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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

25
Jun06

FIZESTE-ME FALTA

shark
reflexos de ti.jpgFoto: Shark

Amava-me de uma forma muito intensa, quase desesperada. Porque via, porque sabia que eu não era nessa altura mais do que um meteoro que lhe passava pela vida a correr.
E eu percebia o seu anseio em aproveitar a sorte que lhe restava, na sua perspectiva. Que na minha as coisas assumiam outras proporções e via na sua paixão devotada apenas mais uma desilusão que a minha presença na vida ofereceria a alguém.

Os olhos dela ganhavam mais brilho quando eu aparecia no Dois. Nesse dia derradeiro passava a minha malha preferida dos AC/DC, Back In Black, quase um hino ao negro algo gótico que me trajava na altura. Como sempre, aproximei-me do balcão para pedir a cerveja sem a qual a minha noite na pista não podia oficialmente começar. E como sempre já vinha acelerado de outras andanças, fumos em barda e cerveja até doer a pila de tanto mijar.

Mas raramente perdia o controlo de mim e dei por ela nem dez metros adiante, à espera da sua deixa para poder beijar-me como se o seu mundo acabasse amanhã. E fazia-me sentir que esse mundo era eu e eu achava que não valia a pena a aposta, ela só perdia o seu tempo, mal investido num homem que só sabia fazer contas de sumir. Para outro lado qualquer. E depressa.
Era esse o ritmo dos meus dias e nada nem alguém conseguia meter-me travão.

Ela nem tentou. Apenas se aproximou conforme podia, só às vezes, quando eu não desaparecia para um ponto qualquer no horizonte que me parecia bom para observar o pôr-do-sol. E só regressava algum tempo depois, dias até. E ela entregava-se de novo a mim, depois de me chamar a atenção com insistentes carícias no cabelo comprido e revolto que tanto apreciava. E eu, sem assumir qualquer compromisso, oportunista, não conseguia rejeitar tamanha devoção e deixava-me arrastar pela sua beleza e pela sensualidade que transparecia de toda aquela mulher.

Nem sei quanto tempo as coisas se mantiveram assim. Ela a amar-me e eu a fugir, não dela mas de mim. Na correria, com medo que acabasse a energia que me empurrava mais além. O mundo inteiro, era já ali. E eu não podia parar, a corrente quase a acabar e a malta amiga a incentivar-me para avançar um pouco mais na loucura de cada dia. O limite mais distante, o desafio mais importante, mulheres bonitas, grande som, toneladas de chamon, litros de cerveja e muito futebol.
A festa da vida em movimento e ela, terrivelmente apaixonada, a atrapalhar a minha passada quando o que eu queria era acelerar.

Egoísta, nem hesitei. Sabendo que nunca abrandaria, chegou enfim o dia em que parei. A corrida dela na minha peugada, demasiado próxima, demasiado óbvia, ao ponto de me embaraçar. Com o excesso de amor (como é isso possível)? Mas assim parecia na altura, essa doença cuja cura resolvi encontrar antes que a situação ficasse descontrolada.
Jogada combinada, a malta a dar de frosques de mansinho e eu a levá-la para um canto onde a surpresa foi minha pois a ela bastou reparar na minha expressão.

Depois de meia dúzia de palavras vãs, desculpas esfarrapadas, cortesia, acho que lhe pedi desculpa (e bem podia), beijei-a na testa e virei-lhe as costas. Abri caminho pelo meio da pista à bruta, como se fosse de toda aquela gente a culpa de eu ser um gajo assim. Incapaz de valorizar a paixão, de abrandar a pressão da fúria de chegar depressa a lado algum.
Rosto fechado e cérebro anestesiado pela mistura de sensações malucas. Tudo no extremo, sempre um nadinha mais para lá do risco a não pisar. Para provar aos outros o que me desmentia nos raros momentos de tranquila solidão.
O mais atrevido, o mais arrojado, o mais capaz de converter o medo e o bom senso em instantes patéticos de absoluta estupidez em riscos desnecessários que corri.

