17
Abr06
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shark
Foi o aparecimento do Omo que levou as donas de casa a trocarem a velha barra de sabão pelo detergente em pó. Não sou eu quem o afirma, podem confirmar aqui.
Já por diversas vezes demonstrei que não sou fundamentalista, sobretudo em questões acerca das quais não possuo conhecimentos que permitam armar-me ao pingarelho.
Contudo, numa fase da minha vida experimentei o contacto com o mundo alvo dos produtos de limpeza e tive, como todos, que fazer as minhas opções.
Azul e branco era a combinação de cores ideal quando se falava de limpeza na década de 50, quando o Omo começou a surgir nas prateleiras das mercearias. Servia para tudo (até para lavar o cabelo), o sabão universal que só no Clarim (de tom amarelo torrado) encontrava um concorrente menor.
As donas de casa (na altura era só o que havia, pois só na década seguinte no mundo inteiro e quase duas décadas depois em Portugal começaram a surgir os cavalheiros de avental não é um trocadilho maçon) só conheciam o sabão do costume e era nesse que depositavam as suas esperanças para o fim das nódoas difíceis de baton alheio no colarinho das camisas do seu amo e senhor.
Foto: sharkinho
Eram mulheres de hábitos, tradicionalistas, e vergavam-se sobre o tanque de cimento com determinação, firmemente agarradas ao sabão para satisfazerem as suas necessidades primárias na lavagem da roupa suja.
Mas um dia o progresso chegou ao país mais retrógrado do hemisfério ocidental (tirando os parceiros latinos do lado de cá e os eslavos do lado de lá da cortina de ferro que o Omo nunca conseguiu transpor).
Prometia lavar mais branco e cheirava a modernidade no quotidiano bafiento das domésticas-modelo que os fifties cultivavam na terra do tio sam como na do pai António de oliveira.
Além disso, os novos pós de perlimpimpim respeitavam os tecidos delicados (algo que o neaderthal tradicional em barra não distinguia) e assim o sabor da novidade, como a margarina Vaqueiro a que o Último Tango em Paris deu razão, tornava tudo mais apetitoso.
Foto: sharkinho
Aos poucos, os machos portugueses (que pouca atenção prestavam aos objectos decorativos do lar, bem como às funções por estes executadas) deixaram-se ultrapassar pelos acontecimentos. Nem iam às compras nesses dias, pelo que não viam o padeiro nem o merceeiro que lhes aviavam as patroas com os sinais dos novos hábitos de consumo lusitano em pacotes. O Omo, como o Toyota, vinha para ficar e os estendais de Portugal nunca mais voltariam a ser os mesmos.
De resto, o Omo serviu como batedor das diversas marcas que do outro lado do Atlântico aguardavam um enfarte do miocárdio ou um trambolhão da cadeira para penetrarem sem dó o mercado nacional. Americanices começaram a apoderar-se do dia-a-dia das mulheres portuguesas e a concorrência não tardou a fazer-se sentir e até deu origem a uma novela radiofónica.
- I go with the Tide! afirmavam algumas consumidoras atentas ao branco que mais branco não havia e deixavam-se planar nas fantasias que lhes sugeriam as vozes graves e quentes dos actores que davam som aos enredos da telefonia. Depois surgiu o Simplesmente Maria, mas aí já o sabão definhava na memória colectiva das lavadeiras de Portugal.
Mas o que transformou em definitivo os hábitos de consumo das donas de casa pela limpeza moderna (saturadas de esfregar sem sucesso a roupa velha e debotada), marcando o fim do reinado do sabão, acabou por ser o Presto que, alguns anos mais tarde, deixou toda a gente com vontade de experimentar uma lavagem à altura.
E de conhecer um verdadeiro glutão
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Já por diversas vezes demonstrei que não sou fundamentalista, sobretudo em questões acerca das quais não possuo conhecimentos que permitam armar-me ao pingarelho.
Contudo, numa fase da minha vida experimentei o contacto com o mundo alvo dos produtos de limpeza e tive, como todos, que fazer as minhas opções.
Azul e branco era a combinação de cores ideal quando se falava de limpeza na década de 50, quando o Omo começou a surgir nas prateleiras das mercearias. Servia para tudo (até para lavar o cabelo), o sabão universal que só no Clarim (de tom amarelo torrado) encontrava um concorrente menor.
As donas de casa (na altura era só o que havia, pois só na década seguinte no mundo inteiro e quase duas décadas depois em Portugal começaram a surgir os cavalheiros de avental não é um trocadilho maçon) só conheciam o sabão do costume e era nesse que depositavam as suas esperanças para o fim das nódoas difíceis de baton alheio no colarinho das camisas do seu amo e senhor.
Eram mulheres de hábitos, tradicionalistas, e vergavam-se sobre o tanque de cimento com determinação, firmemente agarradas ao sabão para satisfazerem as suas necessidades primárias na lavagem da roupa suja.
Mas um dia o progresso chegou ao país mais retrógrado do hemisfério ocidental (tirando os parceiros latinos do lado de cá e os eslavos do lado de lá da cortina de ferro que o Omo nunca conseguiu transpor).
Prometia lavar mais branco e cheirava a modernidade no quotidiano bafiento das domésticas-modelo que os fifties cultivavam na terra do tio sam como na do pai António de oliveira.
Além disso, os novos pós de perlimpimpim respeitavam os tecidos delicados (algo que o neaderthal tradicional em barra não distinguia) e assim o sabor da novidade, como a margarina Vaqueiro a que o Último Tango em Paris deu razão, tornava tudo mais apetitoso.
Aos poucos, os machos portugueses (que pouca atenção prestavam aos objectos decorativos do lar, bem como às funções por estes executadas) deixaram-se ultrapassar pelos acontecimentos. Nem iam às compras nesses dias, pelo que não viam o padeiro nem o merceeiro que lhes aviavam as patroas com os sinais dos novos hábitos de consumo lusitano em pacotes. O Omo, como o Toyota, vinha para ficar e os estendais de Portugal nunca mais voltariam a ser os mesmos.
De resto, o Omo serviu como batedor das diversas marcas que do outro lado do Atlântico aguardavam um enfarte do miocárdio ou um trambolhão da cadeira para penetrarem sem dó o mercado nacional. Americanices começaram a apoderar-se do dia-a-dia das mulheres portuguesas e a concorrência não tardou a fazer-se sentir e até deu origem a uma novela radiofónica.
- I go with the Tide! afirmavam algumas consumidoras atentas ao branco que mais branco não havia e deixavam-se planar nas fantasias que lhes sugeriam as vozes graves e quentes dos actores que davam som aos enredos da telefonia. Depois surgiu o Simplesmente Maria, mas aí já o sabão definhava na memória colectiva das lavadeiras de Portugal.
Mas o que transformou em definitivo os hábitos de consumo das donas de casa pela limpeza moderna (saturadas de esfregar sem sucesso a roupa velha e debotada), marcando o fim do reinado do sabão, acabou por ser o Presto que, alguns anos mais tarde, deixou toda a gente com vontade de experimentar uma lavagem à altura.
E de conhecer um verdadeiro glutão
