazia cara de mau. Mas era fácil de ver que o X requeria naquela fase alguma paciência suplementar e alguém disposto a dar-lhe a volta, a apoiá-lo naquele período menos bom.

O Sérgio escutava e rosnava, até ao instante em que se levantou da mesa com brusquidão e disparou à queima: “Ò meu, vai mas é arranjar alguém com quem conversar que eu não te aturo mais.”. E basou.

Ficámos, eu e o X, em silêncio na mesa por alguns minutos. Pouco depois, ele olhou para mim e eu reconheci naqueles olhos um apelo a que não tinha meios de responder. Dei-lhe uma palmadinha nos ombros e confortei-o como pude, tentei desvalorizar a situação.
E li-lhe a tristeza profunda que o invadiu perante aquela deserção infame e de todo inesperada e injusta.

Enquanto percorria o caminho em sentido oposto ao dele, no regresso a casa, senti-me incomodado com a constatação de que a maioria das relações entre as pessoas são assim, ligeiras e superficiais. Duram enquanto não surgem desafios que as expõem na sua futilidade e fachada.

Porque afinal a onda é apenas curtir uma boa.
Cada um na sua.

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