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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

27
Abr06

COM AS LETRAS TODAS

shark
aeiou.bmp
Dezassete dias depois, o AEIOU ainda não respondeu à primeira e única solicitação que lhes fiz. Sou um cliente dos que pagam pelo espaço ocupado, o que me deveria garantir o obséquio de uma resposta em prazo razoável a um pedido muito simples.
Apesar de – e que isso fique bem claro - este blogue não ser um blogue colectivo (é o meu espaço e partilho-o com quem me apetecer, embora responda apenas pelo que eu próprio escrevo e afirmo e nunca pelo que a Mar ou qualquer outra pessoa aqui publique), solicitei aos novos proprietários do Weblog que fornecessem uma password distinta para a autora a quem abri as portas do charco (precisamente para que, cada macaco no seu galho, nunca existissem dúvidas acerca da autoria do que aqui se divulga e para legitimar e garantir a autonomia de cada autor/a).

Dezassete dias depois, continuo sem uma resposta à minha solicitação. Este indicador, somado à ausência de qualquer menção no site do AEIOU à comunidade que representamos (nem mesmo nos “links essenciais” da homepage deles), evidencia a falta que o Paulo Querido faz e fará na gestão corrente das miudezas do Weblog.
Não há espaço de manobra para benefícios da dúvida, nem mesmo após as duas intervenções da nossa “gestora dedicada” no espaço do Weblog.
No abecedário dos novos donos não existe uma letra que nos ligue a quem parece ter comprado para deixar cair.

Quem não está bem muda-se. Quanto a isso, nada a obstar e tenho na minha mão esse recurso no momento da renovação contratual (até já preparei um espaço alternativo no Blogger). Mas estava bem e ambicionava ficar melhor. Os sinais indicam o sentido contrário e sente-se o desconforto de quem vê ressurgirem as macacoas no funcionamento da plataforma e não sente do “outro lado” a mesma disponibilidade para o contacto a que, mal ou bem, estamos habituados neste grupo de centenas que movimentam milhares.
O silêncio da nossa parte será interpretado como uma anuência a este estado de coisas e ninguém conte com o Sharkinho para alinhar de forma passiva perante as realidades que acima enunciei.

Senhores responsáveis pelo AEIOU: a minha voz dissonante não é um caso isolado e está na hora de levarem mais a sério o esforço de quem criou e de quem mantém viva esta virtualidade bem real que adquiriram.
Agradeço a vossa atenção e fico a aguardar a resposta em falta.

Actualização: como podem constatar na caixa de comentários desta posta, já existe uma explicação para a ausência de uma resposta (provável extravio do email) e a Cátia Pitrez está em contacto connosco para resolver o problema.
Pode ser que ultrapassados os problemas de comunicação as coisas se componham...
26
Abr06

DIA NEGRO

shark
bocarras perigosas.JPGFoto: sharkinho
Foi o pior momento da história recente do planeta em termos ambientais. De repente, um reactor nuclear decidiu atraiçoar a fé da Humanidade numa energia alternativa ao petróleo em extinção. Explodiu, sem motivo aparente que não a inadequada manutenção e eventual falha humana na resposta à situação de emergência, e envenenou tudo em seu redor.
Ou pelo menos tentou, embora a Natureza tenha sabido reagir ao ataque vil e insidioso da cicuta em forma de radiação.

As pessoas não. Muitas morreram na altura e outras ainda hoje pagam o preço dessa traição energética que alertou o mundo para a condição decrépita das instalações nucleares naquela zona do globo.
A proliferação de centrais nucleares, de que o nosso país está, felizmente, a salvo nesta altura, deixa no ar o temor pelos efeitos nefastos que podem resultar de uma desatenção ou do excesso de confiança nos mecanismos de controlo destas bombas-relógio que, para mal dos nossos pecados, constituem um mal necessário em função da escassez de alternativas realistas para a bronca que se prepara à medida em que se esgotam as reservas petrolíferas.

O disparo do preço do petróleo, aparentemente incontrolável, empurrará ainda mais as nações dependentes do ouro negro para a solução nuclear e continuarão a multiplicar-se estes infernos potenciais na paisagem.
Contudo, crescem de tom as vozes dos que receiam a insistência nesta opção, nomeadamente os ambientalistas, precisamente pelo rasto cancerígeno deixado pela tragédia que Chernobyl conheceu.

