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Abr06
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shark

Ele há dias em que não acerto uma. São dias interessantes, ao longo dos quais vou aprendendo diversas lições de vida à bruta. Conclusões que se extraem das reacções das outras pessoas. Falsos pressupostos desconjuntados, desabados sobre as certezas como entulho de raciocínios no vazio.
Mas um gajo retém aquilo que interessa, sobretudo a mudança nas atitudes e nas preocupações (que variam, como o rumo do vento, ao sabor do pensamento e das emoções que o agitam ou não). E orienta as acções em função das novas correntes que se formam.
É que a malta cresce, amadurece, desenvolve perspectivas consentâneas com a dimensão do presente tal como o aceitam e não com a do passado que rejeitam sem querer, nos pequenos pormenores que escapam (os que me desacertam a pontaria nas intervenções).
E eu cristalizo nas últimas percepções, avanço com um sorriso e arreganham-me a dentuça. A mudança acontecida e uma pessoa distraída a ser como dantes seria.
Aprende-se assim a arte da flexibilidade e da readaptação. Jogo de ancas e golpe de rins, pontapé encaixado no ego amolgado e ecoa no ringue o momento final de outro assalto no difícil combate de lidar com pessoas. Como um camaleão, enxotado enquanto verde e abraçado em tom vermelhão. Isso ou o ar contrariado de quem nos ouve no passado e reage no futuro que o presente nos ilustrou. Confuso, por vezes, mas esgota rápido a paciência de quem não nos tolera um equívoco na forma ou no conteúdo. Uma espécie de Entrudo, todos os dias, mascarado daquilo que os outros são capazes de nos aceitar. Tudo menos os entusiasmos juvenis, a nossa essência, que manda a prudência que resguardemos a euforia. Uma velha mania dos que sonharam algures com um padrão consensual, imutável.
Mas a vida acontece em permanente transformação. Nas pessoas também. E nas suas embirrações, modeladas pelas ligações frágeis que se estabelecem às apalpadelas. Ainda agora era assim. Entretanto mudou. E um gajo esbarrou com a realidade nas ventas, a sério que ainda te apoquentas com merdas assim? Que ganda palerma, não passas de um totó
Recuso-me a aceitar a factura da inconstância, aumento a distância para melhor resguardar um mínimo de convicção. Baralham-me as alterações sucessivas, as atenções obsessivas convertidas por milagre em factores sem relevância alguma. Perturba-me nunca saber como agir bem, perseguir sem sucesso a melhor actuação. Mas acabo por aceitar as regras impostas, desabafo nas postas e calibro melhor a arma social. Esgrimo então os argumentos que servem os propósitos da minha integração, que se lixe, ou espreito pela mira de uma espingarda de brincar e apenas digo pum. Ou solto mesmo um, nas melhores instalações sanitárias, enquanto cogito acerca do sentido da vida e da importância que a gente lhes dá. Aos outros, que nos aceitam apenas nas ondas serenas da aparente perfeição, nos intervalos da sua irritação abafada.
Pecado sem perdão, errado quem não sabe a resposta à pergunta que ninguém ousa fazer. E a gente a aprender, à nossa custa e à dos outros também. Lealdade incondicional que um dia vira fatal, como o destino. Aos berros na nossa cabeça, os estandartes da revolução que sempre acaba por acontecer na nossa percepção das coisas, vista do lado de quem as aprecia. Maturidade ou calo no cu. Não sei bem
Mas nunca falto às aulas. The truth is out there.