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Mai06
A POSTA UNILATERAL
shark
Em pouco tempo, mais duas pessoas próximas cravaram na minha pele as garras do desprezo por tudo quanto represento e por tudo o que sou.
Sou um homem desconfiado, mas leal. Sou impulsivo, desbocado, possessivo, demasiado conservador na teoria para uma prática tão liberal. E vice-versa.
Como qualquer pessoa não sou a todo o tempo bom nem a todo o tempo mau. Como qualquer pessoa, tento acumular os pontos necessários para me defenderem em tempo de derrotas. E somo esses pontos na caderneta de quem me ofende, para justificar o perdão.
Contudo, a vida ensinou-me que o meu perdão é unilateral. Quando erro fecham-me a porta na tromba. E não ficam por aí.
E eu questiono-me o porquê de não seguir a mesma política, de atraiçoar quem me magoa, de atacar quem me desilude, de apagar num instante tudo o resto no prato da balança. E um dia a resposta teria de surgir.
Chegou a hora de fechar o portão a cadeado, de pagar aos outros com a mesma moeda. Deixo cair. De vez. Sem prazer algum nesse instante de ruptura que se soma a tantos outros com que a vida, mesmo por intermédio deste blogue que me expõe, me esbofeteou.
Não permitirei que volte a acontecer, essa intrusão de cavalos de Tróia que me oferecem a ilusão de que estou escudado pelas contrapartidas que dou, pelos elos de ligação, pela amizade e pelo amor que quem obteve de mim não pode negar.
Recuso-me a aceitar este desequilíbrio que algo na minha conduta suscita nas relações com as outras pessoas, ainda que forçado a reconhecer que boa parte do mal está em mim. Está nos outros também, insidiosos, raivosos, que se viram a mim apenas por manifestar a minha indignação quando algo me magoa. Basta isso para despoletar a minha queda a pique, para rasurar tudo quanto de bom fiz no passado ou prometi na minha vontade de um futuro melhor.
Não sou bom de assoar, reajo à bruta quando me atacam ou ameaçam. E aos mais próximos também, que nunca hesitei em acorrer em sua defesa enquanto os considerei dos meus. Faz parte da minha natureza, da minha formação pessoal.
Sou intenso no que faço de mal como no que consigo proporcionar de bom a quem me acompanha. Sou uma pessoa normal, com altos e com baixos, com virtudes e com defeitos, capaz de cair em mim quando falho. Apenas exijo o mesmo de quem se aproxima. E nem a isso me reconhecem o direito.
E sofro, claro. Sinto no peito a dor do desespero e a da desilusão. Mas luto, claro. Luto para salvar o que resta da confiança em mim próprio, para ultrapassar as mazelas da minha incapacidade para lidar de perto com as outras pessoas.
Fico melhor à distância.
E assim me colocarei, a partir de agora.