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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

20
Jun06

A POSTA NUM IDEAL EM CONDIÇÕES

shark
ate ao fim e mais alem.JPGFoto: Shark
Eu sei que na maioria dos casos a vida desmente as utopias que desenhamos, como petizes, sobre o fundo rosa do papel fantasia que nos forra as ilusões.
Por isso mesmo as utopias funcionam como um Santo Graal, um objectivo a perseguir para assim contrariar o tédio de uma existência sem sonhos. Uma fé como outra qualquer, tão realista como a certeza de que Ele está em todo o lado e cuida de (uma parte de) nós.

O pragmatismo é o maior adversário de qualquer veleidade utópica. A realidade, que deveria ser tão bela quanto o milagre da vida que nos permite recolher a sua percepção, exibe-nos a todo o instante os aspectos menos agradáveis da sua composição.
As pessoas, nós todos, fazem parte desse pesadelo que nos acorda para a necessidade de manter ambos os pés bem firmes no solo para não vacilarmos perante as traições corriqueiras aos princípios fundamentais.
Como se tivéssemos a obrigação universal de despertar à estalada, tão trágico, os ocupantes do tapete mágico que vêem unicórnios e acreditam no Pai Natal.

Houve diversas fases da minha vida em que as utopias cederam à força bruta dos factos que as esmagavam sob o peso das mais diversas desilusões. A ideologia perfeita, manipulada sem escrúpulos pelos bandalhos do costume alcandorados ao poder. A profissão ambicionada, absolutamente eliminada das perspectivas por questões meramente conjunturais. A capacidade de fazer coisas decentes pelos outros, corroída pelas forças do bloqueio que empatam iniciativas com a sua arrogância, a sua estupidez ou a simples cegueira pelo poder pequenino que a qualquer medíocre satisfaz.
E acima de tudo, a confiança cega no cariz eterno da amizade e do amor verdadeiro. Um requisito fundamental para alimentar a versão romanceada da vida de qualquer sonhador.
As mais hostilizadas premissas pela frieza objectiva das coisas como elas são.
Como as deixamos ser.

Já soa ridículo acreditar no amor, como se este existisse apenas nos contos de fadas que Hollywood produz (sem magia) para se substituir aos livros que dantes cumpriam essa função, quanto mais acreditá-lo eterno (até ao fim da vida e mais além)...
Ah ah ah. Consigo ouvir neste lado mudo do meu monitor as expressões trocistas dos que perderam a esperança ou a deixaram fugir, cobarde, com medo da verdade que é o cutelo que nos amputa a ilusão.
“Tente mais tarde, estamos com problemas no servidor.”

Quem nos serve é a vida, o prato frio de uma vingança construída a partir dos escombros de cada amargura e de cada aventura sem um final feliz. E felicidade genuína não precisa de ter um fim, arrisco eu. Nem a morte que nos priva da a usufruir consegue destruir o que a perda de consciência protegeu nesse derradeiro suspiro. Levamos connosco cada alegria que vivemos, cada memória que preservamos, cada sonho por concretizar.
A utopia também, se conseguirmos arrastá-la com persistência através dos obstáculos aos milhões, com pernas, mais o destino sem penas que quantas vezes nos arrasa as expectativas com um sismo a que chamamos azar.

A sorte é acreditar no que pintam de cinzento impossível, como daltónicos optimistas que cobrem de verde as mazelas e correm como gazelas pelos campos floridos da sua obstinação na vitória do que entendem como a única meta a atingir. Corremos para fugir ao gigantesco despertador, ao desenlace dantesco do fim de um amor ou de outra emoção divinal. E rara, por isso preciosa aos olhos do mercado de sentimentos cuja oferta deserta e a procura ameaça, a cada tropeção, desistir.
É importante resistir, a toda a hora, e lutar pela vida fora por esse cálice mágico que nos embebeda de euforia no tal reino da fantasia que precisamos salvar.

A nossa verdadeira essência é alheia à consciência de que são causas perdidas as apostas totais, as entregas divididas em pequenas porções de nós, até às partes hesitantes perante a desilusão possível se unirem confiantes no todo feito da força que a esperança nos dá. E o prémio é uma medalha feita de bocados de estrelas bordados em tecido daquele com que se faz o céu.

O prémio em disputa é uma vitória na luta que deixaremos registada como um exemplo a seguir. A utopia conquistada é uma teoria comprovada, um caminho desbravado por pioneiros da teimosia e por amantes de um rumo sonhado com tanta insistência que se obriga na prática à sua concretização. Na perseguição feroz, contra tudo e contra todos, de uma prova inequívoca do poder que a amizade e o amor evidenciam quando lhes damos uma oportunidade decente para exibirem a sua prevalência sobre todo o tipo de desânimo, de desprezo, de ódio e de mesquinhez. Sobre todas as armas de que o inimigo dispõe.
O inimigo é a cedência ao falso inevitável, ao consolo frustrado dos que afirmam impossível contrariar uma tendência e depõem a fé e a vontade aos pés da tal realidade que nos compete afinal moldar.

Contudo, existe quem não aceite a derrota e instale uma frota poderosa no mar da incerteza para garantir uma rota para o sonho, qualquer um, pelo qual se justifique enfrentar sem medo a iminência de um temporal.
São esses os meus heróis, os que acreditam nas emoções.

E que nunca abdicam da sua fé num ideal em condições.

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