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Abr06
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shark
A gravidade é um conceito muito relativo. É grave atribuir demasiada importância a problemas que o tempo se encarrega de arrumar no devido lugar da escala de impacto nas nossas existências. É quando o problemão se transforma num probleminha, às vezes quase numa anedota para partilhar com os amigos na esplanada.
A gravidade depende não só do contexto como da disposição. E da comparação com outros eventos ou preocupações, os nossos e os dos outros. É a relatividade que se impõe, energia desperdiçada numa matéria sobrevalorizada que noutras circunstâncias nem seria alvo da nossa atenção.
A gravidade da situação reside no quanto nos desvia da felicidade essa tendência para a concentração nas pequenas mariquices do quotidiano. Palermices que nos ameaçam a boa disposição. Mas só mais tarde descobrimos a verdadeira dimensão da asneira que nos consumiu. E que muitas vezes nos afasta do que é prioritário, aquela perseguição da utopia que nos transmite a ilusão de ser feliz.
Para se ser feliz, se calhar bastava nascermos ensinados a substituir o tempo por antecipação, na devida arrumação dos transtornos no armário das memórias das histórias menos agradáveis. Muito mais saudáveis, os dias encarados dessa forma mais ligeira...
Seria mesmo à maneira, para evitar a gravidade da distracção que nos provocam tantos desgostos supérfluos acrescentados sem razão às cicatrizes desnecessárias das lágrimas vertidas em vão. Ou os gritos de arrelia a destruírem a alegria que só as coisas verdadeiramente importantes nos dão.
A gravidade é relativa. Atrai-nos de forma depressiva da alegria de um voo no céu para a tristeza ao nível do chão.
Quase sempre sem razão, agarramo-nos aos problemas de forma indiscriminada (mesmo aos que ainda estão para vir).
Quando afinal, na maioria dos casos, o melhor é mesmo deixar cair...