02
Mai06
LA POSTA EN LA PAZ
shark
A capital da Bolívia é uma das mais faladas do mundo inteiro neste dia. Confesso que também fui apanhado de surpresa pela nacionalização das petrolíferas naquela nação da América Latina. Por dois motivos. Porque é raro um político honrar compromissos eleitorais desta dimensão, sendo até uma promessa de não cumprimento fácil de despejar nas costas de terceiros. E porque é um dos berros de esquerda mais estridentes que aquela zona do planeta conheceu nas últimas décadas.
Por princípio nem simpatizo por ai além com o conceito de nacionalização, na minha esquerda bastarda, excepto em circunstâncias no mínimo muito dramáticas para qualquer país. Parece ser o caso, considerando o nível de pobreza boliviano. Contudo, o precedente reaberto por el presidiente é uma exibição de força que deixa no ar o espírito do Simon que deu o nome ao país e do Che que o queria libertar da opressão capitalista (isto é linguagem da esquerdalha pura, para compensar aquela das nacionalizações).
Na prática, e depois de o México ter apelado a um boicote ao seu gigante vizinho do norte, de Chavez ter chamado os borrachos pelos nomes e de Castro sobreviver a um trambolhão, é Bush quem começa a ver-se isolado aos poucos na vizinhança.
Só Lula não respondeu ao toque a reunir, a braços com o desencanto interno da sua governação. E agora, com a Petrobrás à cabeça das empresas agora nacionalizadas, terá que assumir-se advogado do diabo (o diabo é a esquerda a quem não dão jeito as nacionalizações que lhes toquem a algibeira) e iniciar conversações a pedir batatinhas em nome do grande capital.
É um cenário cada vez mais complicado a desenhar-se nas barbas do tio Sam, pelos vistos demasiado empenhado noutros cantos do planeta e sem tempo ou recursos para estimular umas golpadas militares, ao bom velho latin american style.
Eu sou do tempo em que os gajos que mandavam naquela zona eram todos uns generais ou coronéis com mau aspecto e um bigodinho à matador. E agora só vejo tipos com uma pinta que não lembra, cheios de estrica para darem cabo da mona aos serviços secretos americanos com as suas FIDELidades descaradas.
Gosto mais destes últimos, admito. Fazem parte do meu imaginário da infância, quando ouvia o tango dos barbudos e uma cuba livre ainda não me sugeria de imediato um copo de rum com coca-cola.