Foto: SharkE escutar os gemidos à passagem dos beijos tremidos pela emoção que espalho com a boca na tua pele. Isso também. A tua vontade a controlar a minha sede de te amar, em crescendo, enquanto vou descendo em bicos de pés (da minha língua) pela seda em que o teu corpo se transformou quando o toquei.
A pressa amordaçada na frase descontrolada que nos teus lábios vedei. Entra em mim, o que querias dizer.
E o desejo a acontecer, reacção em cadeia, deitados, plantados num campo em flor, a ideia de paraíso que o teu delírio de amor recriou para nos emoldurar.
Rebolamos pela terra áspera e ressequida pelo sol, fantasia, enquanto deslizamos pelo lençol como se o mundo estivesse mesmo para acabar. Amanhã, talvez.
Pois hoje é a nossa vez de celebrar a existência no abraço da confluência entre dois rios que se reúnem na foz.
O som diferente da tua voz, como o da água selvagem, suor, em plena descida pelo desfiladeiro que as tuas pernas erguem em meu redor enquanto mergulho no turbilhão.
E o som da nascente pouco tempo depois, repouso fugaz, a gotejar, sinto-me capaz de alvoraçar essa tua serenidade com a força da minha vontade no fragor de uma invasão. Imponho-nos a tesão e apodero-me de ti, conquistador. Em nome do amor, como um corsário, tomo posse da riqueza incomensurável que o destino me concedeu. Com tudo o que é teu, esse olhar onde aquilo que se lê é o reflexo de um homem apaixonado, afinal à tua mercê.
Dominante e dominado, um amante deslumbrado pelo rosto ardente que se contrai, mais acima, em perfeita sintonia com o clima escaldante que o ritmo das tuas ancas nos impõe.
E a vida de que se dispõe, inteirinha, para sonhar que tu és minha e acordar para a realidade desta nossa intimidade com o teu cabelo espalhado pelo meu peito e nas virilhas o calor discreto de qualquer uma das tuas mãos, sempre que nos embebedamos do prazer a dois.
Gosto muito do depois e não me imagino abdicar deste intenso desejar de outro momento feliz, logo a seguir. O futuro melhor, sem temer o amor pelas suas fragilidades e incoerências, as causas e as consequências das adversidades a combater.
A pica do desafio.
E eu solto o rio pelos sulcos que o meu corpo grava no teu, erosão momentânea. No coração a marca espontânea que sempre deixa quem nos faz bem. E sabe ainda melhor, a segunda enxurrada.
A roupa encharcada pelo caminho que ambos conhecemos de cor, o leito que encaramos como a única opção. A nossa tentação levada da breca a embrulhar-nos noutra queca como um par de siameses num incesto inadiável, num pecado impossível de rejeitar, garantido o perdão. É legítima a paixão quando os braços que se procuram, por sistema, são laços que perduram na nossa forma única de abraçar o amor.
E conto a nossa história para que se incruste na memória com a tenacidade de um mexilhão colado à solidez de um rochedo que lhe espanta o medo de algum dia mirrar. Pela solidão garantida, em cada esquina da vida que aconteça nos pesadelos experimentados sem ti.
Que humedeces agora cada um dos meus sonhos na respectiva materialização.
E seguro-te a mão com firmeza, imbuído da certeza de que vou querer-te outra vez.
Em cada instante do meu tempo por gastar.
E mesmo quando esse acabar, ficará o testemunho das lembranças que te deixo.
Como estas palavras intensas para gáudio do teu olhar.
E só.