Antes isso, essa glória dos danados, essa revolta mal contida que se libertava enraivecida no seio de um grupo dos meus iguais. Antes isso do que um amor comprovado, uma companheira dedicada à minha satisfação. Mas que era doce e tentava acalmar-me com o som quente da sua voz e as mãos como bocas no meu cabelo, saboreava-me com os dedos e eu descontraía mas depois qualquer coisa acontecia e eu arrancava rumo a outro pedaço de vida qualquer. E sentia-me desconfortável naquele papel.

Hoje é outro, o meu desconforto quando olho para trás em busca das memórias que me merecem as pessoas que tentaram fazer-me feliz. Não conseguiram, a esmagadora maioria, senão em breves instantes, amadas ou amantes, quando me permitia uma pausa na correria e atinava na boa.
Mas ela conseguiu sempre respeitar-me, entender-me, inspirar-me confiança, confiar em mim.
Nunca me permitia experimentar a solidão.

Ela já não estava por perto quando finalmente percebi a falta que me fazia o calor do seu olhar e o toque suave das suas mãos.
Mais a sua companhia, no alto da falésia da Boca do Inferno que eu gostava de chamar minha, o meu miradouro interior que só ela conheceu, a única “honraria” com que a distingui, tão especial, depois de tudo quanto deu sem nada exigir em troca. Apenas parcelas de mim, em trânsito para outra emoção forte que não a incluía. E ela esperava e sofria.

Recordei há dias o seu amor incondicional que desdenhei, enquanto deixava o olhar percorrer as ondas como fizemos em silêncio ou em conversas muito íntimas, a dois. Permiti-me esse pecado capital na minha estrutura sempre tão avessa à saudade e tão alérgica às despedidas, a propósito já nem sei do quê...

Talvez a propósito de mim, do muito que já perdi pelo que fui e do que ainda perderei pelo que sou.
24
Jun06

A POSTA COPIADA

shark
plagie isto.jpg

O plágio desperta-me um sentimento de asco profundo. Como exibição pública de mediocridade, como revelação de cleptomania intelectual, como manifestação do nojo de pessoa por detrás desse comportamento aberrante.
Por plágio entendo a cópia e reprodução de algo produzido por outrem, assumindo-se a respectiva autoria descaradamente ou por inerência.

Ou seja, um inepto ou uma bronca qualquer pegam no trabalho dos outros e fazem um vistão, mesmo que sejam incapazes de produzir por si algo de bom.
E esses expoentes máximos da imbecilidade (acreditam sempre que nunca serão desmascarados/as e são tão básicos que muitas vezes nem têm o cuidado de adiarem a exibição da sua apropriação indevida) proliferam por este meio sem regras onde muitos chegam a defender que “sim, é legítimo copiar porque tá na net e viva a liberdade e coiso e tal…”.

Não me flixem. Uma coisa é encontrarmos algo que apreciamos e pedirmos licença à autora ou ao autor para o reproduzirmos seja onde for. E sempre, mas SEMPRE, com a indicação (o linque) do espaço onde encontrámos o ORIGINAL. Aplica-se a textos, a fotos, a seja o que for que não é nosso apenas por estar ao alcance de qualquer um.
Não há volta a dar, é uma vergonha para quem o faz. Desmascaram-se assim como indigentes cerebrais, crápulas mesquinhos e com costela de carteiristas (sim, porque o mal é roubar a primeira cena…).
Nunca fariam parte do meu leque de opções em matéria de convívio ou de contacto sequer.

A única forma de combater essa praga é através da respectiva denúncia, o que, neste nosso suporte tão plural, equivale a conceder publicidade de borla ao prevaricador. Não o farei, mas cito os nomes do blogue alegadamente plagiado (Aliciante) e do blogue alegadamente ladrão (Me Myself And I) para que possam por comparação retirar as vossas conclusões. Não sou polícia, nem investiguei coisa alguma para confirmar o pressuposto atrás incluído, daí os alegadamentes da praxe.
Mas acho que os factos falam por si.

A blogosfera é um paraíso para a gentalha sem princípios e sem pudor. Cada vez é mais urgente expor essa bandalheira de pessoas e criar mecanismos para as entalar perante a Lei que, em nome da independência deste meio, parece não ser aplicável em defesa dos direitos de autor.
E multiplicam-se cada vez mais estas badalhoquices impunes, numa blogosfera cada vez mais parecida com o mundo “lá fora” no que este tem de pior.

