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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

30
Mai06

JURO QUE PAGARÁS

shark
De forma voluntária, os cidadãos de classe média sobem a escada até ao patamar da ilusão. Degrau a degrau, eufóricos, conquistam as alturas embalados pela garantia de prosperidade eterna que se insinua nos principais indicadores. Sucesso, aumento salarial, promoção. Vida nova para os vencedores, aclamados como heróis pela plateia invejosa, acolhidos como iguais nos camarotes ou nos balcões. Lugar cativo no festival da ostentação.

Ao longo da subida, a ambição desmedida é o motor principal das mais celebradas realizações. Bons negócios para os patrões e outras vitórias pontuais, riqueza. Beleza de sonhos, impossíveis de concretizar, carro novo, roupa fina, bom colégio para a menina e uma casa mais bonita e descaradamente maior.
Bem vindos, senhoras e senhores, ao mundo fantástico do poder ter. Tudo o que se queira, crédito à maneira, facilidades de pagamento e oportunidades de investimento, só não tem quem não quiser. Privações, só para os outros, mais abaixo, os satisfeitos com o pouco, incapazes sociais.

Mas para si, só o melhor. Assine aqui por favor e oferecemos-lhe esta magnífica gravata fabricada na cordoaria, feita para durar uma vida em redor dos pescoços de excepção como o seu. Alivie o nó sempre que queira, ignore a ratoeira, acrescente um contrato com suaves prestações. Em frente é o caminho, amanhã logo se vê.

E a classe média avança, destemida, pelo palco da vida minado de tentações. Quero isto, quero aquilo, lágrimas de crocodilo nas traseiras dos globos oculares dos que preparam a rede para a retirarem depressa quando chega a hora de cair mais alguém. Ciclos da economia, inevitáveis como os gurus que os teorizam. Porém, enquanto a prancha desliza na crista da onda sinusóide ninguém se preocupa com a rebentação. O surfista desprevenido mergulha nas águas gélidas do incumprimento e serve de alimento a uma seita implacável de tubarões. Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma num pesadelo económico que o cidadão anónimo assume como consequência da ingénua esperança de escapar à sua posição na cadeia alimentar financeira. Bom proveito, senhor credor...

Mas a classe média insiste em avançar, esperançada, sobre os despojos dos eliminados pela crise anterior. Caminham, sorriso nos lábios, para o destino reservado à maioria dos sonhadores do mercado dito global. A verdade chega quando a vida abre o alçapão e a gravata de corda lhes abraça o pescoço como uma anaconda, até ao suspiro financeiro terminal. Puf, como um sonho pintado no interior de um balão na banda desenhada em que a sociedade se tornou. Lembra-se, caro insolvente potencial, de toda a papelada que lhe deram a assinar aquelas pessoas sorridentes que o encorajaram quando o seu processo de ascensão iniciou?

No bolso do carrasco, essas cópias autenticadas da sua autorização isentam de culpas qualquer executor. Imaculado o seu extermínio social, purificada a sua desapropriação. Tudo dentro do espírito da lei que aceitou por subscrição voluntária, temerária, e que agora os falsos amigos de outrora utilizam a seu desfavor sem um pingo de hesitação. É mesmo assim, dizem eles. São regras do jogo que todos aceitamos pela distinção de nos permitirem jogar, perder ou ganhar. Admissão reservada.
E só joga quem quiser, ninguém é obrigado mas apenas convidado para participar nesta evidente batota onde a sorte se forja e o azar é demolidor.
Só questionam este sistema pernicioso aqueles que lhe conhecem as reacções de homem atraiçoado, de senhorio desrespeitado, odioso, a raiva controlada de uma máquina calibrada para triturar sem apelo quem se desiluda nalguma conjuntura menos boa.

Oxalá nunca saiba como.

Nunca entenderá porquê.
30
Mai06

E SABER AMAR

shark
indomavel.JPGFoto: Shark
E escutar os gemidos à passagem dos beijos tremidos pela emoção que espalho com a boca na tua pele. Isso também. A tua vontade a controlar a minha sede de te amar, em crescendo, enquanto vou descendo em bicos de pés (da minha língua) pela seda em que o teu corpo se transformou quando o toquei.
A pressa amordaçada na frase descontrolada que nos teus lábios vedei. Entra em mim, o que querias dizer.

E o desejo a acontecer, reacção em cadeia, deitados, plantados num campo em flor, a ideia de paraíso que o teu delírio de amor recriou para nos emoldurar.
Rebolamos pela terra áspera e ressequida pelo sol, fantasia, enquanto deslizamos pelo lençol como se o mundo estivesse mesmo para acabar. Amanhã, talvez.
Pois hoje é a nossa vez de celebrar a existência no abraço da confluência entre dois rios que se reúnem na foz.
O som diferente da tua voz, como o da água selvagem, suor, em plena descida pelo desfiladeiro que as tuas pernas erguem em meu redor enquanto mergulho no turbilhão.

E o som da nascente pouco tempo depois, repouso fugaz, a gotejar, sinto-me capaz de alvoraçar essa tua serenidade com a força da minha vontade no fragor de uma invasão. Imponho-nos a tesão e apodero-me de ti, conquistador. Em nome do amor, como um corsário, tomo posse da riqueza incomensurável que o destino me concedeu. Com tudo o que é teu, esse olhar onde aquilo que se lê é o reflexo de um homem apaixonado, afinal à tua mercê.
Dominante e dominado, um amante deslumbrado pelo rosto ardente que se contrai, mais acima, em perfeita sintonia com o clima escaldante que o ritmo das tuas ancas nos impõe.

E a vida de que se dispõe, inteirinha, para sonhar que tu és minha e acordar para a realidade desta nossa intimidade com o teu cabelo espalhado pelo meu peito e nas virilhas o calor discreto de qualquer uma das tuas mãos, sempre que nos embebedamos do prazer a dois.
Gosto muito do depois e não me imagino abdicar deste intenso desejar de outro momento feliz, logo a seguir. O futuro melhor, sem temer o amor pelas suas fragilidades e incoerências, as causas e as consequências das adversidades a combater.
A pica do desafio.

E eu solto o rio pelos sulcos que o meu corpo grava no teu, erosão momentânea. No coração a marca espontânea que sempre deixa quem nos faz bem. E sabe ainda melhor, a segunda enxurrada.
A roupa encharcada pelo caminho que ambos conhecemos de cor, o leito que encaramos como a única opção. A nossa tentação levada da breca a embrulhar-nos noutra queca como um par de siameses num incesto inadiável, num pecado impossível de rejeitar, garantido o perdão. É legítima a paixão quando os braços que se procuram, por sistema, são laços que perduram na nossa forma única de abraçar o amor.

E conto a nossa história para que se incruste na memória com a tenacidade de um mexilhão colado à solidez de um rochedo que lhe espanta o medo de algum dia mirrar. Pela solidão garantida, em cada esquina da vida que aconteça nos pesadelos experimentados sem ti.
Que humedeces agora cada um dos meus sonhos na respectiva materialização.

E seguro-te a mão com firmeza, imbuído da certeza de que vou querer-te outra vez.
Em cada instante do meu tempo por gastar.

E mesmo quando esse acabar, ficará o testemunho das lembranças que te deixo.
Como estas palavras intensas para gáudio do teu olhar.

E só.

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