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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

23
Abr06

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shark
george clooney e brad pitt.jpgSe os dvd e os download piratas prevalecerem, estes dois podem ter que mudar de vida...
rc-logo.jpg...como parece ter acontecido com o criador desta cena, apesar de muito mais bonito e melhor dotado do que o par anterior.
Mesmo quem, como o Lobo Antunes, afirma que um livro (uma criação) deixa de nos pertencer mal o partilhamos com outras pessoas não deixa de reclamar o seu quinhão na hora de fazer as contas.
O direito de autor não é uma maçada para quem usufrui do que alguém criou. É uma pequena compensação pelo que de bom representa o esforço de quem produz arte ou cultura. É a remuneração pela prestação de um serviço que só alguns conseguem executar com mestria.
É exactamente o que acontece com qualquer trabalho em benefício de terceiros.

Para os blogueiros, a questão do direito do autor faz parte da pasta anárquica em que desenvolvemos os nossos actos de criação virtual. Na ausência de qualquer tipo de legislação séria que nos garanta, no mínimo, que nos peçam licença para divulgarem (ou se apropriarem) dos textos ou das fotos que publicamos, ninguém precisa pedir.
Contudo, e sobretudo nos casos em que o talento de quem faz sobressai, faz pouco sentido que ninguém se sinta disposto a remunerar essa produção (como o faz quando publicada noutro suporte, como um livro ou um jornal) e ainda menos sentido se encontra no desplante com que abarbatam palavras e imagens e lhes chamam suas.

Esqueçam a questão financeira, se vos melindra, e concentrem-se na indignidade subjacente a esta questão. E tomem o parágrafo anterior como uma analogia para o que verdadeiramente está em causa: ninguém gosta de trabalhar de borla e mesmo quem gosta precisa de sustentar a vidinha.
É muito bonita a imagem do criador desprendido, mãos largas, que oferece ao mundo com generosidade o que a sua mente produz. Mas corresponde a um ideal romanceado que não tem lugar nos nossos dias porque o mundo mudou.
Daí, de toda a riqueza que uma obra pode gerar estipulou-se uma pequena parcela para remunerar os seus autores. O resto da compensação é o reconhecimento da autoria, do valor intrínseco, da capacidade de quem fez.
A apropriação indevida desse merecido retorno é a tal (outra) indignidade que o direito de autor evita.

kapabarnabe.jpgPara isto fazer sentido (postar à borla), os livros sobre blogues deveriam ser de distribuição gratuita.
Claro que este critério deveria aplicar-se a alguma blogosfera, embora se adivinhe nesse caso a deserção das enormes audiências que apenas distinguem os muito bons (seja no que for). Mas sobretudo deve aplicar-se aos domínios onde a criação efectivamente gera riqueza, até porque só assim será possível o acesso de muitos talentos a uma carreira e a um modo de vida baseados no conceito da propriedade intelectual. Não é um dogma, é uma questão prática, elementar, de sobrevivência da arte e da cultura numa sociedade onde predomina a tirania do vil metal.
São já poucos os que aceitam dar de si enquanto vegetam na miséria ou numa vida atormentada pelas contas por pagar. Acabam por desistir, ocupam-se num ofício qualquer e um dia descobrem que perderam a vontade de criar em part-time o conteúdo empoeirado das suas atafulhadas gavetas.

Por isso é importante a questão do direito de autor e por isso é determinante exterminar qualquer forma de pirataria. Pelo respeito que nos merece quem possui um dom e pela mesma decência que justifica uma retribuição a cantoneiros, a professores, a escriturários, a todos quantos contribuem de alguma forma para termos uma vida melhor (logo à partida por termos quem saiba e se predisponha a executar essas tarefas).
Os artistas, quaisquer criadores, fazem parte de um aspecto decisivo desses pequenos nadas que nos agradam e nos contrabalançam as perdas por desgaste que um dia normal acarreta.

Apesar de algumas formas de expressão, como a música e o cinema, estarem associadas a muito glamour e a pessoas milionárias, existe um batalhão de anónimos que vive por conta dos postos de trabalho sustentados por essas indústrias. Ou seja, o argumento de que eles tão cheios dele e um gajo tem é que comprar barato para não lhes encher mais o cu não colhe. Se, como acontece no futebol, me insulta o nível de absurdo que atingem as retribuições dos dotados em Hollywood, insulta-me de igual forma assistir à agonia das editoras discográficas que prenuncia idêntico destino para as distribuidoras de cinema que a net e o suporte DVD ameaçam.
Muita gente, técnicos de imagem e de som, tradutores, motoristas, carpinteiros, vivem das receitas legítimas que são geradas por este fenómeno global.

O mesmo acontece no âmbito da Literatura e de outras formas de expressão cultural e artística, igualmente ameaçadas se o direito de autor for questionado ou pirateado de alguma forma.

O plágio, como a cassette pirata ou outra roubalheira qualquer, constituem faces da mesma realidade com perna de pau.
Constituem as ameaças dos corsários da actualidade nas suas navegações marginais pelos pântanos da baixeza de carácter e da mediocridade em pechinchas.

capitao gancho.JPGVInde a mim, criancinhas incautas, quero-vos impingir umas cópiazinhas baratas. (Foto: sharkinho)
23
Abr06

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shark
livro e luz.JPGFoto: sharkinho
O primeiro livro que li causou-me uma impressão de tal forma marcante que nunca mais o esqueci nessa condição pioneira. Foi o meu primeiro contacto com conceitos horríveis, como a escravatura e o racismo. Mas também foi a primeira vez que tomei conhecimento da densidade que as pessoas revelam, no que de bom e no que de mau as caracteriza, e que me vi forçado a optar por um modelo à medida da minha sensibilidade imberbe da altura.
Chorei a ler. Pela injustiça, pela abnegação, pela dedicação, pelo ódio, por todas as emoções que uma autora condensou naquilo que hoje se comemora.

O primeiro livro que li fala de liberdade e foi escrito por uma mulher. Uma feliz coincidência, se calhar, reunirem-se na frase anterior três dos meus amores mais preciosos. Ou então terei que assumir sem hesitação a influência desse primeiro amor pelas Letras no homem em que me tornei.
Odeio a repressão, a lei do mais forte, a exploração do homem pelo homem. Amo a liberdade e nunca aceitaria que dela me privassem. E adoro as mulheres, porque me atraem como um magneto poderoso e, se calhar, porque foi uma mulher que me ofereceu a primeira experiência, o primeiro mergulho num mundo que nunca mais deixei e que está na origem da minha presença na blogosfera. Porque se escreve e porque se lê.

Harriet Beecher Stowe (por coincidência partilha o apelido com uma das mulheres cuja beleza mais me impressiona, a actriz Madeleine Stowe) foi uma abolicionista cujo trabalho em muito contribuiu para o clima que deu origem à Guerra Civil americana.
Foi uma lutadora, esgrimia as palavras para golpear as consciências dos que toleravam a aberração esclavagista que grassava no seu país.
Os livros como arma, como grito de liberdade, mesmo no acto de quem os escreve para fomentar a sua privação. Porque é preciso ser livre para escrever, sobretudo para combater as correntes que agrilhoam o pensamento livre e a propagação das ideias. E das emoções proibidas.

É essa a dimensão que mais comemoro neste dia, associado a muitos dos melhores momentos que conheci ao longo da minha existência.

E agrada-me que aconteça em pleno mês de Abril.

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