25
Mai06
A ALICE AINDA NÃO MORA AQUI
shark

Está de novo a ser discutida a questão dos direitos do autor que bloga, na sequência de um episódio que envolveu dois blogues e já arrastou uma série de alianças e de lealdades para o meio da contenda.
Deixando de lado os contornos sempre foleiros deste tipo de situação, no caso concreto está em causa a publicação de uma foto sem qualquer menção ao respectivo autor.
Enquanto alguns defendem que se trata de algo normal, considerando que quem oferece o seu trabalho na net deve sujeitar-se à respectiva reprodução sem miar, outros consideram nada menos do que um roubo essa apropriação indevida do trabalho de outrem.
Se a questão legal, a balda em que navegamos, não oferece grande margem de manobra para discussão e cada um faz o que quer de forma impune, a questão ética pia mais fino.
Se é legítimo aceitar que é simpático alguém reproduzir os nossos trabalhos (palavras e/ou imagens) nos seus espaços, não há forma de contornar que essa reprodução sem autorização expressa (enfim, nem sempre possível de obter) e acima de tudo sem menção ao autor e respectivo linque passa a assumir os contornos de plágio.
Ou pelo menos de falta de respeito por quem executou o trabalho em causa.
Não estou envolvido de forma alguma, antes pelo contrário, com nenhum dos protagonistas de mais este sururu em torno de um tema recorrente na blogosfera e por isso não me sinto inclinado para tomar partido por alguém. A minha opinião deriva apenas do facto de considerar que ao vazio legal não deve corresponder um vazio moral na nossa conduta blogueira.
Nem é preciso um grande esforço de raciocínio para entender isto. E se aceito com passividade a reprodução de fotos minhas sem menção em blogues espanhóis, italianos ou holandeses, como se verifica, recuso-me a fazer de conta que não vejo quando um blogger português afiambra o que faço e nem se digna a oferecer-me o privilégio da divulgação orientada (o tal linque que constitui desde sempre um sinal de reconhecimento nos nossos tiques comunitários).
Por isso me vejo na contingência de manifestar a minha posição na matéria. Não aceito que prevaleça a teoria do vale tudo menos tirar olhos, da mesma forma que não me sinto no direito de exigir outra contrapartida que não essa simpática identificação de onde veio e de quem fez.
E não cola o argumento de que existem meios informáticos de impedir essa ausência de citação, pois não só esses recursos acabam por impedir o normal visionamento do trabalho em causa (marcas de água e cenas assim) como é óbvio que tal argumento visa apenas a paz na consciência dos que não querem ou não sabem como proceder no âmbito das regras do jogo nesta plataforma que, afinal, nem divergem assim tanto das regras lá fora.
A blogosfera é um espaço de liberdade e não um espaço de anarquia. Alguns pressupostos devem ser tidos em conta para que tudo isto não se transforme numa imensa bagunça onde os mais aptos não arrisquem mergulhar.
É que a leviandade dos que defendem o plágio ou a apropriação/divulgação indevida do trabalho dos outros, para além de nem oferecer discussão, aplica-se na boa a figuras anónimas e sem projecção mediática que, por inerência, sugerem impunidade garantida ao plagiador/abusador. E a isso soma-se a falta de respeito por esta plataforma que, no meu entender, é tão digna de ser respeitada como qualquer suporte institucional (como o papel, por exemplo).
É fazer de advogado do diabo, juntar a minha voz à perspectiva mais careta e menos liberal. Todavia, se queremos levar a sério este investimento em energia e em tempo, o nosso e o dos outros, não podemos aligeirar alguns compromissos que têm tanto lugar neste meio como em qualquer outro.
E no fundo acabam por constituir a única fonte de retorno, a única compensação do esforço que desenvolvemos aqui.
Não entendo porque alguns colegas não são capazes de perceber uma coisa tão simples.