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Jul06
E AMAR BASTARIA
shark

Todo o ciclo tem um fim. Que pode apenas ser um reinício, noutros moldes, como pode revelar-se um complicado processo de transição. A mudança e a esperança num ciclo melhor. Ou no mínimo igual.
O preço da readaptação a novos espaços, a novos ritmos, a novas pessoas até. A incógnita. A insegurança. E o desafio de fazer melhor, aprendida a lição.
Ou não, prisioneiros que somos da teimosia na aposta que fazemos num determinado perfil. Ou numa dada opção. As escolhas que nos competem no pouco que decidimos do que o futuro trará.
Ou não, outra vez. Porque não existem duplicados ou repetições.
E porque algo que se fez pode estar errado apenas em função da conjuntura e ser perfeito na que vier a seguir. A dúvida que se impõe. A incerteza. E a garantia de que vale a pena tentar outra vez, ultrapassada a desilusão. Coisa pouca, feitas as contas, quando o saldo se revela ganhador.
Aquilo que nunca se perde porque nada existe de nosso afinal, senão as memórias da interacção com as coisas e com as pessoas que nos moldam a existência que retocamos com pinceladas vaidosas de um ego castigador.
Dos outros, o nosso, e o contrário também. Conflito de interesses nas rotas de intersecção e o sentimento de posse sem sentido algum. Das pessoas, sobretudo. Estapafúrdio. Porque a vida é um estúdio onde apenas figuramos e nem todas as cenas partilhamos pois é único o papel que o acaso atribui a cada um. A sorte e outros factores, aleatórios, que nos incutem castrantes no âmbito do que chamamos educação. A moral e a religião, mais a opinião dos vizinhos. Aquilo que nos é imposto menos tudo o que alguém entendeu proibir. A sociedade, enfim, o grupo anónimo onde descartamos as culpas para os outros que passaram e as consequências para aqueles que virão.
A força da tradição, obsoleta, mas consagrada nos costumes que repetimos sem questionar. A herança da geração anterior, que nos confunde, até abraçarmos um caminho que nos sirva melhor. Atenuantes da treta para as merdas que nos atrapalham e impedem a progressão em mais um ciclo que assim se completa, inibido. O futuro interrompido pelas questões de pormenor, as mais supérfluas. Sem a nada a ver com as emoções. Apenas os feitios, preponderantes, mais as tais cenas marcantes que sobrevalorizamos em busca de justificações disparatadas para a nossa estupidez.
Tentar outra vez. Falhanços esquecidos, perdões garantidos pelas desculpas de conveniência que o ego sabe sempre providenciar. Esquecemo-nos de amar, no meio da confusão. De estar presentes sem apresentar facturas das nossas amarguras provocadas sem querer.
Esgotamos a paciência em exercícios inócuos de esgrima mental e a única resposta é tão simples de descobrir.
Mas as nossas contas, tão complicadas, são sempre de sumir.