Esta data ficará marcada na História como um dos momentos mais tenebrosos que o progresso tecnológico nos exibiu. Não há bela sem senão e se é verdade que nada antes fazia prever esta traição por parte de uma central nuclear (pelos apertados esquemas de segurança que as rodeiam), não é menos verdade que um pouco mais de atenção aos sinais de alerta poderia ter evitado o pior.

Temos que acreditar que ficou aprendida a lição em definitivo e que nenhuma nova oportunidade será concedida a estes reactores de sobreaquecimento fácil.
E de torcer para que continuem bem longe de Portugal essas ameaças latentes cujas bocarras venenosas (ver foto) podem a todo o instante semear pelo ar que respiramos o cheiro fétido da morte, do engano fatal que pode constituir este investimento numa fonte de energia que até nos resíduos da sua exploração engloba um risco de proporções inimagináveis.

Porque felizmente existem alternativas para evitar a repetição destas tristes efemérides.
25
Abr06

...

shark
3agesofwoman.jpgAs três idades da mulher, por Gustav Klimt
De quando em quando, volto ao tema. É tão recorrente quanto inevitável. Resultado de pouca apetência para o disfarce, de sermos mais dados à transparência que à performance ficcionada de um nick.
Andamos por aqui, anos a fio, a desfiar contas de rosários que, na vida real, não contamos a qualquer um. Desmascaramo-nos nas palavras que partilhamos com olhos estranhos. Confessamos mágoas e amores e registamos anseios, numa ilusão febril de garantir que perdurarão para a posteridade. A nossa mais a dos milhões que a eles terão acesso.
Despertamos sensações de doce calor nas emoções alheias, fazemos amigos e inimigos virtuais, somos sujeitos a julgamentos de quem acha que nos conhece pelas mostras de carácter que nos lê. E que podem ser tão verdadeiras quanto a marca de uma camisola da contrafacção.
Há de tudo e para todos os gostos, nesta democrática sociedade de classes que decalcamos para aqui.
Não invento uma pessoa fabulosa por detrás do que aqui escrevo, tal como não o faço na realidade analógica que me acolhe os dias. Dá-me gozo ser eu própria a personagem que represento, em qualquer dos casos. Com virtudes e muitos pecados capitais. Nem melhor nem pior do que ninguém. Just me.

Desconfio que sou composta de fraquezas e delas faço a força que me sustém. Encaixo peças de contradições e extremos incompatíveis, que fazem de mim um puzzle muito pouco fácil de entender.
Sou tantas vezes anjo quanto pecadora, padeço de soberba e ira mais vezes do que gostaria mas não tenho inveja de ninguém e a gula, só se fôr de uma refeição com muitas velas e um bom vinho, à mistura com a companhia perfeita. Da avareza nada sei, ocupada que estou em garantir a subsistência e desbaratar o resto nos pequenos prazeres que fazem com que valha a pena viver: uma cerveja gelada numa esplanada com os pés na areia, um fim-de-semana inesquecível num pequeno hotel perdido no cimo do monte, uma tarde de sal na pele e mar no olhar, enroscada em alguém muito especial. Emociono-me, tantas vezes, com a humildade, as crianças, com as Causas. Mas também com um céu rasgado de cores naquele momento em que a noite se espreguiça de mansinho ou uma música que nos desliza pelos sentidos. Noutras ocasiões, sou uma estátua de gelo.
Confesso a preguiça. Opto, sempre que posso, por saborear o remanso das manhãs ou deitar cedo com um (muitos) livro(s) à cabeceira e usufruir do luxo do descanso, sem culpas.
E pratico a luxúria com despudor. Quando me deixo ir, drag around pelo turbilhão de dois corpos em sincronia perfeita. Sempre que dedos de seda me percorrem a curva do pescoço e se quedam esquecidos por entre o meu corpo ou um sussuro morno me sopra os lábios e os cabelos. Em todas as vezes que o brilho de um olhar antecipa o arrepio e um beijo no interior dos pulsos desencadeia uma tormenta.

Vivo pois, vivo e sonho muito, à minha medida, sem complexos ou condicionantes, por muito que mos tentem impôr. E curto à brava observar os outros, descodificar intenções, ler-lhes os olhos, intuir a verdade e honestidade tanto como a fraude.
Dou de barato a maledicência e a dor de corno e faço o que me dá na gana, sempre e quando entendo que o quero fazer. É assim desde que, muito cedo, descobri que não há grilhetas capazes de domar a força de uma vontade. Foi assim que me ensinou quem me pôs no mundo, me abriu os olhos à injustiça, me mostrou o valor de reclamar direitos e cumprir deveres.

