Ou porque a malta anda amofinada nos casulos individuais, ou porque o que tá a dar é receber ou porque um gajo não é merecedor, não é fácil sermos alvo daqueles pequenos gestos que fazem toda a diferença.
Mimos, coisas pequenas que nos caem bem, pelo significado.
Na lufa-lufa quotidiana uma pessoa nem repara nestes instantes que já poucos protagonizam.
Exagerando, é como quando um cão vadio (não se aplica a mim, pois ando arredado da vadiagem) recebe uma festinha no pelo de um transeunte qualquer, em vez da biqueirada costumeira para o afastar da porta do talho. De repente, e em circunstâncias que até justificavam mais o tratamento a pontapé, fui alvo de um gesto bonito de uma pessoa igual ao gesto em causa.
Vou poupar-vos aos pormenores, pois qualquer leitor(a) boceja perante estas frivolidades corriqueiras e lamechas.
Estava um griso do caraças. Eu tinha acabado de exibir outra das minhas indignidades pontuais. Ela apareceu com um agasalho propriamente dito (que já agasalha muito a sua proximidade) e entregou-mo com um sorriso conciliador, genuíno. E um brilho lindo nos olhos.
Confesso que aqueci. Na hora, antes mesmo de vestir a peça de indumentária com mangas pelos meus cotovelos. Todo derretido pela espontaneidade com que o apreço se sobrepôs à fúria devastadora da leoa, generosa no impulso, traída pelo coração.
Eu sou daqueles gajos que acreditam que as pessoas revelam-se nestes pormenores de nada, surgidos contra a corrente e por isso ainda mais representativos do valor intrínseco da outra pessoa e da nossa cotação na sua escala. Quando menos se espera.
Ainda estou quentinho à custa desta atenção que mereci da parte de alguém que já me provou, em inúmeras circunstâncias, porque sou um homem de sorte em privar com uma pessoa assim.
Não digo de quem se trata.
(Mas tu sabes. E isso basta)