A liberdade de expressão nunca justificará este tipo de comportamento vil. Aliás, nem a de expressão nem qualquer outra pois ser livre não implica uma carta branca para se fazer o que nos dá na bolha.

Ao que vejo, e porque vi publicados os trabalhos pela Mad em primeiro lugar, a “Carla Sousa”, seja quem for, assina textos e fotos dos outros com um inequívoco “by Carla” que não lhe esconde as intenções. E já bloga há tempo suficiente para perceber as regras do jogo.

E é obvio que não as percebeu.

ADENDA: Como podem constatar no comentário da Mar, na caixa, também o Sociedade Anónima foi alvo da pirataria da fulana. Os alegadamentes deixam de fazer sentido.
A tipa é mesmo daquelas...
23
Jun06

A POSTA NA ESTACA ZERO

shark
A vida é feita de avanços e de recuos. Um pouco como as marés ou os ciclos da economia. É frase feita, mas parece que na estratégia mais comum e bem sucedida um passo atrás pode valer dois adiante depois.

(E vice-versa, digo eu.)
23
Jun06

SOL NASCENTE

shark
anoitecemos.jpgFoto: Shark
Fez-se esquecido do tempo perdido a sonhar um amor que nunca existiu, nessa forma ideal. Ela chegou e ele sorriu, lábios humedecidos pela sede de beijos proibidos, incapaz de virar a cara e recusar a cedência ao apelo que o coração lhe gritava por detrás de um peito a galope que a razão se esforçava, sem sucesso, para travar.
Sentiu-lhe o cheiro do cabelo e estremeceu. Tinha a noção de que perdia nesse instante a batalha interior contra a violência de um amor que o agredia. Mas impossível de renegar.

Masoquista, avançou. E no empenho que dedicou estava a certeza adquirida de que nenhuma esquina da vida o libertaria daquela prisão emocional. Amou-a até o corpo lhe pedir clemência, condenado, o pescoço marcado pelo ferro em brasa de um chupão. Daquela boca sempre sua que vestia o rosto da mulher nua com sorrisos despidos de pudor, marotos.
Cumplicidade que se fez em muitos momentos de nudez, da alma também.

A felicidade simples da emoção adolescente num adulto consciente da sua reclusão mal assumida. Pregava-lhe uma partida em cada troca de olhares, raios de luz rasgando o espaço entre ambos como o prenúncio de uma tempestade de Verão. O calor que os derretia, no amor que os fundia como vidro pronto a moldar.
Cálices de cristal, reflexos coloridos pela luz intensa do sol que os iluminava abraçados mesmo à beira de uma mesa posta para dois.

Vinho gelado a arrefecer as gargantas que aquecia depois, com as palavras que devolvia embriagadas de fantasia mas controladas pela lucidez. Choque térmico de correntes opostas numa ligação paradoxal, fios descarnados, pontas soltas, a energia desperdiçada no desnecessário acerto das contingências e limitações. Imensas discussões, para nada. Acertos das agulhas magnéticas com pólos sobrepostos, atraem-se os opostos quando não falha o sentido de orientação.

Mas ele fez-se esquecido do tempo investido a alimentar uma ilusão. Ela partiu e ele sorriu, lábios abertos de par em par, promessa renovada, na separação forçada, de um reencontro inevitável algum tempo depois.
Ela não negava aquilo que a arrastava para os braços que agora a envolviam sob a tez alaranjada do ocaso que os despediu.

E a mente dele partiu desarvorada rumo à alvorada do dia em que estariam juntos outra vez.
23
Jun06

A POSTA QUE VEM A SEGUIR...

shark
...É que é a de hoje. Esta é só para partilhar convosco, os que não Weblogam, o cagaço que o Weblog me pregou esta manhã.


503 Service Unavailable
The service is not available. Please try again later.

Só assim é que um gajo dá pela falta que isto lhe faz.
22
Jun06

A POSTA NA VARIEDADE

shark
Nunca consegui aprender com as minhas asneiras algo que me impedisse de as repetir. Pelo menos com boa parte delas assim aconteceu.
Isso não faz de mim um tipo muito esperto.

É que não faltam erros novos para um gajo desbundar…

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