É este, hoje, o tributo que lhes presto. O do orgulho em ser como sou.
E é esta, a liberdade que canto neste dia. A minha.

Mar
25
Abr06

...

shark
revolucao outra vez.jpg

Obriguei a vida a libertar-me aos poucos de uma série de grilhões e de empecilhos que me atrofiavam. Essa missão ainda não se completou e acabo por gerir a existência como uma espécie de revolução inacabada. Como aquela que comemoramos, contra a vontade dos que prefeririam a carta branca para impor regras em benefício próprio e de um reduzido séquito de compadres e de serviçais.

Era um puto quando aconteceu o 25 de Abril, sorte minha. Poupei anos em Caxias ou uma vida de merda, clandestino num exílio qualquer. O meu contacto com o cariz bafiento e hediondo do regime fascista (bois pelos nomes, claro) circunscreveu-se à porrada que os professores davam na escola, com o beneplácito do Estado, da Igreja e da família, e a mais meia dúzia de pormenores a que um chavalo dava pouca importância.
Retive o que interessava, dos meus passeios em chaimites e da observação da euforia colectivista que enlouquecia a vizinhança.

Grupos, clubes, comités e associações nasciam por todo o lado porque todos queriam fazer coisas. Todos queriam o seu quinhão da liberdade conquistada e do poder que o povo nunca cheirara, excepto na versão (vam)pidesca que lhe irrompia pela porta de casa em madrugadas de terror.
Coisas a que ninguém dá valor, por soarem ficcionadas. Mas a ficção fazia-se de pessoas perseguidas, torturadas, sem licença para exprimirem os pensamentos que a maioria recalcava no plano secreto dos medos justificados. Coragem do desespero, a que movia algumas pessoas pelo underground das ideias proibidas.

Quem não alinhava (amochava) sentia na pele e na vida as consequências inevitáveis que os bufos ou os senhores inspectores impunham em nome de um ideal doentio, de uma vergonha para qualquer nação civilizada.
Só descobri essas verdades depois, mas julgo que aprendi a lição.
A minha rebeldia, exibida em todos os palcos que pisei, seria certamente a minha perdição no futuro alternativo que a Revolução me poupou. Assim, acabou por constituir o mote para o pouco que dei de mim à luta pela consolidação dos valores que só a liberdade garante.

A minha liberdade não é negociável. Nem aceita passiva a mais pequena limitação, se injustificada. Apenas a disciplina que reconheço necessária para impedir o desgoverno das multidões e a rédea solta para oportunistas, facínoras e medíocres.
Só neste aspecto a democracia me falhou (bom, a lei do aborto e a eleição do Cavaco também me ficaram atravessadas…). Eles andam aí e contornam sem problemas todos os débeis mecanismos de controlo que acabam por lhes legitimar os abusos, quando manipulados com estratagemas que não passam de ratoeiras para quem se veja no meio do caminho dos múltiplos poderes feudais, o caciquismo que abunda em todas as dimensões do quotidiano.

A minha liberdade serve para falar sem mordaças, amar sem reservas, pensar sem espartilhos e escrever sem temer o lápis azul. Sem o papão de uma guerra colonial estapafúrdia (que a minha Pátria é, sempre foi, Portugal mais as ilhas. E Olivença, do ponto de vista do Direito Internacional, enfim…).

Tenho para mim como certa uma existência sem papões mandões que pretendam controlar-me a cabeça e a vontade que ela consegue produzir.

E por isso não esqueço a gratidão devida a quem me ofereceu este dado tão adquirido que até parece eterno.
Não é. A liberdade pode perder-se de muitas formas e na maioria dos casos só percebemos que a perdemos quando batemos com a mona nas grades insidiosas, de aparência inofensiva, que nos cercam cada movimento, cada pensamento, cada manifestação de vontade própria. A ilusão em que nos embebedam enquanto refinam a sua maquinaria instalada na democracia para nos subverterem pela ambição, até cuspirmos veneno de cobras.

