Exercício 1 - Para além de ser um infeliz, o Sr. Manuel Serrão é um crápula da pior espécie e alguém devia criar uma lei que proibisse aos crápulas de qualquer espécie o articulismo obsceno na imprensa portuguesa. Nem que seja por uma questão de higiene pública. Exercício 2 - As mulheres não são uma etnia. Por todos os deuses do número, as mulheres não são uma minoria. E todos os homens de sã masculinidade sabem que as mulheres não precisam de ajuda. As mulheres valem-se. As mulheres não carecem de préstimos insuflados e justificações de coxa estatística para seguirem a carreira da política. As mulheres não são maioritárias na política como não são minoritárias nas maternidades. As mulheres têm competências!No parlamento do charco é fifty-fifty...Os dois exercícios acima fazem parte de um conjunto que retirei, com a devida (mas cautelosa) vénia ao meu amigo e colega blogueiro
Paulo Hasse Paixão.
Se no primeiro fiquei impressionado pela frontalidade com que o Paulo chama os bois pelos nomes (algo que às vezes uma pessoa reprime a custo), no segundo encontrei uma pista para o debate, que julgo necessário, acerca desta deplorável (por existirem justificações para a mesma) questão das quotas femininas na política.
Apesar das diferenças ideológicas que nos colocam nos antípodas do espectro político-partidário, eu e o Paulo partilhamos o desenquadramento relativamente a muitos dogmas das nossas correntes.
Daí, nem sempre alinhamos posições com a versão oficial emanada das cartilhas que nos impingem como baseadas em algo que não os interesses imediatos de quem as congemina.
Nesta questão das quotas hesito. Porque se é verdade (quase) tudo quanto o Paulo afirma quando aplicado aos grandes núcleos urbanos, basta considerarmos o interior e as pequenas localidades para que o filme seja outro, bem diferente. E as leis são para aplicar à totalidade de um país onde grassa um nível heterogéneo de evolução de mentalidades.
Por outro lado, a questão da maternidade não é irrelevante na criação de desequilíbrios na paridade. E isso não se manifesta apenas na política. Qualquer conselho de administração de grandes empresas em Portugal terá uma, talvez duas mulheres na sua composição. Ou mesmo nenhuma. Carreira e família são incompatíveis porque, bem ou mal, são as mulheres quem assume por regra a responsabilidade pela gestão da família, em quase todas as vertentes que a compõem.
Na hora de seleccionar os nomes para os cargos, muitas mulheres capazes e interessadas estão de volta dos tachos, dos filhos ou de homens de merda que as atrofiam na sua (verdadeira) condição. Mal servem para tapar os buracos nas listas depois de esgotados os candidatos preferenciais, pelo simples facto de nem se colocar tal questão em muitos meios menos liberais e académicos.
Se é inegável que o processo de transformação desta realidade é irreversível, não é menos verdade que em muitos domínios tudo acontece a passo de caracol. E não se pode desperdiçar nem mais uma geração de mulheres capazes.
Só por isso hesito em apontar o dedo ao princípio em causa, o que se viola, com esta imposição de xis ou ípsilon fêmeas para enfeitar os poleiros dos seus companheiros de luta. Porque é óbvio que se o mérito deve entrar nos critérios, garantindo a igualdade de oportunidades em teoria, esse argumento tomba diante da verdade dos números e da falta de mérito que a realidade actual traduziria, se assumida com esses contornos.
Eu não acredito nas diferenças de capacidade entre géneros, tal como desconfio que a generalidade dos machos lusitanos desta nação semi-neanderthal abdique da sua Maria no estendal para a deixarem ir à reunião da assembleia de freguesia.
Por isso, inclino-me mais para engolir o sapo da equiparação à bruta do que para gregoriar perante o nível dos cavalheiros que vão trepando na hierarquia à conta destas deformações culturais e muito efectivas e pragmáticas no condicionamento do acesso das mulheres à vida política activa.
Mas agora falta uma lei que obrigue os machos da espécie a aprenderem a executar as tarefas que elas deixarão de cumprir.
E a perceberem porquê.