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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

24
Mai06

TIRO NO PÉ

shark
caladinho.jpg
O silêncio é uma das armas mais letais ao alcance de quem quer magoar alguém. Pode implicar desprezo, desconsideração, chantagem emocional (se o mutismo se escuda numa impunidade presumida) ou mesmo o fim abrupto de uma ligação entre pessoas.
Presta-se à especulação, à dúvida. E por isso se torna tão eficaz nos seus propósitos, humilhando quem se vê alvo de tal estratégia.

Contudo, a vulnerabilidade ao silêncio é proporcional à estima que dedicamos a quem nos agride dessa forma.
Essa é a surpresa que podemos reservar ao agressor, escavacando as suas certezas com a ausência de uma reacção.

Por isso é que o silêncio utilizado sem moderação pode resultar facilmente num beco sem saída.
E quando isso acontece e o impasse não se quebra, o agressor não sai necessariamente vitorioso com a sua estratégia.

É que assim, sem eco da sua actuação, fica sempre no ar a dúvida acerca de quem afinal perdeu com a cena…
24
Mai06

NUM PLANO ELEVADO

shark
Como um colibri, percorro o teu corpo despido em busca do pólen que me fertiliza a vontade de te possuir com a graciosidade do condor, a sabedoria da coruja e a energia do falcão.
24
Mai06

A POSTA NA BIZARRIA VIRTUAL

shark
o culto dos vivos.jpg
Já ultrapassa os mil e setecentos comentários, o mais animado velório virtual de que há memória. O fenómeno deixa-me boquiaberto e confirma as minhas suspeitas de que paira algo de estranho na blogosfera.
O Semiramis, de que vos falei tempos atrás a propósito do alegado falecimento da respectiva autora (continuo sem saber se aconteceu ou não esse óbito), transformou-se num espaço de convívio entre cibernautas, numa espécie de chat room mórbida onde a malta vai fazendo amizades e trocando umas larachas como se o blogue em causa continuasse activo como dantes.

E continua, pois ninguém parece empenhado em encerrar o espaço. Vendo bem as coisas, considerando o cariz surrealista do fenómeno, até acaba por ser uma decisão compreensível(?). O cadáver do Semiramis (sem actualização desde o início de Fevereiro) continua em missa de corpo presente e ninguém parece incomodado com a putrefacção…
Não quero com isto deixar implícito qualquer juízo de valor, até porque esgotada a maluqueira X-Files do mistério do desaparecimento da Joana, a rapaziada elevou o nível dos comentários ao ponto de a caixa se tornar poliglota. Em inglês, por exemplo, ou em árabe, encontram-se algumas pérolas no meio de toda aquela prova de vida em pleno “funeral”. O mais longo e participado de que há memória, julgo eu, na blogosfera lusa.

morto vivo.gif
Só que, vendo a coisa de fora, aquilo deixa uma sensação algo desconfortável. Reparem: trata-se de um blogue magnífico que se tornou no mais comentado de sempre no Weblog, mesmo antes do seu epílogo com contornos de alucinação colectiva. Um dia a autora deixou de postar. Alguém disse que ela morreu. A malta debateu o assunto até ao osso.
E depois deixaram-se ficar na palheta, pois a capela virtual parece climatizada e confortável.
Desculpem-me a estupefacção, mas se a Joana morreu há algo de esquisito na sobrevivência tão activa do Semiramis. Ou pelo menos algo digno de ser apreciado à luz de algum critério que me escapa. Eu vejo a coisa da seguinte forma: se a autora morreu, o seu blogue transformou-se numa sala de velório à americana onde só faltam uns salgadinhos e umas bebidas para a malta de passagem não engolir em seco perante tudo aquilo que lê.

Para entenderem a razão da minha perspectiva perturbada, vejam a coisa no seguinte prisma: há milhares de blogues em constante actualização, alguns (a esmagadora maioria) às moscas em matéria de comentários. E a malta decide abancar num espaço que parou no tempo?
Mais ainda, a blogosfera é feita por pessoas. Se alguém morresse e deixassem o cadáver em decomposição ao longo de meses na casa mortuária achariam isso normal?
É isto que me faz sentir que há uma forma qualquer de demência que se instala no comportamento das pessoas (nomeadamente na alteração à sua escala de valores) quando integradas nesta comunidade virtual.
E já bastaria a proliferação de conflitos e de desaguisados estapafúrdios entre cromos que em condições normais poderiam até ser bons amigos lá fora. Eu já protagonizei alguns desses episódios sem nexo…

Confesso que só me ocorre, ao visitar o Semiramis (onde pelo menos aconteceu a morte “cerebral” do blogue e da autora), a imagem do tal velório que a malta converteu numa casa do povo onde às tantas já ninguém se lembra de onde está e de como tudo aquilo teve origem, não havendo uma alma caridosa que se condoa quando contempla o caixão ao ponto de sentir o impulso irreprimível de lhe fechar a tampa.

Ou, pelo menos, de desligar piedosamente a máquina que lhe anima a respiração artificial.

velorio iluminado.gif

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