A luta continua e eu não deixo cair o chavão.
A nossa velha Revolução anda a precisar de obras.
23
Abr06

...

shark
george clooney e brad pitt.jpgSe os dvd e os download piratas prevalecerem, estes dois podem ter que mudar de vida...
rc-logo.jpg...como parece ter acontecido com o criador desta cena, apesar de muito mais bonito e melhor dotado do que o par anterior.
Mesmo quem, como o Lobo Antunes, afirma que um livro (uma criação) deixa de nos pertencer mal o partilhamos com outras pessoas não deixa de reclamar o seu quinhão na hora de fazer as contas.
O direito de autor não é uma maçada para quem usufrui do que alguém criou. É uma pequena compensação pelo que de bom representa o esforço de quem produz arte ou cultura. É a remuneração pela prestação de um serviço que só alguns conseguem executar com mestria.
É exactamente o que acontece com qualquer trabalho em benefício de terceiros.

Para os blogueiros, a questão do direito do autor faz parte da pasta anárquica em que desenvolvemos os nossos actos de criação virtual. Na ausência de qualquer tipo de legislação séria que nos garanta, no mínimo, que nos peçam licença para divulgarem (ou se apropriarem) dos textos ou das fotos que publicamos, ninguém precisa pedir.
Contudo, e sobretudo nos casos em que o talento de quem faz sobressai, faz pouco sentido que ninguém se sinta disposto a remunerar essa produção (como o faz quando publicada noutro suporte, como um livro ou um jornal) e ainda menos sentido se encontra no desplante com que abarbatam palavras e imagens e lhes chamam suas.

Esqueçam a questão financeira, se vos melindra, e concentrem-se na indignidade subjacente a esta questão. E tomem o parágrafo anterior como uma analogia para o que verdadeiramente está em causa: ninguém gosta de trabalhar de borla e mesmo quem gosta precisa de sustentar a vidinha.
É muito bonita a imagem do criador desprendido, mãos largas, que oferece ao mundo com generosidade o que a sua mente produz. Mas corresponde a um ideal romanceado que não tem lugar nos nossos dias porque o mundo mudou.
Daí, de toda a riqueza que uma obra pode gerar estipulou-se uma pequena parcela para remunerar os seus autores. O resto da compensação é o reconhecimento da autoria, do valor intrínseco, da capacidade de quem fez.
A apropriação indevida desse merecido retorno é a tal (outra) indignidade que o direito de autor evita.

kapabarnabe.jpgPara isto fazer sentido (postar à borla), os livros sobre blogues deveriam ser de distribuição gratuita.
Claro que este critério deveria aplicar-se a alguma blogosfera, embora se adivinhe nesse caso a deserção das enormes audiências que apenas distinguem os muito bons (seja no que for). Mas sobretudo deve aplicar-se aos domínios onde a criação efectivamente gera riqueza, até porque só assim será possível o acesso de muitos talentos a uma carreira e a um modo de vida baseados no conceito da propriedade intelectual. Não é um dogma, é uma questão prática, elementar, de sobrevivência da arte e da cultura numa sociedade onde predomina a tirania do vil metal.
São já poucos os que aceitam dar de si enquanto vegetam na miséria ou numa vida atormentada pelas contas por pagar. Acabam por desistir, ocupam-se num ofício qualquer e um dia descobrem que perderam a vontade de criar em part-time o conteúdo empoeirado das suas atafulhadas gavetas.

Por isso é importante a questão do direito de autor e por isso é determinante exterminar qualquer forma de pirataria. Pelo respeito que nos merece quem possui um dom e pela mesma decência que justifica uma retribuição a cantoneiros, a professores, a escriturários, a todos quantos contribuem de alguma forma para termos uma vida melhor (logo à partida por termos quem saiba e se predisponha a executar essas tarefas).
Os artistas, quaisquer criadores, fazem parte de um aspecto decisivo desses pequenos nadas que nos agradam e nos contrabalançam as perdas por desgaste que um dia normal acarreta.

Apesar de algumas formas de expressão, como a música e o cinema, estarem associadas a muito glamour e a pessoas milionárias, existe um batalhão de anónimos que vive por conta dos postos de trabalho sustentados por essas indústrias. Ou seja, o argumento de que eles tão cheios dele e um gajo tem é que comprar barato para não lhes encher mais o cu não colhe. Se, como acontece no futebol, me insulta o nível de absurdo que atingem as retribuições dos dotados em Hollywood, insulta-me de igual forma assistir à agonia das editoras discográficas que prenuncia idêntico destino para as distribuidoras de cinema que a net e o suporte DVD ameaçam.
Muita gente, técnicos de imagem e de som, tradutores, motoristas, carpinteiros, vivem das receitas legítimas que são geradas por este fenómeno global.

