13
Abr06
...
shark

No silêncio encontro as respostas. Pelas perguntas que a ausência suscita, pelas coisas que explica o consentimento de quem cala. Permito-me especular quando me falta a explicação devida para os mistérios e as contradições. O sentido que preciso encontrar para aplacar o desassossego instilado pela tendência paranóica que me empurra para as dúvidas (des)necessárias e para os esclarecimentos necessariamente perturbadores. É esse o motor da suspeita, o temor da falsidade que a desconfiança inventa. Ou acelera na revelação das verdades que preferiríamos nem conhecer.
No silêncio da omissão, a manobra de diversão, escondem-se os fantasmas do engano, os esqueletos no armário que expostos à luz do dia convertem em adversário o aliado que antes merecia a confiança que a escuridão do segredo proporciona.
Jardins secretos onde se ocultam na vegetação as informações prejudiciais à imagem que se pretende pintar.
No silêncio da negligência, a medida da importância que alguém nos atribui, camuflam-se as perdas em consequência do fenómeno de erosão. Morre a vontade de comunicar quando se extingue a necessidade de uma efectiva proximidade que apenas se cultiva por tradição.
No silêncio da ressaca de um momento constrangedor, um episódio desolador que desmotiva o contacto, obliteram-se as hipóteses de uma reconciliação fundamentada. A conversa adiada é um sintoma de desinteresse, um problema que carece de algo mais para se resolver. Deitar tudo a perder pela falta de comunicação, uma óbvia solução de recurso para criar a distância intransponível alimentada pela interrogação deixada no ar.
Mas no silêncio encontro igualmente a paz, poupado às agressões dos sons que me desiludem, das coisas que me dizem de propósito para testar o cabedal que invoco nas arremetidas de fanfarrão. Fico sossegado assim, fechado em mim, isolado do exterior.
Exilado, solitário nas cogitações, na frágil redoma que poupa aos de fora o dispensável calvário das minhas limitações.