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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

18
Mai06

A POSTA OBSESSIVA

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Um dos fenómenos que mais me intimidam de entre as aberrações directa ou indirectamente ligadas ao amor é a obsessão. Venha de onde vier.
A evolução de um afecto obsessivo raramente não degenera em comportamentos bizarros, agressivos até. Como se a fixação de alguém noutra pessoa representasse a paixão na sua forma mais negra, o lado obscuro do apego em demasia.

Um dos primeiros obstáculos naturais com que o obcecado de qualquer género se depara é a normal desproporção entre o seu alegado amor e respectivas manifestações e o grau de estima da pessoa “seleccionada”. Muitas vezes, essa variante perigosa e tão facilmente confundível com algo de bom exacerba o instinto de posse absurdo e o ciúme ilegítimo, conduzindo a desfechos imprevisíveis e dignos de episódios de loucura temporária.

As obsessões entranham-se em quem as vive como cancros cujas metástases parecem concentrar-se no cérebro, em pleno centro nevrálgico das emoções. Alguns chegam a delirar, inventando falsos passados e promessas de futuro que não passam de contratos virtuais estabelecidos com a própria imaginação à luz de uma expectativa qualquer. Recriam falsas memórias, sublimam sensações nunca experimentadas, cultivam uma realidade paralela em torno de um holograma (normalmente obtido a partir de escassos momentos de contacto pessoal, ou até com base em fotografias do seu alvo de eleição).

Inofensivos, alguns, também os existem particularmente ameaçadores. Por norma, os que entendem a "amada" ou o "amado" como algo de seu. Encaram tudo quanto mexe como uma ameaça a esse “poder” e reagem de forma hostil. Sem limites nas consequências quando algo lhes mata a esperança que não se permitem perder.
Contudo, não seriam necessários esses casos (felizmente) excepcionais para se concluir que nenhuma forma de obsessão é positiva quando aplicada ao amor. Trata-se de uma combinação contra natura, um erro de casting emocional.

Os obsessivos, e falo delas como deles, constituem para mim um perigo latente e sempre que o instinto ou outra forma de percepção me alertam para tal hipótese coloco-me de imediato em modo sentinela. E não me deixo levar por condutas ou perfis aparentemente serenos, pois não existe um meio de avaliar o impacto de uma fixação obsessiva nas reacções descontroladas de quem a nutre por alguém.
No que concerne ao amor e à paixão, só o saudável é aceitável e normal. Tudo o resto constitui uma tremenda incógnita e a história regista os inúmeros exemplos dramáticos para quem não levou a sério determinados sinais.

O obsessivo inteligente raramente se deixa trair pelo excesso visível, controla as emoções e age sob uma camuflagem bem preparada. É um falso amigo ou um vizinho dos que inspiram confiança, difícil de detectar nas suas deambulações esquizofrénicas pelo conto de fadas que a sua cabeça lhe transmitiu.
Até ao dia em que não resiste ao impulso ou os factos lhe fazem desabar o castelo de areia, despoletando uma surpresa desagradável aos visados que tenham o azar de se verem figurantes ou protagonistas da sua fantasia tão real.

Detesto saber-me desprevenido e já me assumi desconfiado, ou mesmo um tudo nada paranóico, pela obsessão (ah pois, todos temos uma…) com a minha segurança e a dos que me são próximos. Poucas vezes me distraio, empenhado que estou em evitar dissabores por essa porta aberta ao desconhecido.

Mas nesta matéria em particular nunca me presto a desatenções.

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