O mesmo acontece no âmbito da Literatura e de outras formas de expressão cultural e artística, igualmente ameaçadas se o direito de autor for questionado ou pirateado de alguma forma.

O plágio, como a cassette pirata ou outra roubalheira qualquer, constituem faces da mesma realidade com perna de pau.
Constituem as ameaças dos corsários da actualidade nas suas navegações marginais pelos pântanos da baixeza de carácter e da mediocridade em pechinchas.

capitao gancho.JPGVInde a mim, criancinhas incautas, quero-vos impingir umas cópiazinhas baratas. (Foto: sharkinho)
23
Abr06

...

shark
livro e luz.JPGFoto: sharkinho
O primeiro livro que li causou-me uma impressão de tal forma marcante que nunca mais o esqueci nessa condição pioneira. Foi o meu primeiro contacto com conceitos horríveis, como a escravatura e o racismo. Mas também foi a primeira vez que tomei conhecimento da densidade que as pessoas revelam, no que de bom e no que de mau as caracteriza, e que me vi forçado a optar por um modelo à medida da minha sensibilidade imberbe da altura.
Chorei a ler. Pela injustiça, pela abnegação, pela dedicação, pelo ódio, por todas as emoções que uma autora condensou naquilo que hoje se comemora.

O primeiro livro que li fala de liberdade e foi escrito por uma mulher. Uma feliz coincidência, se calhar, reunirem-se na frase anterior três dos meus amores mais preciosos. Ou então terei que assumir sem hesitação a influência desse primeiro amor pelas Letras no homem em que me tornei.
Odeio a repressão, a lei do mais forte, a exploração do homem pelo homem. Amo a liberdade e nunca aceitaria que dela me privassem. E adoro as mulheres, porque me atraem como um magneto poderoso e, se calhar, porque foi uma mulher que me ofereceu a primeira experiência, o primeiro mergulho num mundo que nunca mais deixei e que está na origem da minha presença na blogosfera. Porque se escreve e porque se lê.

Harriet Beecher Stowe (por coincidência partilha o apelido com uma das mulheres cuja beleza mais me impressiona, a actriz Madeleine Stowe) foi uma abolicionista cujo trabalho em muito contribuiu para o clima que deu origem à Guerra Civil americana.
Foi uma lutadora, esgrimia as palavras para golpear as consciências dos que toleravam a aberração esclavagista que grassava no seu país.
Os livros como arma, como grito de liberdade, mesmo no acto de quem os escreve para fomentar a sua privação. Porque é preciso ser livre para escrever, sobretudo para combater as correntes que agrilhoam o pensamento livre e a propagação das ideias. E das emoções proibidas.

É essa a dimensão que mais comemoro neste dia, associado a muitos dos melhores momentos que conheci ao longo da minha existência.

E agrada-me que aconteça em pleno mês de Abril.
21
Abr06

...

shark
aultimachance.jpg

A blogosfera duplica de tamanho a cada seis meses. Já existem mais de 35 milhões de blogues e surge um novo espaço a cada segundo que passa. Um por segundo!
Isto implica que a blogosfera está sessenta vezes maior do que há três anos.
Contudo, existe quem defenda que a blogosfera é uma espécie de parente pobre na Internet. E mesmo quem não é apologista dessa teoria acaba por relegar para segundo plano o papel desta comunidade, com a Imprensa (sempre tão ávida de divulgar os sites, esses parentes próximos) à cabeça do silenciador colectivo que olha para os blogues como algo de irrelevante no contexto da net.

No entanto, esta é uma das 50 mil postas publicadas na última hora pelo produtivo grupo que integramos. São números colossais, impossíveis de ignorar sob qualquer perspectiva.
A blogosfera está a tomar conta da Internet e não é uma moda passageira como muitos aventaram.
Ninguém se iluda com o fim de alguns blogues de referência e o de uma infinidade de outros que apenas se viram encerrados pelo processo de selecção natural ou por mero cansaço de quem os fazia acontecer. Isso faz parte do processo de amadurecimento daquele que, no meu modesto entender, constituirá um dos mais poderosos meios de comunicação desta década.

