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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

27
Jun06

FAZ-TE BEM, AFASTARES-TE DE MIM

shark
porras.jpg

Disse-lhe ele em tom paternalista, descontraído, mais uma vez. E ela esboçou o sorriso amarelo possível a quem não pode protestar sem ao mesmo tempo experimentar uma estranha forma de humilhação. Mas engoliu a pasta viscosa de indignação com tristeza mais a revolta batida em castelo, tão clara como a certeza que ele acabava de lhe (re)transmitir.
Sem réstia de fé, ela prosseguiu com a explicação do afastamento temporário como consequência de inúmeras partidas que a falta de empenho dele lhe pregava. Magoada pelo desmazelo, gritava-lhe em voz baixa, inaudível, que lhe pedisse para ficar perto, que lhe pedisse desculpa, humilde, por aquilo que ele desvalorizava, por sistema, como simples lapsos ou distracções que deixava cair a toda hora em cima dos dedos dos pés imaginários de um amor já sem pernas para andar.

E ele insistia, deixa-te disso e bute curtir. Numa boa, assim o queria, brincamos ao faz de conta e a coisa resulta na mesma. Mas não era assim que ela pretendia. Pedia-lhe respeito e cortesia e ele refugiava-se na sua falta de pachorra para as formas mais sérias de fazer as coisas.
Aligeira, dizia ele, que tudo correrá melhor.

E ela abria o jogo, lutava. Por aquilo que acreditava ser indispensável para justificar uma relação digna de tal nome. Mas perdia. Vezes sem conta, goleada, pontapés na boca virtuais. Até a esperança lhe chamar maluca e abandonar o ringue de forma voluntária.

Aconteceria quando ele menos esperava, sem hora marcada, sem qualquer agitação. Apenas a constatação da influência que ele exercia, levada à letra, mas nos termos que ela decidisse impor. O fim absoluto das ilusões romanescas, a ligação descomprometida e livre dos condicionalismos que tanto o atormentavam, liberal, quando ela os defendia. A faca de dois gumes para a arrogância masculina, expressa na resposta que ela escondeu por detrás de um sorriso ligeiro, no meio de um pensamento que pela primeira vez a invadiu, quando finalmente caiu em si.

(Não perdes pela demora…)

E não perdi. Pouco tempo depois, há cerca de vinte anos, descobri a minha pequena costela conservadora.
27
Jun06

MESMO COM AS LETRAS TODAS

shark
aeiou.bmp
Ainda há dias voltei a zurzir na pele da malta do AEIOU, no que já se encaminhava para assumir contornos de tradição. É que eu sou um bocado rude na forma como manifesto a indignação, da mesma forma como tento ser gentil quando as coisas me agradam.

Agradou-me a reacção da Cátia Pitrez à minha posta (que ela, polida, apelidou de sugestão), reacção essa que me chegou na forma de email. Exactamente como aconteceria nos tempos a que queremos regressar. Ou ainda melhores, pelos meios superiores de que o AEIOU dispõe para tomar conta desta realidade construída e mantida a meias.

Pois é, pela voz (pelo teclado) da Cátia, o AEIOU comprometeu-se a resolver o problema que aqui expus. E o que tem isso de especial?
Nada, se quisermos ver as coisas de forma desapaixonada.
Mas eu não sei ver as coisas dessa forma e por isso digo que a especialidade consiste em três aspectos que prenderam a minha atenção:

1 – Ao meu tom jocoso a roçar o hostil, correspondeu uma mensagem formal mas sem frieza;

2 – A malta do AEIOU lê os nossos blogues. Eu não encaminhei a minha crítica para eles e, todavia, obtive uma resposta;

3 – À questão que levantei correspondeu um compromisso de resolução do problema.

Do conjunto destes factores depreendo uma nova política nas relações da empresa connosco e isso faz-me saborear por antecipação um regresso aos tais dias melhores que defendo.
É que eu não acredito em instituições sem rosto, sem alma, sem comunicação. E a Cátia, assumindo o papel que a empresa lhe atribuiu, acaba de conferir tudo isso à realidade sem contornos definidos que para nós se afigura o AEIOU SA e este barco que mantemos à tona. Pelo menos neste episódio obtive aquilo que reclamava e a partir de agora terei o cuidado de lhes comunicar previamente por email, sempre para pugnar por um Weblog à altura, aquele que a nossa vontade exige melhor do que qualquer outra plataforma.

Fica expresso o meu reconhecimento pela nova atitude que a Cátia personificou.
Eu gostei.
27
Jun06

EM SENTIDO FIGURADO

shark
in my dreams.jpg

Concentrou o olhar na pequena caixa em cima da mesa. Deixou-se estar, dentro de si, sentado numa cadeira imaginada a contemplar o receptáculo de algo que desconhecia mas que presumia tratar-se de uma parte significativa daquilo que o compunha.
Algo de que sentia a falta, mesmo sem saber do que se tratava, encerrado naquela caixa pousada numa mesa desenhada pela imaginação dentro de um crânio com arame farpado e um guarda armado para evitar as intrusões. Para sua protecção, incapaz de permitir que algum curioso emboscado pudesse observar em simultâneo o que pressentia como uma revelação.

Tentava controlar as emoções e só aí lhes dava pela falta, a sua reprodução mental sentada num espaço imaginário com fundo cinzento como um horizonte de temporal. A ausência mais notada e a caixa apontada como principal suspeita de conter algo que lhe pertencia, de forma ilegítima. Imoral.

Olhou a caixa com um ar circunspecto, agente secreto, detective particular. Lá dentro a resposta, certamente. E ele antecipava o gosto da vitória pelo desvendar do mistério, mesmo ao alcance da sua mão sonhada naquela figura sentada sem nexo no meio de um ambiente sombrio.
Fantasmas em seu redor, ameaças. Comiam como traças os retalhos de tecido do seu uniforme de soldado desertor. Fugira do amor, em plena batalha, incapaz de pactuar com a disciplina militar que lhe impunham os sargentos instrutores.

Esburacado, como se sentia. E seguramente preferia sentir-se embaraçado perante uma plateia, semi-nu, do que enfrentar o julgamento que se impunha, carrasco e juiz, daquilo que sentia como mais uma pequena facada na carne retalhada da sua esperança em agonia final.
E a caixa, se calhar, continha a sentença que apreciava de fora com os olhos que a sua cabeça inventava para lhe proporcionar o triste espectáculo das suas introspecções num ecrã panorâmico com imagens em três dimensões.

Esticou a mão para a abrir, culpado da loucura que lhe agravava a pena com a vontade irreprimível de se auto-flagelar. Suportava as culpas alheias mais as vinganças merecidas pelas suas reacções. Na caixa as punições que o aguardavam e ele de mão esticada para soltar os demónios dentro de si, outra vez.

Afinal quando a abriu contemplou o vazio.
E cruzou os braços, fatigado, o que em sentido figurado simbolizava as lágrimas que se sentia incapaz de verter.

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