O que fazemos, postar/comentar, é um acto puro de liberdade de expressão. É, se quisermos extremar posições, um baluarte dos valores que a democracia representa. A reacção hostil dos vários poderes é sintomática.
Se nos países onde a repressão faz escola o controlo da blogosfera surge como uma opção inadiável, isso representa o reconhecimento da ameaça que representamos. E ameaçamos contrabalançar a manipulação informativa por parte de quem possui interesses obscuros a defender. A saber: o poder financeiro (que não conseguiu até à data impor-se aqui como noutros suportes virtuais); o poder político (que vê expostas as mazelas sem poder evitar a respectiva divulgação e arrisca ver brotar movimentos pontuais de cidadãos anónimos em torno de causas potencialmente embaraçosas); o poder dos media (dominado pelos dois anteriormente referidos e que tenta atabalhoadamente manter uma relação de amor-ódio com este novo factor na permanente guerra de audiências que anima e conduz a Comunicação Social).

É a reacção da Imprensa que mais me preocupa. Seria natural o nascimento de sinergias entre estas duas formas de comunicar, traduzida até na crescente proliferação de Jornalistas no nosso meio (e de blogueiros/as no deles). Porém, a Imprensa foge da divulgação da blogosfera como o diabo da cruz. Nas televisões insistem em apelidar de “site” os poucos blogues que se vêem obrigados a citar por força do impacto da sua intervenção. Nos jornais, raramente a blogosfera ocupa mais do que um espaço exíguo numa página secundária qualquer.
Esta opção contraria (tenta contrariar) o inevitável: a blogosfera representa, mais do que muitos jornais e apesar de alguns embustes que se produzem no nosso seio (como no deles), um veículo mais credível (e acessível) de informação em muitas áreas do que a Imprensa escrita.

Esta mini teoria da conspiração que se subentende pelas minhas palavras é gerada pelos factos que citei e alimentada por outros sobejamente conhecidos entre nós, episódios pontuais de reproduções jornalísticas sem citação da fonte. E um blogue é (ou pode ser) uma fonte tão legítima como qualquer outra, devendo ser citada nessa condição. Se assim não acontece, à sombra do anonimato que alegadamente nos descredibiliza nesse particular, é porque dá jeito manter discreto este fenómeno que construímos de borla, com a teimosia e a persistência de carolas empenhadas (regra geral) em produzir um trabalho em condições e que justifique o tempo e a atenção que nos são dedicados.

O Charquinho não se engloba sequer nos blogues directamente afectados pelos factos a que fiz referência. É rara a nossa incursão por temas que possam perturbar o dolce dire niente que reina neste país em visível degradação social e económica (o nosso inenarrável parlamento e a aflição bem patente no desnorte da acção governativa são um espelho da gravidade da situação). E somos inexpressivos para a estatística.
Mas a questão de princípio, a Liberdade que esta actividade simboliza, pode a curto prazo ver-se ameaçada pelo esforço conjugado de quem a entende como um mal a combater. Porque esperneamos sem que alguém possa impedir que tal aconteça, porque podemos denunciar o que está mal e opinar acerca de rigorosamente qualquer matéria sem nos expormos aos “castigos” que a sinceridade acarreta noutros meios mais à mão dos poderes.

Não é uma questão menor, vista nestes termos. É uma soma de pequenos indicadores que justificam alguma atenção e suscitam crescente reflexão (organizada) por parte de quem pretenda entender a blogosfera como um pouco mais do que um passatempo inconsequente.
O futuro que nos está reservado em matéria de liberdade de expressão passa seguramente pela protecção dos direitos e pela imposição dos deveres de quem bloga. Se a anarquia e a impunidade não servem os propósitos seja de quem for, os mecanismos de controlo aplicados sem uma discussão séria com a intervenção directa dos visados acabarão por nos condicionar sob um jugo de regras e de punições que desencorajem os mais bem informados e, acima de tudo, os mais afoitos a divulgar o que possa prejudicar os interesses de quem mais ordena.

E num país em vias de bana(na)lização dos maus hábitos, com Abril a definhar aos poucos na sua expressão democrática (mediática?), não é ao povo que me estou a referir.


(Se calhar este texto torna-me elegível como alvo potencial de uma implacável atoarda do nosso Grande-Guru num blogue e/ou num jornal de grande expansão. Do alto destes vinte meses de blogosfera o meu quarto de hora de fama vos contempla)

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